Anatomicamente o prolapso genital é definido como a descida ou exteriorização de uma ou mais partes da parede anterior da vagina, da parede posterior ou apical.
Com o aumento da expectativa de vida, acredita-se que haverá um aumento dos casos sintomáticos de prolapsos genitais, visto que estes estão diretamente relacionados ao aumento da idade. A prevalência de ao menos um distúrbio do assoalho pélvico na população americana é de 23,7% e aumenta mais de 50% se considerarmos mulheres acima de 80 anos. Nesta idade, uma em cada cinco mulheres tem a probabilidade de ser submetida à cirurgia para correção de prolapso genital.
O parto via vaginal é apontado na literatura como principal fator de risco para as desordens do assoalho pélvico, especialmente para aqueles casos com necessidade de correção cirúrgica (casos com maior impacto na qualidade de vida). Entretanto, a proteção trazida pela realização do parto cesárea em relação ao parto vaginal é controversa.
O estudo
O objetivo do estudo publicado no dia 3 de agosto na American Journal of Obstetrics & Gynecology (AJOG) foi analisar a contribuição da via de parto (cesárea e vaginal), da paridade e de fatores não relacionados ao parto no risco relativo e absoluto a longo prazo de cirurgias ginecológicas reconstrutivas. Ao analisar o risco de cirurgias, entende-se que o estudo analisa qual a contribuição dessas variáveis para casos mais “graves” de desordens do assoalho pélvico ou que têm maior impacto.
O estudo foi desenvolvido a partir de dados de três registros nacionais na Suécia. Todas as mulheres acima de 45 anos submetidas a cirurgias pélvicas reconstrutivas, seja para prolapso ou incontinência urinária (IU), foram elegíveis ao estudo (n=59.415).
Métodos
Para avaliar o objetivo do estudo, as mulheres foram divididas em 3 grupos: 1) nulíparas, 2) mulheres com o primeiro e todos os partos subsequentes via cesárea e 3) um ou mais partos via vaginal, independente de cesáreas adicionais.
Para cálculo do risco relativo (RR) e risco absoluto (RA), foi considerado como grupo controle todas as mulheres nascidas em 1960 (2.309.765).
Do total de mulheres, 39.617 foram submetidas a cirurgia para prolapso genital e 20.488 para incontinência urinária (690 mulheres foram submetidas a ambas as cirurgias). Daquelas com cirurgia de IU, 93,1% tiveram ≥ 1 parto vaginal, 2,6% ≥ 1 cesárea e 4,3% eram nulíparas. Entre aquelas com cirurgia para prolapso, 97,8% tiveram ≥ 1 parto vaginal, 0,4% ≥ 1 cesárea e 1,9% eram nulíparas.
Resultados
Comparado com a proporção entre mulheres com idade superior ou igual a 45 anos na população geral (n=1.837.883), o grupo parto vaginal foi super representado em cirurgias, RR 1,17 (IC 95%, 1,15-1,19) para cirurgia de IU e RR 1,23 (IC 95%, 1,22-1,24, ambos P < 0,0001) para cirurgia de prolapso. O inverso aplicado às nulíparas e grupos com todos os partos cesáreas, que foram igualmente sub representados por RR 0,31 (IC 95%, 0,29-0,33) e RR 0,40 (IC 95%, 0,36-0,43, ambos P < 0,0001), respectivamente para cirurgia de IU e por RR 0,14 (IC 95%, 0,13-0,15) e por RR 0,055 (IC 95%, 0,046-0,065, ambos P < 0,0001) respectivamente para cirurgia de prolapso.
O RA para cirurgia de prolapso foi menor após cesariana [0,09 por 1.000 (IC 95%, 0,08-0,11)], em comparação àquelas mulheres com parto via vaginal [AR 21,07 por 1.000 mulheres (IC95%, 2,09-2,13)]. O RA para cirurgia de prolapso aumentou consistentemente com a paridade após partos vaginais. Essa tendência não foi observada após a cesariana. O primeiro parto vaginal teve o maior aumento de RA para cirurgia de prolapso (seis vezes) e cirurgia para IU (três vezes).
Os autores concluem que o parto via vaginal parece sim ser um fator de risco para a necessidade da realização de cirurgias pélvicas reconstrutivas e que esse risco aumenta com o número de partos. Além de que, o efeito a longo prazo de uma ou mais cesáreas e nuliparidade sobre esse risco é semelhante, levando a sugerir que a gestação não é fator de risco para desordens do assoalho pélvico, mas a vida de parto sim.
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