Um artigo recentemente publicado na revista PLOS One e desenvolvido por um grupo de autores australianos, teve como objetivo realizar uma revisão sistemática abrangente e contemporânea e meta-análise para examinar o impacto dos distúrbios hipertensivos da gravidez nos resultados do neurodesenvolvimento infantil e adolescente.
O estudo foi conduzido, uma vez que os distúrbios hipertensivos da gravidez podem estar associados a desfechos adversos do neurodesenvolvimento infantil, mas nenhuma metanálise recente examinou a associação de forma abrangente.
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Metodologia
Foi realizada uma busca sistemática nas bases de dados MEDLINE, CINAHL, Web of Science e PsycINFO, desde o início de suas indexações até 18 de setembro de 2024. Além disso, as listas de referências dos artigos incluídos foram examinadas para identificar estudos adicionais relevantes.
Foram incluídos estudos observacionais e análises secundárias de ensaios clínicos randomizados que relataram desfechos neurodesenvolvimentais, cognitivos ou educacionais em crianças nascidas de gestações complicadas por distúrbios hipertensivos da gravidez, comparadas a uma população de referência composta por gestações não afetadas.
Dois revisores realizaram, de forma independente, a seleção dos registros, a extração dos dados e a avaliação da qualidade metodológica dos estudos, seguindo as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA).
Os estudos que apresentaram resultados semelhantes foram agrupados por meio de um modelo de meta-análise de efeitos aleatórios. Os desfechos avaliados incluíram autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), paralisia cerebral, atraso global do desenvolvimento, deficiência intelectual, quociente de inteligência (QI) e nível de escolaridade. Os resultados foram expressos como odds ratio (OR) ou diferença média (DM), acompanhados de seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%).
Principais achados
Após a triagem de 13.419 registros, foram incluídos 121 estudos que relataram desfechos em um total de 29.649.667 crianças. A amostra final foi composta por 85 estudos de coorte, 30 estudos caso-controle, quatro estudos transversais e duas análises secundárias de ensaios clínicos randomizados.
Em comparação com gestações não afetadas, os distúrbios hipertensivos da gestação foram associados a uma maior probabilidade não ajustada de transtorno do espectro autista (OR 1,65; IC95% 1,49–1,83; p < 0,001; n = 26.727.500), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (OR 1,27; IC95% 1,21–1,33; p < 0,001; n = 12.987.737), deficiência intelectual (OR 1,77; IC95% 1,31–2,38; p < 0,001; n = 10.718.504), atraso global do desenvolvimento (OR 1,77; IC95% 1,21–2,59; p < 0,001; n = 2.961.195) e menor média de quociente de inteligência (DM –2,20; IC95% –3,35 a –1,06; p < 0,001; n = 1.150.664).
No entanto, as associações entre hipertensão e transtorno do espectro autista, bem como entre hipertensão e atraso global do desenvolvimento, deixaram de ser significativas após o ajuste para idade gestacional e peso ao nascer. Os resultados referentes ao quociente de inteligência permaneceram significativos após o ajuste para peso ao nascer, mas perderam significância quando ajustados para idade gestacional. Análises ajustadas para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e deficiência intelectual não puderam ser realizadas devido à ausência de estudos adequados.
Conclusões
Esses achados demonstram uma possível associação entre os distúrbios hipertensivos da gestação e desfechos neurodesenvolvimentais adversos na infância. O estudo identifica um grupo de crianças que pode se beneficiar de intervenções e acompanhamentos precoces, com o objetivo de melhorar os resultados neurocognitivos a longo prazo. No entanto, são necessárias pesquisas adicionais para avaliar de forma mais detalhada os efeitos mediadores da idade gestacional e do peso ao nascer nessas associações.
Autoria

Ênio Luis Damaso
Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).
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