Durante o Congresso Mundial de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (WCPGHAN 2024), que aconteceu em Buenos Aires, na Argentina, foi apresentado, na plenária de doença inflamatória intestinal (DII), um estudo que avaliou o impacto da exposição intra-útero a medicamentos biológicos no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) de crianças durante o primeiro ano de vida. Este estudo foi realizado ao longo de cinco anos na Espanha e utilizou um desenho prospectivo e observacional, avaliando gestantes com DII, com monitoramento tanto durante a gravidez quanto ao longo do primeiro ano após o nascimento, com foco nos desfechos de DNPM.
- Desenho do estudo e definições
Dados de prontuário de cerca de 820 mulheres com DII durante a gravidez em 60 centros na Espanha, foram avaliados;
O desenvolvimento neuropsicomotor foi avaliado utilizando um questionário de neurodesenvolvimento;
O foco principal do estudo foi avaliar habilidades motoras, linguagem e comportamento social aos 12 meses.
- População do estudo e exposição
702 mães das 820 inscritas completaram o estudo, com 300 fornecendo dados suficientes.
Entre as crianças, filhas de mães com DII, 38% foram expostas à biológicos, predominantemente adalimumabe e infliximabe, intra-útero.
As mães que receberam biológicos tendiam a ser mais jovens, tinham uma história mais longa da doença e, com mais frequência, tinham doença de Crohn em comparação com colite ulcerativa.
Resultados
- A análise estatística, incluindo fatores multivariados, revelou que nascer de uma mãe com doença de Crohn quase dobrou a probabilidade de alcançar desenvolvimento psicomotor normal.
- A prematuridade correlacionou-se com desenvolvimento psicomotor diminuído, destacando sua importância como fator de risco.
- A exposição intra-útero a biológicos não aumentou independentemente do risco de neurodesenvolvimento prejudicado.
- Partos vaginais eram mais comuns entre os bebês não expostos à biológicos, o que também correlacionou com melhores desfechos em certas circunstâncias.
Conclusão e mensagem prática
O estudo reforça que a exposição intra-útero a medicamentos biológicos para o tratamento de DII não prejudica o DNPM de uma criança durante o primeiro ano de vida. Os dados sugerem que, enquanto o tipo de DII materna, particularmente a doença de Crohn, e fatores como prematuridade são mais influentes, os biológicos permanecem seguros para uso durante a gravidez. Isso apoia as diretrizes médicas atuais para continuar a administração de tratamentos biológicos em mulheres grávidas com DII, garantindo a saúde materna e a segurança fetal. Esses achados fornecem uma tranquilidade crucial para os profissionais de saúde e pacientes, ajudando a guiar decisões informadas sobre o manejo da DII durante a gravidez.
Confira a cobertura completa do WCPGHAN 2024.
Autoria

Jôbert Neves
Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).
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