Cesariana: trocar as luvas antes do fechamento abdominal reduz em quase 50% a taxa de infecção da ferida operatória
A infecção de ferida operatória é umas das principais complicações na cesariana, a incidência média é de 6% com variação de 3 a 15%.
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A infecção de ferida operatória é umas das principais complicações na cesariana, a incidência média é de 6% com variação de 3 a 15%. Com isso, temos aumento da morbidade materna, dos custos médico-hospitalares e da permanência hospitalar da puérpera.
Na ACOG 2017 (The American College of Obstetricians and Gynecologist Annual Meeting, 2017), foi apresentado um ensaio clínico randomizado que demostrou que a troca das luvas antes de iniciar o fechamento abdominal diminui a incidência de infecção e deiscência das feridas operatórias. A fisiopatologia é que as luvas da equipe cirúrgica são contaminadas por bactérias do trato genital inferior na manipulação uterina e depois propagam as bactérias no campo estéril.
Este estudo foi realizado por Dr.Buvana Reddy, de Woodbury, Universidade do Minnesota-Minneapolis, e apresentados na conferência deste ano. O presente estudo reuniu 553 mulheres que foram submetidas a uma cesariana eletiva no centro médico no período de 15 meses.
Veja também: ‘Redução do risco de infecção com profilaxia antibiótica em cesariana’
Dentro do grupo, em 236 pacientes foi realizada a mudança das luvas e 250 pacientes ficaram no grupo controle. As pacientes foram pareadas por dado demográficos, tempo cirúrgico e quantidade de perda sanguínea. Após análise estatística, 15 pacientes do grupo do estudo apresentaram infecção de ferida operatória, em comparação a 34 pacientes do grupo controle (p=0,008). Além disso, cinco pacientes do grupo de estudo apresentaram deiscência de ferida operatória em comparação a 14 pacientes do grupo controle (p=0,01). Ambos os dados com significância estatística.
O número necessário para alcançar o benefício da troca das luvas é de 14. E o custo adicional por procedimento foi de apenas 5 dólares. A preparação vaginal pré-operatório com uma solução anti-séptica não alterou os resultados do estudo.
Vale ressaltar que ainda não é uma conduta instituída nos hospitais, uma vez que estudos anteriores não demonstraram o mesmo resultado. Apenas um pequeno estudo semelhante em 2004 com 92 pacientes foi publicado no Journal of Reproductive Medicine concluiu que poderia diminuir o número de infecções de ferida pós-cesariana se toda a equipe cirúrgica trocasse a luva após a dequitação.
O presente estudo é maior e se concentra em uma pontuação da ferida operatória em vez de apenas avaliar a infecção de sítio cirúrgico, e o tempo de mudança de luvas foi no momento do fechamento abdominal. Logo, a longo prazo e com mais estudos pode vir a ser uma medida benéfica no combate a infecção de feridas operatórias na cesariana, diminuindo assim a morbidade materna e possibilitando internações de curta permanência.
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