Uma revisão publicada recentemente no European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology por um grupo de pesquisadores belgas reuniu as últimas evidências sobre o efeito do tabagismo na fertilidade feminina e nos desfechos obstétricos.
Na Europa, em 2019, 14,8% das mulheres com 15 ou mais anos fumavam cigarros diariamente. A taxa variou entre vários países, com a menor porcentagem na Islândia (6,5%) e a maior na Sérvia (24%).
O consumo de tabaco também é prevalente durante a gestação, com uma prevalência estimada de 8,1 % na região europeia. O tabaco, seja através do uso direto ou passivo, é tóxico para o desenvolvimento humano e teratogênico com efeitos adversos globais. Seja qual for a forma como é consumido. O uso de tabaco está associado a consequências significativas a curto e longo prazo tanto para a mãe quanto para a prole, tornando o hábito um importante problema obstétrico e de saúde pública.
Vape
O dispositivo eletrônico conhecido como vape está tornando-se muito comum, principalmente entre os jovens. Atualmente não há estudos sobre o impacto do seu uso sobre desfechos obstétricos ou reprodutivos em humanos; no entanto, estudos em animais demonstraram que à exposição a nicotina vaporizada apresenta potencial dano de defeitos congênitos e alterações de peso ao nascer. Teoricamente, os efeitos da nicotina contida na vaporização devem ser iguais aos do tabagismo convencional. Além disso, foi sugerido que a vaporização afeta negativamente a função ovariana e a receptividade uterina, portanto, o impacto potencial da utilização do cigarro eletrônico na reprodução feminina parece estar presente.
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Tabaco em outras preparações
Além da vaporização, outros tipos de uso de tabaco incluem goma de mascar, rapé, snus e gutka. Estudos do uso de tabaco nessas formas durante a gravidez sugere um efeito negativo nos resultados da gravidez, como parto prematuro, pré-eclâmpsia, baixo peso ao nascer e natimorto.
Efeito do tabagismo durante a gravidez
O tabagismo tem sido relacionado a restrição de crescimento fetal, nascimento prematuro, baixo peso ao nascer, natimorto, síndrome da morte súbita infantil e consequências para o neurodesenvolvimento. Foi demonstrado que fumar pode levar à insuficiência uteroplacentária e descolamento prematuro de placenta.
A nicotina passa livremente através da placenta e as concentrações fetais de nicotina podem ser mais de 15% superiores aos níveis sanguíneos maternos. A exposição à nicotina, mesmo através da vaporização, é um fator de risco para baixo peso ao nascer, parto prematuro e natimorto.
Atualmente, ainda não há protocolos consistentes em relação à vigilância fetal, monitoramento, momento e modo de parto, e acompanhamento pós-parto para mulheres que fumam.
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Mensagem final sobre tabagismo
Os serviços de saúde que trabalham com saúde materno-infantil deveriam se atentar para a prevalência ainda alta do tabagismo e uso de tabaco por mulheres em idade reprodutiva e gestantes.
Todos deveriam se empenhar no combate a esse uso que pode trazer consequências adversas maternas e perinatais. O combate deve contar com educação em saúde, campanhas, rastreio para identificar as mulheres susceptíveis e estratégias comportamentais e farmacológicas para auxiliar na cessação do hábito de fumar.
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