Fechando os eventos da manhã do 62º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO 2025) tivemos uma mesa redonda seguida de discussões sobre o tema Desmistificando as Doenças da Vulva.
Líquen escleroso — quando usar energias?
A Dra. Adriana Campaner, professora adjunta da faculdade de ciências médicas da Santa Casa de SP, falou sobre o líquen escleroso vulvar, doença inflamatória crônica de caráter autoimune. A palestrante explicou que o tratamento padrão é com corticoides tópicos com objetivo de aliviar os sintomas, estabilizar a doença e evitar a transformação neoplásica. Alguns casos são refratários ao tratamento e precisam ser revistos.
Segundo a Dra. Campaner, há poucos estudos do uso do laser e radiofrequência fracionadas com achados preliminares podendo melhorar os sintomas, a qualidade de vida da pele e sexual, mas eles podem ser usados como adjuvantes ao corticoide em casos selecionados.
Líquen plano orogenital
A Dra. Claudia Jacyntho, mestre em Ginecologia pela UFRJ e membro titular da Academia de Medicina (RJ) palestrou sobre o líquen plano.
O líquen planoerosivo é a forma mais comum e deve ser tratado com corticoide superpotente local. Há acometimento da região vestibular podendo haver erosões vaginais associadas. Algumas pacientes também apresentam lesões orais e em outros sítios digestivos, portanto se trata de uma doença sistêmica que merece acompanhamento cauteloso.
Saiba mais: Prurido vulvar: o que as queixas de coceira genital podem indicar ao médico?
Quando e como realizar biópsia de vulva em lesões pigmentadas?
A Dra. Isabel do Val, professora associada de Ginecologia da Universidade Federal Fluminense e Coordenadora do Setor de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia do Hospital Universitário António Pedro da Faculdade de Medicina, detalhou os possíveis distúrbios de hiperpigmentação na vulva.
Existem achados fisiológicos (hiperpigmentação fisiológica), benignos (melanose, lentigiose, hipercromia pós-inflamatória, ceratose seborreica), pré-neoplásicos (lesão de alto grau) e neoplásicos (melanoma, carcinoma). A palestrante frisou que a regra do ABCDE não deve ser esquecida como sinais alerta, sendo essa regra:
- A – assimetria
- B – bordas mal delimitadas
- C – cor variada
- D – diametro > 6 mm
- E – elevação
Ressaltou-se também que, em caso de dúvida diagnóstica, a biópsia se impõe.
Vulvodínia
A Dra. Maricy Tacla, médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, mostrou a definição atual de vulvodínia, segundo a Sociedade Internacional para o Estudo das Doenças Vulvovaginais, que é a dor vulvar crônica durando pelo menos 3 meses e excluídas outras causas da dor. A médica explicou que o exame físico é completamente normal e o tratamento deve ser multidisciplinar e multifatorial abrangendo melhora dos cuidados locais, dieta, fisioterapia, psicoterapia, medicamentos tópicos ou orais e raramente cirurgia.
Hidradenite supurativa: o que há de novo na literatura?
A Dra. Ana Katherine, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, palestrou sobre a hidradenite supurativa. Doença inflamatória crônica comum, de caráter hereditário, com grande impacto na qualidade de vida e alta taxa de recorrência.
Durante sua fala, a palestrante destacou que a obesidade, diabetes, tabagismo e outras condições metabólicas são fatores de risco. E que antibióticos tópicos ou sistémicos são o tratamento de primeira linha, mas também podemos lançar mão de drogas antiandrogênicas, imunobiológicos, imunossupressores, cirurgias.
Mudanças no estilo de vida, cuidados locais adequados (roupas respiráveis, parar de depilar) e dieta são fundamentais para o sucesso do tratamento e redução das recorrências.
O 62° Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO) acontece entre os dias 14 e 17 de maio, no Rio de Janeiro. Acompanhe a cobertura completa do CBGO 2025 aqui no portal Afya.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.