A infecção do trato urinário (ITU) é muito frequente nas mulheres. Fatores anatômicos, gestação entre outros colaboram para essa alta prevalência. As mulheres experimentarão, pelo menos uma vez na vida, os sintomas de infecção urinária. Nos Países Baixos a prevalência é de 103 para cada 1000 mulheres. O uso de nitrofurantoina seguido de fosfomicina tem sido o regime de escolha para tratamento a nível primário. Como terceira linha segue a trimetoprima.
Em março de 2022 o Journal of Global Antimicrobial Resistence publicou os resultados de um encontro de especialistas sobre ITUs não complicadas nas mulheres. A discussão trouxe à tona aspectos como: diagnóstico, tratamento, prevenção, guidelines, RAM (resistência antimicrobiana), desenho de triagem clínica e o impacto da covid na prática clínica.
Diagnóstico da infecção do trato urinário
Os sintomas urinários ainda são o pilar para o diagnóstico da ITU. Apesar de não serem específicos podem guiar, em conjunto com os fatores de risco para o tratamento baseado numa anamnese bem feita. Outros diagnósticos específicos como cistite crônica intersticial, sintomas urogenitais menopausais, bexiga hiperativa ou IST’s podem se assemelhar às ITUs. Sintomas como disúria, urgência miccional e polaciúria são fortes adjuvantes na anamnese para infecção do trato urinário. O diagnóstico diferencial de pielonefrite é fundamental para ser afastado e a presença de febre, dor em flancos, náusea e vômitos são aliados para a pielonefrite.
Urocultura
Todos concordaram que existe necessidade de um teste de identificação do patógeno com suscetibilidade antimicrobiana brevemente e o mais precoce possível poderia auxiliar nas escolhas melhores e prevenir resistência bacteriana. Estão em estudos vários métodos que poderão fornecer esses dados em algumas horas apenas em uma amostra de urina.
Tratamento
Com o objetivo de resolver os sintomas da paciente, todos concordam que com uma boa história, afastadas outras causas e reforçado pelos fatores de risco, o tratamento ainda pode ser empírico sem a urocultura. Entretanto, se a sintomatologia não melhora ao final ou há recorrência até o 3º mês, faz-se necessário coleta de urocultura para identificação do patógeno e antibiograma. Ainda é aceita terapia com uso de nitrofurantoína e fosfomicina como eficazes. Sua tolerabilidade é boa e a história de resistência é baixa. Fundamental é a restrição ao uso indiscriminado de quinolonas para ITUs não complicadas pela criação de alta resistência.
Tratamento sem antibióticos
O uso de outras formas de tratamento não são mutuamente excludentes, assim o uso de analgésicos/antiinflamatórios (ibuprofeno, diclofenaco) podem ser utilizados. Um trial randomizado de 2015 obteve redução dos sintomas no dia 4 usando ibuprofeno em 39% das pacientes e a fosfomicina (ambos exclusivos) obteve remissão em 56%. A atenção deve ser observada pois apesar da melhora, outro trial randomizado semelhante de 4 dias comparou remissão de sintomas com resultados semelhantes (ibuprofeno 39% x pivmecillinam 74%), entretanto sete pacientes do grupo ibuprofeno desenvolveram pielonefrite necessitando internação.
Conclusão
Essa reunião de especialistas, chegando ao final de 4 dias, concluiu que existem alguns pontos fundamentais para serem levantados sobre as infecção do trato urinário:
- O diagnóstico ainda se apoia na clínica (disúria, polaciúria e urgência miccional);
- O tratamento deve ser realizado com drogas de dose única ou doses únicas diárias e pelo menor tempo possível);
- Entendimento sobre o microbioma uretra, vagina e intestino são as peças chave para impactar queda das recidivas;
- Simplificar os guidelines com possibilidade de uso de aplicativos, facilitando acesso e atualização vão garantir quedas da resistência bacteriana;
- Redução imediata da prescrição descontrolada de quinolonas;
- O uso da telemedicina facilitará o acompanhamento desses pacientes para checagem da eficácia terapêutica e abordagem nas falhas, com necessidade de novas intervenções, trocas medicamentosas ou internações.
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