Intervenção digital versus metformina em mulheres com ovários policísticos 

Um artigo publicado recentemente na revista Journal of International Medical Research por um grupo de autores chineses teve como objetivo avaliar a eficácia de uma intervenção digital baseada no WeChat em comparação ao tratamento com metformina em mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP) e resistência à insulina. 

Considerações teóricas 

Cerca de 10% a 13% das mulheres em idade reprodutiva apresentam diagnóstico de SOP com sua prevalência crescente devido a mudanças ambientais, de estilo de vida e maior conscientização e diagnóstico. A SOP é caracterizada por alterações menstruais, hiperandrogenismo e disfunção ovariana, e cerca de 75% das pacientes apresentam resistência à insulina, tornando sua redução essencial no manejo dos distúrbios endócrinos e metabólicos. Embora intervenções no estilo de vida sejam o tratamento de primeira linha e mostrem benefícios, sua adesão é limitada. Terapias digitais, acessíveis via dispositivos móveis, podem melhorar mudanças comportamentais relacionadas com dieta, exercícios e adesão medicamentosa, além de prever progressão da doença e reduzir sintomas.  

Metodologia 

Trata-se de um ensaio clínico randomizado, prospectivo e realizado em centro único.  

O estudo envolveu 80 mulheres com diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos (SOP) recrutadas entre junho de 2022 e agosto de 2023. As participantes foram distribuídas aleatoriamente em dois grupos: intervenção digital e metformina, com uma razão de 1:1. Critérios de inclusão incluíram idade entre 18 e 45 anos, diagnóstico de SOP pelos critérios de Rotterdam de 2003 e escore HOMA-IR ≥ 1,8. Critérios de exclusão abrangiam condições como disfunções tireoidianas, insuficiência hepática ou renal grave, gravidez, uso de determinados medicamentos nos últimos 3 meses e incapacidade de usar o aplicativo WeChat.  

O grupo de intervenção utilizou um programa digital no WeChat, programa desenvolvido pela clínica local, por 12 semanas, com módulos focados em dieta saudável, exercícios, sono e manejo do estresse, além de registros diários de peso, atividade física e qualidade do sono. O grupo controle recebeu 1.000 mg/dia de metformina e orientações sobre estilo de vida durante consultas presenciais. Ambos os grupos foram monitorados para adesão ao protocolo, e dados foram coletados no início e ao final das 12 semanas. 

Os desfechos primários analisados foram alterações nos níveis de HOMA-IR, enquanto os secundários incluíram mudanças no ciclo menstrual, indicadores metabólicos, composição corporal e saúde mental. Questionários validados avaliaram hábitos alimentares, atividade física, qualidade do sono e saúde mental. Uma análise de covariância foi realizada para comparar os grupos, e os dados foram analisados segundo o princípio da intenção de tratar.  

Principais achados: intervenção digital e síndrome dos ovários policísticos (SOP)

Um total de 72 participantes completou o seguimento (90%), incluindo 35 de 40 (88%) do grupo de intervenção digital e 37 de 40 (93%) do grupo metformina. O modelo de avaliação para resistência à insulina no grupo de intervenção digital apresentou melhora significativa após 12 semanas de tratamento, com uma mudança média de –0,93 (IC 95% –1,64 a –0,23), embora não tenha sido observada diferença estatística entre os grupos (p=0,62). Tanto a intervenção digital quanto o tratamento com metformina melhoraram significativamente a frequência menstrual (intervenção digital: p<0,001; metformina: p<0,001), reduziram o peso corporal (intervenção digital: p<0,001; metformina: p<0,001) e a massa total de gordura (intervenção digital: p<0,001; metformina: p<0,001). 

A intervenção digital apresentou uma vantagem significativa em relação à metformina na melhora da circunferência da cintura (p=0,03), na relação cintura-quadril (p=0,03), na massa total de gordura (p=0,02) e nos níveis de sulfato de desidroepiandrosterona (p=0,02). 

Em termos de segurança, os principais eventos adversos foram sensação de fome no grupo de intervenção digital (2/40, 5%) e eventos gastrointestinais adversos no grupo metformina (12/40, 30%). 

Considerações finais 

Os autores concluíram que seus dados sugerem que a intervenção digital é uma opção de tratamento eficaz para pacientes com síndrome dos ovários policísticos (SOP), com uma eficácia comparável à da metformina, além de poder aliviar os efeitos negativos dos medicamentos e facilitar a adesão eficiente aos tratamentos baseados em mudanças no estilo de vida. Intervenções digitais baseadas no WeChat têm o potencial de oferecer um novo caminho para a melhoria e a saúde de mulheres com SOP na China.