Efeitos adversos associados ao uso de cigarro eletrônico por gestantes
O tabagismo materno, sem dúvidas, é uma causa relevante e evitável de efeitos adversos na gestação e na saúde do neonato. Sendo já demonstrado em diferentes estudos que esse hábito tem o potencial de aumentar o risco de baixo peso ao nascer, defeitos congênitos, alterações no desenvolvimento pulmonar fetal, além de complicações obstétricas como o …
O tabagismo materno, sem dúvidas, é uma causa relevante e evitável de efeitos adversos na gestação e na saúde do neonato. Sendo já demonstrado em diferentes estudos que esse hábito tem o potencial de aumentar o risco de baixo peso ao nascer, defeitos congênitos, alterações no desenvolvimento pulmonar fetal, além de complicações obstétricas como o parto prematuro e a rotura prematura de membranas ovulares.
Contudo, em relação ao uso do cigarro eletrônico (E-cigarette) tal panorama não é tão nítido, uma vez que nos últimos anos a disseminação dessa prática avançou rapidamente, juntamente com a percepção de que podem conter, além da nicotina, outras possíveis substâncias nocivas como aromatizantes e aditivos. Nesse sentido, um recente trabalho realizado pelo American College of Obstetricians and Gynecologists se empenhou na avaliação de resultados adversos no parto de gestantes que usaram cigarro eletrônico antes e durante a gestação.
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Métodos
Foram analisados dados entre 2016-2018 a partir do Sistema de Monitoramento de Avaliação de Risco de Gravidez (PRAMS) de 37 estados norte-americanos e a cidade de Nova York, sendo constituído de diversos indicadores de saúde materno-infantil, e foi definida como amostra do estudo, mulheres com gravidez única com peso ao nascer ≥ 400 g e com informações sobre hábito de fumar e suas variáveis.
Os principais levantamentos de informações foram sobre a evolução gestacional e do parto, presença de uso concomitante ou não de cigarro eletrônico e cigarro convencional, assim como uso nos 3 meses prévios à gravidez e 3 meses prévios ao término da mesma, estando esses contextos isolados ou não. Assim como a frequência de uso por essas mulheres.
Resultados e Discussão
O total de mulheres incluídas foi de 79.176, sendo que 2,7% relataram usar cigarros eletrônicos nos 3 meses antes da gravidez (mas não durante os últimos 3 meses da gestação) e 1,1% relataram uso nos últimos 3 meses de gravidez, sendo que desse último grupo, 82,2% afirmaram também usar cigarros eletrônicos nos 3 meses antes de engravidar.
Outro dado relevante é que 63,7% dos entrevistados que usaram e-cigarettes nos últimos 3 meses de gravidez também fizeram uso de cigarros convencionais durante a gravidez, porém entre “usuárias duplas”, o uso diário era de 34,5%, menor que as que usaram exclusivamente e-cigarettes, 61,5%.
Não foi percebida diferença estatística significativa na prevalência de parto prematuro (PP), neonato pequeno para idade gestacional (PIG) ou baixo peso ao nascer (BPN) entre as que fizeram uso de cigarro eletrônico nos 3 meses prévios da gravidez e as que não fizeram uso.
Entretanto, naquelas que fizeram uso geral durante a gravidez, foi percebida diferença estatística significativa na prevalência de BPN (razão de prevalência ajustada: 1,33; IC 95% 1,06-1,66), o que não foi encontrado nos contextos de PIG e PP. No mesmo sentido, o uso exclusivo nos últimos 3 meses de gravidez foi associado a uma maior prevalência de parto prematuro (razão de prevalência ajustada 1,69; IC 95% 1,20-2,39) e BPN (razão de prevalência ajustada 1,88; IC 95% 1,38–2,57).
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Algo de destaque é que a prevalência de PP e BPN é significativamente maior quando ocorre uso diário de cigarro eletrônico em comparação com o não uso ( PP: razão de prevalência ajustada 1,94; IC de 95% 1,28–2,93; BPN: razão de prevalência ajustada 2,00; IC 95% 1,34 – 3,00). Porém, quando utilizado não diariamente, não foi observada associação significativa com o desfecho de PP.
Esses resultados sugerem de forma clara que o uso de cigarro eletrônico durante a gravidez, principalmente quando utilizado diariamente, pode influenciar adversamente os resultados do nascimento, com destaque para a maior prevalência de BPN associado com qualquer uso de cigarro eletrônico durante a gravidez, juntamente com maior risco de PP e BPN quando frequência diária.
Dessa forma, é de extrema importância o aconselhamento e apoio no processo de cessação do tabagismo, o que só pode ser alcançado com educação em saúde.
Mensagem prática
Assim como o já observado no tabagismo convencional, não existe dose segura de consumo no contexto dos cigarros eletrônicos. De forma que estudos, como o aqui apresentado, mostram relevantes impactos negativos no parto e também no desenvolvimento fetal, muito associados não só com a presença do hábito, mas também a frequência de consumo.
Essencial estarmos atentos às oportunidades para questionar o uso de cigarro eletrônico e também do tabagismo convencional, com destaque para as consultas de pré-natal e na rotina de atenção integral da saúde feminina. Momentos esses, propícios para identificar o uso e atuar de forma empática no processo de cessação do tabagismo.
Referências bibliográficas:
- Regan AK, Bombard JM, O’Hegarty MM, Smith RA, Tong VT. Adverse Birth Outcomes Associated With Prepregnancy and Prenatal Electronic Cigarette Use. Obstet Gynecol. 2021 Jul 1;138(1):85-94. doi: 10.1097/AOG.0000000000004432.
- Crume T. Tobacco Use During Pregnancy. Clin Obstet Gynecol. 2019 Mar;62(1):128-141. doi: 10.1097/GRF.0000000000000413
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