A detecção precoce e o tratamento correto de hemorragia pós-parto (HPP) é essencial para diminuir a morbidade e mortalidade materna, por isso o tema sempre é alvo de estudos, atualizações e treinamentos. A Organização Mundial de Saúde (OMS), nos seus protocolos de parto seguro, solicita que orientemos os acompanhantes de como detectar precocemente hemorragia puerperal, com o objetivo de realizar diagnóstico e tratamento precoce e diminuir a taxa de morbimortalidade materna.
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Novo estudo
Em maio de 2023, foi publicado um artigo no New England Journal of Medicine com o objetivo de avaliar intervenções clínicas na HPP pós-parto vaginal. Os autores realizaram um ensaio clínico internacional randomizado, sendo que a intervenção incluiu um campo de coleta de sangue calibrado para detecção precoce de hemorragia pós-parto e um conjunto de tratamentos de primeira resposta (massagem uterina, drogas ocitócicas, ácido tranexâmico, fluidos intravenosos, exame e escalonamento), apoiado por uma estratégia de implementação (grupo de intervenção). Já os hospitais no grupo de controle forneceram os cuidados habituais. Os pesquisadores definiram que o desfecho primário seria um composto de hemorragia pós-parto grave (perda de sangue, ≥ 1.000 mL), laparotomia ou morte materna. E os principais resultados secundários da implementação foram a detecção de hemorragia pós-parto e a adesão ao pacote de tratamento.
Métodos
Os autores selecionaram um total de 80 hospitais de nível secundário no Quênia, Nigéria, África do Sul e Tanzânia, nos quais 210.132 pacientes foram submetidas a parto vaginal, e foram aleatoriamente designados para o grupo de intervenção ou para o grupo de cuidados habituais.
Resultados
O evento de desfecho primário ocorreu em 1,6% das pacientes no grupo de intervenção, em comparação com 4,3% daqueles no grupo de cuidados habituais (razão de risco, 0,40; intervalo de confiança de 95% [IC] , 0,32 a 0,50; P< 0,001). A HPP foi detectada em 93,1% das pacientes do grupo de intervenção e em 51,1% das pacientes do grupo de cuidados habituais (razão de taxas, 1,58; IC 95%, 1,41 a 1,76), e o pacote de tratamento foi usado em 91,2% e 19,4%, respectivamente (razão de taxas, 4,94; IC 95%, 3,88 a 6,28).
A intervenção E-MOTIVE, criada pelos pesquisadores, consistia em um campo calibrado para detecção precoce de hemorragia pós-parto e o pacote de tratamento de primeira resposta da OMS, que inclui massagem uterina, drogas ocitócicas, ácido tranexâmico, fluidos intravenosos e um processo para exame e escalonamento. A implementação foi apoiada por vários componentes, incluindo o uso de carrinhos ou maletas para HPP; treinamento no local baseado em simulação; defensores locais (parteiras e médicos que lideram e apoiam mudanças nos hospitais participantes); e auditoria e feedback de dados acionáveis para provedores. A intervenção E-MOTIVE resultou em um risco 60% menor do desfecho primário após parto vaginal em hospitais de nível secundário no Quênia, Nigéria, África do Sul e Tanzânia. Este benefício foi presumivelmente atribuído pelos autores a melhorias observadas na detecção de hemorragia pós-parto e ao uso do pacote de primeira resposta da OMS nos hospitais do grupo de intervenção.
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Conclusão
Através desta pesquisa é possível concluir que o treinamento de toda equipe, a disseminação de informação, a padronização do atendimento e o tratamento precoce é essencial para diminuir a morbidade e mortalidade materna por HPP. Intervenções como essas, a qual consiste da realização de protocolos, maletas/caixas de hemorragia pós-parto (HPP), treinamento de equipes que prestam assistência à gestantes, baseadas nas orientações de parto seguro da OMS são realizados por sociedades de ginecologia e obstetrícia no Brasil, como a SOGESP, e os resultados também são positivos como demonstrados nessa pesquisa. Isso nos mostra a importância da educação continuada realizada pelas sociedades médicas.
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