Efeito da vacina contra HPV na infecção e recorrência após tratamento cirúrgico

Uma revisão recente foi publicada na revista Plos One com objetivo de avaliar o impacto da vacina contra Papilomavírus Humano (HPV) no risco de infecção e recorrência de doenças pré-invasivas relacionadas ao HPV após tratamento cirúrgico local para doenças cervicais, buscando esclarecer a eficácia da vacinação em casos pós-tratamento. 

A vacinação contra o HPV revolucionou a prevenção do câncer cervical, mas não elimina lesões já existentes. Mulheres submetidas à conização para tratar lesões de alto grau (HSIL) estão em alto risco de recorrências e reinfecções, podendo se beneficiar da vacinação adjuvante. Estudos mostram que a vacina induz uma imunidade mais forte que a natural e pode prevenir novas infecções, embora sua eficácia para eliminar infecções existentes ou melhorar o tratamento local seja incerta. Evidências sobre a eficácia da vacinação após conização são conflitantes: alguns estudos apontam redução na recorrência de HSIL, enquanto outros não identificaram benefícios. 

Metodologia 

Trata-se de uma revisão sistemática e metanálise através de uma pesquisa bibliográfica realizada usando PubMed/MEDLINE, Embase, Cochrane Library, Scopus, Web of Science e bioRxiv/medRxiv desde o início até 15 de julho de 2024. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados (ECRs) relatando o efeito da vacinação contra o HPV na infecção pelo HPV e na recorrência da doença relacionada ao HPV após tratamento cirúrgico local versus nenhuma vacinação contra o HPV. O desfecho primário foi o risco de recorrência da lesão intraepitelial escamosa de alto grau cervical (HSIL) após tratamento cirúrgico local, com acompanhamento conforme relatado por estudos individuais. Os estudos incluídos foram avaliados quanto ao risco de viés. Foram calculados os intervalos de risco (RR) e os intervalos de confiança (IC) de 95%. Não foram aplicadas restrições quanto ao idioma, data de publicação, idade, sexo e país.   

Principais achados 

Foram identificados 11.362 estudos, dos quais 10 artigos foram avaliados em texto completo, resultando em 8 estudos selecionados para revisão, envolvendo 3.068 participantes. Esses estudos, todos revisados por pares, foram classificados como de baixo risco de viés de acordo com a ferramenta Cochrane RoB-2.0. Eles abordaram os efeitos da vacinação contra o HPV em pacientes submetidos a cirurgia para tratar lesões cervicais intraepiteliais escamosas de alto grau (HSIL). A revisão incluiu análises de diferentes vacinas (Cervarix, Gardasil e Gardasil-9) e o momento da vacinação (antes, durante ou após o tratamento). 

A análise mostrou que a vacinação contra o HPV não reduziu significativamente o risco geral de recorrência de HSIL cervical (RR 0,92, IC 95%: 0,66–1,27, I² = 40%), independentemente do tipo de vacina ou do momento da aplicação. No entanto, a vacinação reduziu o risco de recorrência de HSIL cervical relacionado aos tipos HPV16/18 (RR 0,57, IC 95%: 0,18–1,84, I² = 29%), embora com grande incerteza nos dados. Subanálises específicas para lesões de baixo grau (LSIL) também não mostraram diferença significativa entre vacinados e não vacinados. Esses resultados sugerem que a vacinação pode ter benefícios específicos, mas sua eficácia geral na redução de recorrências após cirurgia local é limitada. 

Conclusão: efeito da vacina contra HPV na infecção e recorrência após tratamento cirúrgico

A vacinação adjuvante contra o HPV após a excisão cirúrgica não está associada a um risco reduzido de HSIL recorrente em geral. Portanto, a vacina contra o HPV não deve ser considerada para tratamento adjuvante em pacientes submetidos à excisão cirúrgica.