Encerrando o 62° Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO 2025), foi apresentada a mesa sobre Questões Palpitantes em PTGI no dia a dia do consultório, coordenada pela Dra. Adriana Campaner, professora adjunta da faculdade de ciências médicas da Santa Casa de São Paulo.
Vaginose Citolítica: desafios no diagnóstico e tratamento
A Dra. Raquel Autran, professora da Universidade Federal do Ceará, palestrou sobre a vaginose citolitica, condição clínica de diagnóstico desafiador na prática clínica e muito confundida com a candidíase.
É definida pelo hipercrescimento dos lactobacilos, gerando hiperacidez, lise celular e os sintomas de ardência e prurido cíclicos pois ocorrem, frequentemente, na fase lútea.
O tratamento gira em torno da alcalinização do ambiente vaginal com esquemas usando bicarbonato de sódio. Não existem esquemas padrão estabelecidos pelas diretrizes internacionais. As gestantes não devem ser tratadas, exceto em casos muito sintomáticos, pois possivelmente o excesso de lactobacilos reflete um efeito protetor ao concepto.
Vaginose bacteriana como cofator na carcinogênese do câncer de colo uterino
A Dra. Cláudia Jacyntho, membro titular da Academia de Medicina/RJ, falou sobre a vaginose bacteriana, principal causa de corrimento vaginal.
Apesar de clinicamente não apresentar um quadro clínico inflamatório exuberante, há desvio molecular das interleucinas e citocinas, sendo um fator provável para a carcinogênese.
A presença dominante do Lactobacillus gasserii é definida como o cenário mais positivo para eliminação do HPV.
Por outro lado, a dominância das bactérias anaeróbicas da vaginose bacteriana facilita a persistência do HPV e o próprio HPV reduz a concentração dos lactobacilos.
A persistência do HPV é um fator necessário para a ocorrência das lesões precursoras do câncer e câncer, em especial do colo uterino.
Veja também: Vaginose Bacteriana [vídeo]
Probióticos são efetivos na terapêutica das infecções genitais
A Dra. Ana Katherine, professora da Universidade federal do Rio Grande do Norte, definiu o que seriam os:
- Probióticos são microorganismos vivos que vão atuar na restauração da flora vaginal
- Prebióticos são substratos alimentares para estes microorganismos
- Simbióticos combinação sinérgica dos probióticos e prebióticos
Apesar de algumas indicações clínicas descritas em estudos, não há consenso na literatura sobre seus benefícios e podem, em decisão compartilhada, ser prescritos como adjuvantes.
A literatura é escassa com relação à eficácia e viabilidade das cepas usadas e não há uma regulação desses produtos para controle de sua pureza e potência.
Citologia reflexa ou p16/ki67 diante de um teste de HPV positivo
A Dra. Isabel do Val, professora associada da universidade Federal Fluminense, lembrou que a pesquisa do DNA do HPV por PCR é o melhor teste de rastreio para as lesões precursoras do câncer de colo uterino.
Frente à presença do HPV 16/18, devemos encaminhar a paciente para colposcopia pois são os tipos mais associados às lesões graves.
Quando o teste for positivo para outros tipos de alto risco (não 16/18), o risco de lesão é menor, logo solicitamos a citologia reflexa (posterior ao teste).
A dupla coloração com p16/ki67 é um marcador que também pode ser usado na triagem de testes de HPV de alto risco não 16/18.
São necessários mais estudos para comparar as estratégias de triagem frente aos exames moleculares de rastreio positivos.
Segunda onda de HPV em mulheres mais velhas – causas e possíveis implicações
A Dra. Rita Zanine, professora titular da universidade federal do Paraná, mostrou que a prevalência de infecção por HPV em mulheres acima de 60 anos está em torno de 4 a 6% com variações regionais.
A segunda onda de HPV pode ser atribuída a alguns fatores:
- A reativação da infecção latente pela imunossenescência.
- Alterações imunológicas hormonais: queda de linfócitos, citocinas, perda da barreira epitelial dificultando a eliminação viral.
- Novas exposições sexuais
Por outro lado, a falta do epitélio ativo dificulta a progressão para lesões graves. Além disso, geralmente, os tipos virais existentes não são os tipos mais agressivos, 16 e 18 e os parceiros mais velhos têm colonização por menores cargas virais do HPV.
Assim, a preocupação deve girar em torno da orientação da prevenção primária (vacina HPV liberada até 45 anos) e secundária com um bom teste de rastreamento realizado de forma regular, pois o câncer na mulher mais idosa tem íntima relação com a falta do diagnóstico precoce das lesões causadas por um HPV de alto risco adquirido na juventude.
O 62° Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO) acontece entre os dias 14 e 17 de maio, no Rio de Janeiro. Acompanhe a cobertura completa do CBGO 2025 aqui no portal Afya.
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