Nas últimas, décadas vários estudos envolvendo a suplementação de ômega-3 (ácido docosahexaenóico -DHA) durante a gestação foram publicados, sendo evidente para os obstetras a importância dele nesse período da vida das mulheres.
Em abril de 2021 foi publicado um artigo na EClinicalMedicine da revista Elsvier sobre a suplementação de ômega-3 em altas doses e o nascimento pré-termo, algo que preocupa muito obstetras e pediatras. Segundo Bittar (2018), a prematuridade está associada a mais de 70% da morbidade e mortalidade neonatal e infantil. Sendo um problema de saúde pública, é necessário desenvolver estudos e colocar em prática ações que diminuam a incidência de trabalho de parto prematuro.
Suplementação de ômega-3 em altas doses e o artigo
O artigo em questão é um ensaio clínico multicêntrico, randomizado, duplo-cego e, por ter um desenho adaptativo, é dinâmico. As 1.100 gestantes selecionadas para essa pesquisa foram atendidas em três dos maiores centros médicos dos Estados Unidos (University of Kansas, Ohio State University e University of Cincinnati). Todas as gestantes apresentavam gestação única. O objetivo do estudo é comparar a dosagem de ômega-3 de 200 mg/dia, recomendada por alguns artigos, com a dose de 1000 mg/dia, em relação ao trabalho de parto prematuro.
De acordo com Carlson (2021) a suplementação de DHA de 1000 mg/dia diminuiu a incidência de parto antes de 34 semanas. Os autores ressaltam que no estudo não tem grupo placebo, por não ser ético realizar com gestantes.
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Considerações
Mesmo com essa ressalva, o número de gestantes neste estudo é expressivo, além disso, o desenho desse ensaio clínico foi muito bem delineado, nos apresentando um estudo de grande relevância. A orientação final feita pelos autores é de suplementar DHA com altas dosagens sempre que possível, pois existem evidências científicas que mostram o benefício para o binômio em questão.
No Brasil
Até o momento, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomenda a suplementação de DHA para gestantes brasileiras com baixa ingestão do nutriente. Já a ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia) sugere a suplementação de DHA para toda gestante, baseada na dificuldade em se obter o DHA na dieta habitual do brasileiro, sugerindo a dose diária de 200 mg, com base em estudos publicados anteriormente. Mas essa discussão em relação à dosagem adequada de ômega-3 para as gestantes, não teve início agora.
Em 2018 foi publicado uma revisão sistemática na Cochrane sobre o assunto, e já era de conhecimento dos autores a necessidade de suplementar entre 500 e 1000 mg/dia de ômega-3 para as gestantes em todo mundo, devido a carência desse nutriente em nossa alimentação e dos benefícios trazidos para gestante e feto.
Conclusão
Com base no artigo estudado e em outros trazidos nessa discussão, é evidente que a ingestão de DHA pela população mundial não é suficiente. Sendo necessário a suplementação em altas dosagens para evitar desfechos desfavoráveis nas gestantes, como o parto prematuro.
Referências bibliográficas:
- S.E. Carlson et al., Higher dose docosahexaenoic acid supplementation during pregnancy and early preterm birth: A randomised, double-blind, adaptive-design superiority trial, EClinicalMedicine (2021), https://doi.org/10.1016/j.eclinm.2021.100905
- Middleton P, Gomersall JC, Gould JF, Shepherd E, Olsen SF, Makrides M. Omega‐3 fatty acid addition during pregnancy. Cochrane Database of Systematic Reviews 2018, Issue 11. Art. No.: CD003402. doi: 10.1002/14651858.CD003402.pub3.
- Bittar, R. E. (2018). Parto pré-termo. Revista De Medicina, 97(2), 195-207. https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v97i2p195-207
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