A restrição de crescimento afeta de 5% a 10% das gestações, sendo a segunda causa mais comum de mortalidade perinatal. Quanto mais precoce o acometimento, maior a relevância de prejuízo para o desenvolvimento fetal e até para o desenvolvimento global da criança no futuro.
Os estudos realizados até agora comparavam fetos de gestações únicas com e sem restrição de crescimento e seus respectivos desfechos. Entretanto patologias obstétricas outras, fatores genéticos ou parentais poderiam interferir no desenvolvimento desses fetos e a repercussão neurológica futura não ser exclusivamente causada pela restrição de crescimento.
O estudo
Estudo publicado no Lancet Child & Adolescent Health em julho de 2022 acompanhou gestações monocoriônicas diamnióticas na Holanda, no período de 1º de março de 2002 a 31 de dezembro de 2017, onde um dos gêmeos apresentava crescimento discordante do outro. A discordância de tamanhos significativa era o critério de inclusão.
Métodos
Foram acompanhadas 47 gestações gemelares com gêmeos discordantes entre 25 de janeiro de 2021 a 15 de março de 2022. A idade média gestacional no parto foi de 33,9 semanas, com mediana de peso de 1400 g (1111-1875 g) para os gêmeos de menor peso e 2003 g (1600 – 2680 g) para os gêmeos de maior peso. A idade mediana de avaliação de desenvolvimento neuropsicomotor foi de 11 anos (8-13). A mediana da escala de QI das crianças foi de 94 (86-101) para os gêmeos menores e de 100 (92-108) para os gêmeos maiores (p<0,0001).
Na avaliação para desfecho neuropsicomotor foi utilizada escala de resultado composto de neurodesenvolvimento subdividida em comprometimento leve ou severo. Nos quadros leves compostos por prejuízo de neurodesenvolvimento leve, alterações de audição e visão leves ou paralisia cerebral grau 1. Já o grau severo havia comprometimento neurológico severo ou disfunção visual e/ou auditiva severa.
Resultados
Entre os gêmeos menores o comprometimento neurológico leve foi maior do que nos gêmeos maiores (odds ratio de 4,8; IC 95% 1·6–14·1; p=0·0049). Não houve diferença entre os grupos para desfecho neurológico grave.
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Discussões
As conclusões dos pesquisadores são de que é recomendável o acompanhamento a longo prazo, com a inclusão de testes de neurodesenvolvimento, de gêmeos monocoriônicos diamnióticos discordantes. O estudo conclui que essa prática facilita a identificação precoce de crianças em risco.
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