A obesidade tem relação com diversos distúrbios no ciclo menstrual da mulher: amenorreia, hipermenorreia, síndrome dos ovários policísticos e infertilidade. No Brasil, mais de 47% das mulheres apresentam sobrepeso ou obesidade. O sobrepeso e a obesidade levam a alterações endocrinológicas que prejudicam o ciclo menstrual e a função reprodutiva dessas mulheres.
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Obesidade e sistema endócrino
O tecido adiposo atua diretamente sobre o sistema endócrino feminino. Os estrógenos e adipocinas são moléculas produzidas pelas células adiposas e sua produção varia de acordo com a quantidade de gordura. O aumento da resistência insulínica, e da produção dessas moléculas pelas células de gordura afetam o eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, podendo desregular o ciclo menstrual e gerar dificuldade de engravidar. Dentre as causas de infertilidade estão a anovulação e alterações no recrutamento e maturação dos oócitos.
Obesidade e sangramento uterino anormal
Além disso, os níveis de estrógeno em excesso podem promover hiperplasia endometrial, aumentar o risco de hipermenorreia e câncer de endométrio. O estado pró-inflamatório da obesidade promove períodos menstruais mais intensos, com mais relatos de dismenorreia.
Infertilidade: manejo clínico
Mulheres com peso basal elevado ou índice de massa corporal (IMC) superior a 27 kg/m2 e infertilidade anovulatória são aconselhadas a perder peso.
Para mulheres obesas com síndrome do ovário policístico (SOP), a perda de apenas 5 a 10 por cento do peso corporal já é suficiente para restaurar a ovulação em 55 a 100 por cento dessas mulheres dentro de seis.
Vamos lembrar que a perda de peso, apesar de desafiadora, é uma modalidade barata de baixa intervenção, sem efeitos colaterais e com outros benefícios para a saúde e, portanto, deve ser um tratamento de primeira linha para mulheres anovulatórias obesas.
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Cirurgia bariátrica e fertilidade
A cirurgia bariátrica tem se tornado uma abordagem cada vez mais utilizada e eficaz para alcançar uma perda de peso sustentável, bem como reduzir as morbidades associadas à obesidade grave, e aumentar as chances de gestação. Dados norte-americanos dos últimos anos estimam que mais de 40% dos procedimentos bariátricos nos EUA são realizados em mulheres em idade reprodutiva. Portanto, é cada vez mais comum que mulheres que se submeteram à cirurgia bariátrica se apresentem para aconselhamento pré-concepcional ou pré-natal.
Diversos estudos demonstram que pacientes submetidas à cirurgia bariátrica têm uma rápida conversão a ciclos ovulatórios e aumento da fertilidade.
Mas apesar desses dados encorajadores, a maioria dos especialistas concorda que a cirurgia bariátrica não é indicada como tratamento de primeira linha para infertilidade em mulheres obesas.
Nos casos que a paciente permanece infértil após a cirurgia, a fertilização in vitro pode ser considerada. Se indicada, pode ser seguro e bem-sucedida, mas a experiência é limitada a relatos de casos.
Aconselhamento pré-gestacional
É importante alertar a paciente de que a obesidade aumenta o risco para abortamento, e que uma gestante obesa se enquadra em uma gestação de alto risco para diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, entre outros. Enfim, gestações que aumentam o risco tanto materno quanto fetal.
Os achados clínicos e laboratoriais da infertilidade da mulher obesa muitas vezes são os mesmos da síndrome dos ovários policísticos, sendo muitas vezes um desafio excluir esse diagnóstico. Nesse caso, uma análise mais minuciosa é necessária, e o tratamento, felizmente, converge para o mesmo: emagrecimento, mudança de estilo de vida e tratamento da síndrome metabólica.
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Referências bibliográficas:
- Sarwer DB, Spitzer JC, Wadden TA, et al. Changes in sexual functioning and sex hormone levels in women following bariatric surgery. JAMA Surg 2014;149(1):26-33. doi: 1001/jamasurg.2013.5022
- Merhi ZO. Weight loss by bariatric surgery and subsequent fertility. Fertil Steril 2007; 87(2):430-2. doi: 1016/j.fertnstert.2006.07.1499
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