O nosso modelo de assistência pré-natal consiste em consultas mensais no primeiro e segundo trimestre, e com o passar do terceiro trimestre, essas consultas tornam-se quinzenais, semanais, e dependendo da idade gestacional que a gestante chegar, as avaliações são realizadas em dias alternados, para garantir uma boa vitalidade fetal. Isso ocorre pelo grande conhecimento da obstetrícia nos adventos materno-fetais no final da gestação, e ao conhecimento médico de como intervir garantindo um bom desfecho para o binômio em questão. Prova disso, é a diminuição da mortalidade materna e neonatal nas últimas décadas do século passado.
Esse modelo de assistência pré-natal é praticado em grande parte do mundo, inclusive aqui no Brasil. Porém, com o crescimento da medicina fetal e todo conhecimento agregado a obstetrícia proveniente dela, o prof. Dr. Kypros Nicolaides, um dos maiores fetólogos do mundo, propõe a inversão da importância dessas consultas para o primeiro trimestre de gestação, em um artigo escrito em 2011. Apesar de antigo, acredito ser um tema muito importante de se debater entre médicos que prestam assistência a gestantes. Afinal, por aqui quase nada mudou desde 2011. Mas o que a medicina fetal agregou de importante para o Prof. Dr. Kypros Nicolaides sugerir a inversão dessa pirâmide assistencial?
A proposta sobre o pré-natal
Hoje, conseguimos detectar o risco de pré-eclampsia grave e precoce, de crescimento intra-uterino restrito no morfológico de primeiro trimestre. Além de usar medicações para prevenir tais eventos. Também conseguimos fazer diagnóstico de diabetes gestacional logo no início da gestação e iniciar a terapêutica adequada. Inverter a pirâmide de assistência pré-natal, significa trabalhar com medicina preventiva, ao invés de agir quando já temos a doença instalada.
Não podemos esquecer, que através de exames morfológicos, ecocardiogramas fetais, exames laboratoriais e genéticos, podemos detectar síndromes e má formações. De modo, que a família e a equipe médica não sejam pegas de surpresa na hora do nascimento e não preste a melhor assistência ao neonato. Quando a família e a equipe já sabem sobre possíveis síndromes ou alguma má formação em específico, é possível propor uma terapêutica adequada. Podendo esta ser alguma intervenção fetal, como a interrupção da gestação terapêutica ou uma cirurgia fetal. Como também a preparação da equipe neonatal para receber esse neonato da melhor maneira possível, se necessário, planejar o parto em um hospital terciário, com cirurgião pediátrico e uma equipe especializada no caso. Além de podermos oferecer uma assistência psicológica para essa família, para que possa passar esse momento difícil carregando menos traumas.
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Considerações
Para finalizar, gostaria de fazer uma reflexão. Claramente é importante debatermos e pensarmos sobre a inversão da pirâmide assistencial do pré-natal, como proposto pelo Prof. Dr. Kypros Nicolaides. Porém, é preciso adequar isso a nossa realidade, nem sempre nossas pacientes terão instruções suficientes para fazer uma consulta com 20 semanas e depois somente com 37 semanas.
Além disso, cardiologistas fetais e outros fetólogos, questionam que nesse período perdemos a oportunidade de fazer diagnóstico de algumas cardiopatias e de alterações na vitalidade fetal, entre outras patologias obstétricas. Mas chamar a atenção para um pré-natal que foque na medicina preventiva, que dê maior importância para o primeiro trimestre de gestação é importantíssimo na atualidade. Afinal, cada vez mais crescem as terapêuticas fetais e também os recursos neonatais.
Autora
Referências bibliográficas
- Nicolaides KH. A model for a new pyramid of prenatal care based on the 11 to 13 weeks’ assessment. Prenat Diagn. 2011 Jan;31(1):3-6. doi: 10.1002/pd.2685. PMID: 21210474.
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