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Ginecologia e Obstetrícia20 julho 2025

Revisão aborda implante subdérmico de etonogestrel em adolescentes

O que especialista precisa saber para um aconselhamento apropriado do implante subdérmico de etonogestrel em adolescentes.
Por Caroline Oliveira

A educação sexual e o acesso a métodos contraceptivos são fundamentais para reduzir os impactos econômicos, sociais e de saúde das gestações não planejadas entre as adolescentes. Apesar dos avanços, as adolescentes ainda enfrentam grandes barreiras no uso e acesso eficaz a todos contraceptivos. Gestações não planejadas nessa faixa etária têm sérias consequências. Nos EUA, estima-se que ocorram 3,9 milhões de abortos inseguros por ano entre meninas de 15 a 19 anos, contribuindo para a mortalidade materna. Na Índia, em 2019, 55% dessas gestações terminaram em aborto. Embora muitas adolescentes usem algum método contraceptivo na primeira relação sexual, o uso de métodos altamente ou moderadamente eficazes é baixo (22,1%), bem abaixo da meta de 36,8% do programa estabelecido pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. Isso demonstra a necessidade de melhorar o uso de contraceptivos eficazes.

Os contraceptivos reversíveis de longa duração (LARCs), como o implante de etonogestrel (ENG), têm sido cada vez mais adotados e são altamente eficazes — até 40 vezes mais do que contraceptivos orais. O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (ACOG), a Academia Americana de Pediatria (AAP), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e a Sociedade de Planejamento Familiar recomendam os LARCs como primeira escolha para adolescentes. Felizmente, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) aprovou a inclusão do implante contraceptivo subdérmico de etonogestrel, o Implanon, na rede pública recentemente.

Em janeiro de 2025, a Clinics and Practice publicou uma revisão narrativa sobre o tema. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica nos principais bancos de dados focada em estudos sobre adolescentes considerando ou já em uso do implante de etonogestrel. Alguns pontos principais estão destacados abaixo.

Mecanismo de Ação

O implante atua principalmente por inibição da ovulação, espessamento do muco cervical, dificultando a entrada de espermatozoides, alterações no endométrio, tornando-o menos receptivo e supressão da secreção de gonadotrofinas, impedindo o amadurecimento folicular.

Possui taxa de eficácia clínica de até 100%, com um Índice de Pearl entre 0 e 1,4. É totalmente reversível e não interfere na fertilidade futura. A duração recomendada é de 3 anos, embora estudos indiquem alta eficácia por até 4 anos.

Apesar de sua eficácia, a aceitação pode ser limitada devido à ocorrência de efeitos colaterais.

Sangramento Uterino Anormal (SUA)

Alterações no padrão menstrual são comuns em usuárias do implante de etonogestrel (ENG). Estudos mostram que adolescentes com idade ≤ 18 anos e índice de massa corporal (IMC) < 20 kg/m² têm maior risco de apresentar sangramentos irregulares ou incômodos, o que pode levar à descontinuação precoce do método.

Esse risco aumentado pode estar relacionado a níveis séricos mais elevados de etonogestrel nessas pacientes. Em indivíduos com menor IMC, a menor quantidade de tecido adiposo e volume sanguíneo pode resultar em menor diluição e maior concentração circulante do hormônio.

Apesar disso, mais de 50% das usuárias mantêm o implante até um ano após a inserção. No estudo de Tsevat et al. (2024), 29% das adolescentes e jovens desenvolveram amenorreia (ausência de menstruação) após um ano de uso, com pacientes obesas apresentando o dobro de chance de desenvolver essa condição.

Peso Corporal e Índice de Massa Corporal (IMC)

Um estudo retrospectivo com 197 adolescentes usando o implante de etonogestrel (ENG) por até 24 meses (Romano et al., 2019) não encontrou aumento significativo de peso ou alterações no IMC em comparação ao grupo controle. No entanto, 6,3% das adolescentes (n = 3) relataram ganho de peso como motivo principal para a retirada precoce do implante.

Outro estudo (Scott et al., 2021) com o mesmo grupo, ao longo de 6 a 18 meses, observou que adolescentes com obesidade apresentaram aumento de IMC três vezes maior do que aquelas com peso normal ou sobrepeso.

O ganho de peso na adolescência é esperado e multifatorial, frequentemente relacionado a mudanças no estilo de vida, como aumento do sedentarismo e maior consumo de alimentos ultraprocessados, contribuindo para o risco de obesidade.

Inserção Incorreta, Quebra e Dobramento do Implante

Embora raras, complicações como inserção muito profunda, quebra ou dobra do implante podem ocorrer. Eles são radiopacos, ou seja, podem ser localizados por radiografias, o que facilita sua identificação em caso de problemas. A quebra do implante pode ocorrer se ele for submetido a forças físicas intensas, como em esportes de contato ou colisões.

Gravidez Durante o Uso de Implantes de ENG

Embora gravidezes ectópicas sejam raras, alguns estudos sugerem que usuárias do implante de etonogestrel (ENG) podem ter maior probabilidade de gravidez ectópica em comparação com mulheres que não usam contracepção. Logo, quando há falha contraceptiva, deve-se considerar a possibilidade de gravidez ectópica, especialmente na presença de sintomas como dor abdominal intensa e sangramento irregular.

Contracepção pós-parto

O uso do implante ENG imediatamente após o parto é considerado aceitável e eficaz para adolescentes. Reduz a chance de gestações com intervalos curtos de tempo e foi observada uma associação positiva entre a inserção do implante pós-parto e taxas significativamente menores de depressão pós-parto.

Dor durante a inserção do implante

A percepção da dor durante a inserção do dispositivo foi estudada em um estudo piloto por Benstianov et al.(2021), que avaliou uma coorte de 30 pacientes adolescentes. O estudo constatou que a dor sentida durante a inserção foi geralmente leve. Entretanto, foram observados níveis moderados de ansiedade pré-procedimento.

Efeitos hormonais sistêmicos

Os efeitos adversos comumente relatados incluem alergias, dor nas mamas, dores de cabeça, distúrbios de humor e percepção de piora de condições crônicas, como náusea e tontura. Outros efeitos podem envolver intolerância a um corpo estranho, desejo de interromper o uso de hormônios ou sentir-se influenciado pela pressão familiar em relação à saúde, contracepção ou escolhas sexuais. Aproximadamente 14% dos usuários relataram piora da acne. Entretanto, menos de 2% dos usuários decidiram interromper o uso do implante devido a esse efeito colateral.

Presença de condições crônicas

As adolescentes com síndrome dos ovários policísticos (SOP) podem considerar o implante ENG não apenas como um método contraceptivo, mas também para proteção endometrial. Os efeitos progestagênicos mantêm um endométrio atrófico, reduzindo os riscos de hiperplasia e apoiando a eficácia do contraceptivo. Embora existam poucos estudos específicos sobre adolescentes com condições crônicas (por exemplo, endometriose, SOP etc.), os dados disponíveis mostram que na população com SOP, a taxa de continuação do implante em 12 meses é de 77%.

Além disso, um estudo realizado com mulheres jovens com diabetes tipo 1 que usavam implantes ENG demonstrou uma redução leve, mas significativa, nos níveis de colesterol total, HDL e triglicérides em comparação com adolescentes com DM1 que usavam contraceptivos orais.

Implante subdérmico de etonogestrel em adolescentes: uma revisão

Mensagem prática: implante subdérmico de etonogestrel em adolescentes

O aconselhamento contraceptivo eficaz é fundamental para garantir que as   adolescentes façam escolhas informadas sobre sua contracepção. É importante que a adolescente tenha discussões abertas com o profissional da saúde sobre as opções disponíveis. Deve-se oferecer as informações detalhadas sobre os benefícios e os efeitos colaterais dos métodos contraceptivos, como os implantes de etonogestrel, e abordar preocupações específicas, como sangramento anormal e taxas de sucesso para que tenha uma decisão compartilhada. A superação de barreiras econômicas e socioculturais é essencial para garantir o acesso equitativo e abrangente a todos os métodos contraceptivos. A incorporação do implante de etonogestrel na rede pública foi um avanço e esperamos que outros métodos também cheguem para que as adolescentes tenham uma possibilidade completa de escolha.

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Referências bibliográficas

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