Na mesa “Direto ao Ponto”, realizada no 62º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO 2025), a dor associada à excitação sexual foi o foco das discussões. A Prof.ª Dra. Flávia Fairbanks, professora associada da Universidade de Miami, trouxe atualizações importantes sobre a abordagem do vaginismo, enquanto a Prof.ª Dra. Fabiene Bernardes C. Vale, presidente da Comissão Nacional Especializada de Sexologia da Febrasgo e professora da UFMG, nos presenteou com reflexões sobre os desafios da excitação sexual feminina e o Dr. Gerson Lopes, coordenador do departamento de Medicina Sexual do Hospital Mater Dei, nos apresentou o diagnóstico da Síndrome de Excitação Persistente.
O vaginismo, que acomete entre 5% e 17% das mulheres, é caracterizado por contração involuntária e hipertonia da musculatura do assoalho pélvico, sendo frequentemente confundido com a dispareunia. Embora sejam condições distintas, a Associação Americana de Psiquiatria as agrupa sob a categoria de Transtorno da Dor Gênito-Pélvica.
A abordagem terapêutica do vaginismo tradicionalmente baseia-se em estratégias multidisciplinares, como a dessensibilização combinada à psicoterapia. Contudo, avanços recentes incluem opções farmacológicas, como o uso da toxina botulínica. O estudo de Pacik et al. (2017) propôs a aplicação de 50 unidades de toxina botulínica em cada músculo bulboesponjoso, seguida da inserção de dilatadores (nº 5 e 6) sob sedação, com continuidade do processo por meio de dilatações progressivas em domicílio e participação ativa do(a) parceiro(a).
Quanto à dor durante a relação sexual, estima-se que até 20% das mulheres apresentem essa queixa em algum momento da vida. O primeiro passo é o diagnóstico preciso, com atenção especial para a exclusão de vulvodínia.
A vulvodínia envolve a ativação do receptor TRPV1, responsável pela estimulação de fibras C, liberação de substâncias pró-inflamatórias e desenvolvimento de sensibilização central. Acredita-se que fatores genéticos contribuam para a suscetibilidade à condição. O tratamento, também multidisciplinar, inclui fisioterapia, terapias comportamentais e mindfulness. Entre as opções farmacológicas estão os antidepressivos tricíclicos, gabapentinoides, anestésicos locais (em tampão ou por bloqueio) e a neuromodulação pélvica. A capsaicina, por até três meses, pode ser utilizada por seu efeito dessensibilizante sobre os receptores TRPV1. Em casos refratários, a vestibulectomia pode ser considerada.
Veja também: Como tratar disfunção sexual feminina no consultório de ginecologia?
Síndrome da Excitação Genital Persistente (PGAD)
A Síndrome da Excitação Genital Persistente (PGAD) é uma condição caracterizada por sensações genitais persistentes e involuntárias de excitação, não aliviadas pelo orgasmo, com duração mínima de três meses. A condição acomete até 2,7% das mulheres, mas também há relatos em homens. O tratamento é, novamente, multiprofissional e, até o momento, não existem terapias específicas validadas para a síndrome. O manejo foca na identificação e tratamento da causa subjacente.
A mesa abordou o papel do ginecologista, sobretudo no diagnóstico e no manejo farmacológico das condições. Mas reforçou que diante das queixas sexuais femininas, é fundamental validar a experiência da paciente e oferecer um acompanhamento verdadeiramente multidisciplinar.
O 62° Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia (CBGO) acontece entre os dias 14 e 17 de maio, no Rio de Janeiro. Acompanhe a cobertura completa do CBGO 2025 aqui no portal Afya.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.