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Ginecologia e Obstetrícia28 novembro 2024

Kisspeptina sérica como biomarcador para detectar aborto espontâneo 

A kisspeptina sérica, conhecida por seu papel crítico na biologia reprodutiva, surgiu como um potencial biomarcador de aborto espontâneo

Um estudo recente publicado na revista Human Fertility explorou a relevância da kisspeptina sérica como biomarcador para prever o risco de aborto espontâneo. A pesquisa, conduzida por meio de uma revisão sistemática e meta-análise, avaliou dados de 12 estudos envolvendo 2.050 participantes. A kisspeptina, um peptídeo essencial para a função reprodutiva, regula o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal e desempenha papel crucial em processos relacionados com implantação e manutenção da gestação, como a invasão trofoblástica e a angiogênese. Durante gestações normais, seus níveis aumentam, refletindo o funcionamento placentário. Por outro lado, níveis reduzidos de kisspeptina estão associados a falhas na função placentária, o que pode levar ao aborto espontâneo. Apesar dessas evidências, sua eficácia como biomarcador clínico ainda não é totalmente esclarecida, devido a variações entre estudos quanto às características populacionais, métodos de análise e momentos de coleta das amostras. 

Metodologia 

A análise incluiu ensaios clínicos randomizados, não randomizados e estudos observacionais que compararam níveis de kisspeptina em gestações normais e abortos. Foram pesquisados bancos de dados como PubMed e Embase até fevereiro de 2024. A metanálise utilizou um modelo de efeitos aleatórios para estimar a diferença média padronizada dos níveis de kisspeptina e avaliar sua precisão diagnóstica por meio da área sob a curva (AUC). Os resultados visaram melhorar a predição de abortos com biomarcadores confiáveis. 

Principais achados: kisspeptina sérica como biomarcador

Os estudos, realizados majoritariamente na Ásia, utilizaram ultrassonografia transvaginal para diagnosticar abortos e mediram os níveis de kisspeptina, principalmente pelo método ELISA. As amostras variaram amplamente em tamanho (4 a 899 participantes), abrangendo gestações naturais e por fertilização in vitro. Sete estudos apresentaram baixo risco de viés, quatro apresentaram risco moderado e um, alto risco. A metodologia variada e as diferenças demográficas enriqueceram a análise, mas também introduziram desafios de heterogeneidade. 

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Os resultados combinados da metanálise revelaram uma diferença média padronizada (SMD) de −2,750 (IC 95%, −4,357 a −1,143) nos níveis de kisspeptina entre mulheres que sofreram aborto e aquelas com gestações normais. Isso indica que, em média, os níveis séricos de kisspeptina são significativamente mais baixos em casos de aborto. Contudo, os estudos apresentaram alta heterogeneidade (I² = 98,7%), sugerindo variações substanciais na magnitude das diferenças de níveis de kisspeptina entre populações e condições de estudo, apesar da tendência geral observada. 

O teste de Egger (p = 0,436) não indicou viés de publicação, e a análise de sensibilidade confirmou a robustez dos resultados. Entre os 12 estudos, seis relataram a acurácia diagnóstica da kisspeptina para aborto espontâneo, medida pela área sob a curva (AUC). A análise combinada de três desses estudos, que forneceram dados completos, revelou uma AUC de 0,903 (IC 95%, 0,860–0,946), indicando alta precisão diagnóstica dos níveis séricos de kisspeptina para identificar o risco de aborto espontâneo.  

Discussão e conclusão 

Os resultados demonstraram uma diferença significativa nos níveis de kisspeptina entre mulheres com aborto e aquelas com gestações viáveis, indicando uma associação entre níveis reduzidos do peptídeo e o aumento do risco de aborto. Além disso, a análise mostrou alta precisão diagnóstica da kisspeptina, reforçando seu potencial como ferramenta discriminatória para prever abortos.  

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O papel biológico da kisspeptina, produzida pela placenta, está relacionado com angiogênese, invasão trofoblástica e receptividade endometrial, essenciais para a manutenção da gravidez. Baixos níveis do peptídeo podem refletir insuficiência placentária precoce, explicando a associação com maior risco de aborto. No entanto, limitações como a heterogeneidade dos estudos e a natureza retrospectiva da maioria das análises destacam a necessidade de estudos prospectivos com metodologias padronizadas. Apesar disso, os achados sugerem que a kisspeptina pode ser uma ferramenta promissora para intervenções precoces em gestações de risco, com potencial clínico significativo a ser explorado em futuras pesquisas.

Autoria

Foto de Ênio Luis Damaso

Ênio Luis Damaso

Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).

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