A prevalência de obesidade aumentou significativamente nos últimos anos, atingindo cerca de 42,2% dos adultos nos Estados Unidos. Paralelamente a essa epidemia, observou-se um expressivo aumento na proporção de pacientes com doença hepática crônica secundária, a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Por outro lado, o manejo da obesidade entre pacientes cirróticos constitui um grande desafio.
Recentemente, a Associação Americana de Gastroenterologia realizou revisão da literatura e publicou algumas orientações para abordagem de pacientes obesos, portadores de doença hepática crônica avançada.
Orientações para abordagem pacientes obesos cirróticos
- A obesidade é um fator de risco maior para diversas complicações no cirrótico, sendo sabidamente associada a trombose de veia porta, hipertensão portal, carcinoma hepatocelular, maior mortalidade na lista de transplante, aumento de complicações pós-operatórias e falência hepática. Dessa forma, a perda de peso supervisionada é um importante objetivo nesses pacientes.
- O método utilizado para induzir uma perda de peso rápida e sustentada em pacientes cirróticos obesos deve ser individualizado, levando em consideração não somente o índice de massa corporal, mas também o grau de sarcopenia, presença de ascite, idade do paciente, sinais de hipertensão portal clinicamente significativa e proposta de transplante hepático.
- A perda de peso através da modificação do estilo de vida, idealmente superior a 10%, pode melhorar a doença hepática. Entretanto, as dificuldades inerentes à sua implementação e à posterior manutenção do peso perdido limita sua utilidade no tratamento de pacientes obesos com cirrose.
- A obesidade se associa a importante morbidade e mortalidade entre cirróticos obesos, com taxas de descompensação de até 43%, versus 14% em pacientes com peso normal.
- Pacientes cirróticos devem ser avaliados para presença de obesidade sarcopênica, idealmente através da avaliação do músculo psoas, por tomografia computadorizada ao nível da terceira vértebra lombar.
- Recomenda-se para pacientes cirróticos com IMC >30 kg/m2 (corrigido para retenção de água) suporte nutricional e mudanças no estilo de vida, visado a perda de peso progressiva > 5-10%. Dieta hipocalórica (restrição de 500-800 Kcal/dia), com ingestão de ≥1,5 g/kg de peso ideal de proteína por dia é sugerida. Deve-se manter refeições frequentes, incluindo lanche noturno.
- A cirurgia bariátrica pode ser considerada em pacientes cirróticos compensados, que não conseguem atingir a perda de peso desejada com mudanças do estilo de vida.
- Deve-se avaliar a presença de hipertensão portal clinicamente significativa no pré-operatório, através da realização de exames de imagem endoscópicos. A cirurgia bariátrica nesse subgrupo de pacientes deve ser restrita a casos altamente selecionados, em centros com ampla experiência e recursos para tratamento de eventuais complicações.
- A mortalidade de pacientes cirróticos compensados na cirurgia bariátrica é ligeiramente superior à média da população (0,9 % vs 0,3%), enquanto entre os descompensados o risco aumenta sobremaneira (16,3%).
- Deve-se avaliar rigorosamente sinais de uso abusivo de álcool em pacientes cirróticos potencialmente candidatos à cirurgia bariátrica.
- Terapias endoscópicas bariátricas (ex: balão intra-gástrico), possivelmente apresentam menor risco para pacientes cirróticos, mas não devem ser realizadas em pacientes com hipertensão portal clinicamente significativa.
- A melhor técnica cirúrgica para pacientes cirróticos é a gastrectomia vertical (Sleeve) laparoscópica. Essa técnica preserva o acesso endoscópico a árvore biliar, leva a perda de peso gradual e não causa má absorção, o que poderia alterar a farmacocinética de medicamentos.
- Em pacientes cirróticos descompensados, a única opção aceitável atualmente, é realizar a cirurgia bariátrica concomitantemente ou após o transplante hepático.
Referência bibliográfica:
- Patton, Heather; Heimbach, Julie e McCullough, Arthur. AGA Clinical Practice Update on Bariatric Surgery in Cirrhosis. https://www.cghjournal.org/article/S1542-3565(20)31492-0
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