O 1º dia do 62º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO 2025), começou com uma mesa redonda sobre terapia hormonal (TH) e situações desafiadoras.
A Dra. Ana Lucia Ribeiro, professora da pós-graduação da UNICAMP, falou sobre o manejo do sangramento em vigência de TH.
Foi reforçado como é fundamental esclarecer a paciente sobre a possibilidade de sangramento quando iniciar a terapia hormonal. Os mecanismos são pouco compreendidos e há controvérsia na literatura sobre o limite superior normal da espessura endometrial durante a TH.
Apesar de raro deve se excluir patologias endometriais, em especial o câncer. O manejo pode ser difícil e pode variar de acordo com o momento do sangramento sendo necessários ajustes da dose dos progestágenos, estrogênio e, às vezes, troca do progestágeno.
Veja também: Terapia hormonal em mulheres com malformações cavernosas cerebrais
TH na obesidade e indicações de análogos do hormônio GLP-1
O Dr. Rodolfo Strufaldi, professor e assistente de ginecologia da Faculdade de Medicina do ABC, SP, palestrou sobre a TH na obesidade e indicações de análogos do hormônio GLP-1 (ajuda no controle da glicemia e saciedade).
O mesmo alertou sobre a preocupação mundial sobre a obesidade e fatores pró inflamatórios relacionados ao hiperestrogenismo na menopausa.
Foi reforçado que a medida da circunferência abdominal acima de 88 também é um importante fator de risco para doença cardiovascular e deve ser visto de rotina nas consultas ginecológicas.
Ele mostrou, segundo evidencia atuais, que as medicações análogas do GLP-1 (liraglutida e semaglutida) são seguras e podem ser indicadas para mulheres obesas (IMC acima de 30) e com circunferência abdominal acima de 88, em especial diabéticas.
Fog cerebral e cognição
O Dr. Marcelo Luis Steiner, professor associado da Faculdade de Medicina do ABC palestrou sobre fog cerebral e cognição.
O climatério é um momento de transição reprodutiva, imunológica e neurológica. A névoa mental é definida por dificuldades de memória, atenção, manter linha de raciocínio, troca de tarefas, esquecimento de ação, em lembrar nomes, historias.
Existe um medo da associação com o processo demencial, mas o professor destaca que são coisas distintas.
Foi destacado que, além da queda hormonal, outros fatores contribuem para os sintomas como alteração do sono, saúde mental, social, stress, tabagismo, alimentação, exercícios físicos. Logo, a TH pode ajudar, mas não há indicação absoluta do uso somente para melhorar o desempenho cognitivo.
As evidências mostradas indicam que não há relação de causa ou risco aumentando de demência ou Alzheimer. É preciso acalmar as pacientes explicando que essas alterações cognitivas são transitórias e tendem a melhorar com o tempo.
Risco de TH em mulheres com antecedente de trombose
A Dra. Mona Dall’Agno, professora de Medicina da Faculdade de Caxias do Sul discorreu sobre o risco de TH em mulheres com antecedente de trombose.
A mesma mostrou que o risco de eventos tromboembólicos venosos é de 1/1000 mulheres pós menopausa ao ano de independente da TH, aumentando a chance com a idade, tabagismo e outras comodidades.
As evidências atuais mostram que menores doses de estrogênio, esquemas cíclicos, a progesterona natural micronizada e didrogesterona parecem ter menos efeitos trombogênicos, mas faltam estudos robustos para confirmar.
Sem dados atuais de segurança para uso da tibolona.
TH e endometriose
Finalizando a mesa, o Dr. Mario Vicente Giordano, professor de ginecologia da UNIRIO, falou sobre a TH e endometriose.
Sabe-se que cerca de 2% a 4% das mulheres terão manifestações da endometriose na menopausa, podem até piorar de acordo com a produção estrogênica periférica.
Questionar na anamnese detalhada sobre sintomas prévios e gravidade da doença. Risco de malignidade é incerto, girando em torno de 2% a 3%.
Para essas mulheres, é indicado por todas as sociedades médicas nacionais e internacionais que a TH seja combinada mesmo em histerectomizadas.
Mensagem prática
Maiores estudos ainda são necessários para definir a melhor dose e tipo de progestageno em mulheres com história prévia de endometriose e risco tromboembólico. O sangramento após inicio da terapia hormonal pode ocorrer, mas sempre deve ser investigado para excluir neoplasia. A mudança do estilo de vida e cuidado da saúde geral deve ser incentivada no climatério para minimizar sintomas vasomotores, risco cardiovascular e os sintomas cognitivos.
O 62° Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO) acontece entre os dias 14 e 17 de maio, no Rio de Janeiro. Acompanhe a cobertura completa do CBGO 2025 aqui no portal Afya.
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