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Ginecologia e Obstetrícia15 outubro 2025

Distúrbios hipertensivos da gravidez e neurodesenvolvimento infantil

Meta-análise associa distúrbios hipertensivos da gravidez a prejuízos no neurodesenvolvimento infantil.

Um artigo recentemente publicado na revista PLOS One e desenvolvido por um grupo de autores australianos, teve como objetivo realizar uma revisão sistemática abrangente e contemporânea e meta-análise para examinar o impacto dos distúrbios hipertensivos da gravidez nos resultados do neurodesenvolvimento infantil e adolescente. 

O estudo foi conduzido, uma vez que os distúrbios hipertensivos da gravidez podem estar associados a desfechos adversos do neurodesenvolvimento infantil, mas nenhuma metanálise recente examinou a associação de forma abrangente. 

Veja também: Aspirina e hipertensão arterial na gravidez

distúrbios hipertensivoz da gravidez

Metodologia 

Foi realizada uma busca sistemática nas bases de dados MEDLINE, CINAHL, Web of Science e PsycINFO, desde o início de suas indexações até 18 de setembro de 2024. Além disso, as listas de referências dos artigos incluídos foram examinadas para identificar estudos adicionais relevantes. 

Foram incluídos estudos observacionais e análises secundárias de ensaios clínicos randomizados que relataram desfechos neurodesenvolvimentais, cognitivos ou educacionais em crianças nascidas de gestações complicadas por distúrbios hipertensivos da gravidez, comparadas a uma população de referência composta por gestações não afetadas. 

Dois revisores realizaram, de forma independente, a seleção dos registros, a extração dos dados e a avaliação da qualidade metodológica dos estudos, seguindo as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). 

Os estudos que apresentaram resultados semelhantes foram agrupados por meio de um modelo de meta-análise de efeitos aleatórios. Os desfechos avaliados incluíram autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), paralisia cerebral, atraso global do desenvolvimento, deficiência intelectual, quociente de inteligência (QI) e nível de escolaridade. Os resultados foram expressos como odds ratio (OR) ou diferença média (DM), acompanhados de seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). 

Principais achados 

Após a triagem de 13.419 registros, foram incluídos 121 estudos que relataram desfechos em um total de 29.649.667 crianças. A amostra final foi composta por 85 estudos de coorte, 30 estudos caso-controle, quatro estudos transversais e duas análises secundárias de ensaios clínicos randomizados.  

Em comparação com gestações não afetadas, os distúrbios hipertensivos da gestação foram associados a uma maior probabilidade não ajustada de transtorno do espectro autista (OR 1,65; IC95% 1,49–1,83; p < 0,001; n = 26.727.500), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (OR 1,27; IC95% 1,21–1,33; p < 0,001; n = 12.987.737), deficiência intelectual (OR 1,77; IC95% 1,31–2,38; p < 0,001; n = 10.718.504), atraso global do desenvolvimento (OR 1,77; IC95% 1,21–2,59; p < 0,001; n = 2.961.195) e menor média de quociente de inteligência (DM –2,20; IC95% –3,35 a –1,06; p < 0,001; n = 1.150.664).  

No entanto, as associações entre hipertensão e transtorno do espectro autista, bem como entre hipertensão e atraso global do desenvolvimento, deixaram de ser significativas após o ajuste para idade gestacional e peso ao nascer. Os resultados referentes ao quociente de inteligência permaneceram significativos após o ajuste para peso ao nascer, mas perderam significância quando ajustados para idade gestacional. Análises ajustadas para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e deficiência intelectual não puderam ser realizadas devido à ausência de estudos adequados.  

Conclusões 

Esses achados demonstram uma possível associação entre os distúrbios hipertensivos da gestação e desfechos neurodesenvolvimentais adversos na infância. O estudo identifica um grupo de crianças que pode se beneficiar de intervenções e acompanhamentos precoces, com o objetivo de melhorar os resultados neurocognitivos a longo prazo. No entanto, são necessárias pesquisas adicionais para avaliar de forma mais detalhada os efeitos mediadores da idade gestacional e do peso ao nascer nessas associações. 

Autoria

Foto de Ênio Luis Damaso

Ênio Luis Damaso

Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).

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Referências bibliográficas

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