O 22º World Congress in Fetal Medicine, evento promovido pela Fetal Medicine Foundation em Praga, na República Tcheca, ocorre entre os dias 29 de junho e 3 de julho. O FMF World Congress 2025 conta com especialistas internacionais renomados e jovens pesquisadores apresentando e discutindo os últimos avanços em medicina fetal. Na manhã do dia 29 de junho ocorreu um dos painéis mais aguardados, o foco da sessão foi a espinha bífida, com destaque especial para a mielomeningocele, malformação congênita que tem sido alvo de grandes avanços no manejo intrauterino.
Mielomeningocele
A mielomeningocele é o defeito congênito mais comum do sistema nervoso central, afetando cerca de 1.500 recém-nascidos por ano. Trata-se de uma anomalia caracterizada pela protrusão das meninges, raízes nervosas e medula espinhal através de uma abertura no arco vertebral, o que pode levar à paralisia dos membros inferiores, diferentes graus de comprometimento intelectual, além de disfunções intestinais, geniturinárias e ortopédicas. Tradicionalmente, a correção da mielomeningocele é realizada logo após o nascimento.
Um verdadeiro marco histórico no tratamento dessa condição foi o estudo MOMS – Management of Myelomeningocele Study, publicado em março de 2011 (Adzick NS et al. N Engl J Med. 2011;364(11):993–1004). Esse ensaio clínico randomizado demonstrou que a cirurgia intrauterina pré-natal apresenta melhores resultados em comparação com a correção pós-natal, trazendo novas perspectivas para as famílias que enfrentam essa condição.
Com base nessas evidências, centros especializados ao redor do mundo vêm desenvolvendo técnicas cirúrgicas cada vez mais minimamente invasivas, com foco na redução de complicações maternas e melhora dos desfechos neurológicos neonatais.
Durante o congresso, pesquisadores de diversos países compartilharam experiências clínicas, protocolos cirúrgicos e inovações tecnológicas aplicadas ao tratamento intrauterino da mielomeningocele, com ênfase em abordagens fetoscópicas.
O painel contou com duas participações brasileiras de grande relevância:
- Dra. Denise Lapa, referência em cirurgia fetal, apresentou a técnica SAFER (Skin-over-Approach for Endoscopic Repair), desenvolvida por ela no Brasil. A técnica é realizada por fetoscopia, ou seja, por via endoscópica intrauterina, e utiliza biocelulose como substituto da dura-máter fetal. A SAFER representa uma alternativa inovadora à técnica aberta tradicional, com menor risco para a gestante e resultados promissores para o feto.
- Dr. Sérgio Cavalheiro, neurocirurgião e Professorr Titular da UNIFESP, compartilhou sua experiência. Foi apresentado o procedimento que consiste na retração tubular das fibras circulares do corpo uterino sem excisão da parede uterina. Dispositivos tubulares com diâmetros progressivamente maiores são utilizados para retração, sem corte das fibras musculares uterinas, e um retrator tubular de 25 mm de diâmetro é usado para permitir o fechamento da mielomeningocele com auxílio de endoscopia, utilizando técnicas microcirúrgicas. Finalizou ou sua apresentação afirmando que o procedimento evita a excisão da parede uterina, promove um campo adequado para técnicas microcirúrgicas assistidas por endoscopia e representa, possivelmente, o primeiro passo para futuras correções por single-port com uso de técnicas robóticas.
As apresentações suscitaram discussões técnicas sobre os critérios de elegibilidade, o momento gestacional ideal para a intervenção, as complicações associadas, o seguimento a longo prazo e os desafios éticos e logísticos envolvidos.
O congresso segue até o dia 3 de julho com outras sessões que abordarão anomalias fetais, cirurgia fetal, imagem avançada e medicina personalizada em obstetrícia.
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