Como tratar disfunção sexual feminina no consultório de ginecologia?
Faz parte do dia a dia de diversas especialidades queixas relacionadas à disfunção sexual, que impacta diretamente na qualidade de vida das mulheres.
Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.
Faz parte do dia a dia de diversas especialidades, e principalmente da Ginecologia, ouvir queixas relacionadas à perda de libido, dispareunia e ressecamento vaginal. A disfunção sexual (DS) acomete diversas faixas etárias, e impacta diretamente na qualidade de vida das mulheres.
Primeiro passo: identificar os fatores relacionados
O primeiro passo dessa abordagem é conhecer e tentar identificar os fatores que podem estar associados à queixa de disfunção:
Condições médicas | Diabetes, hipertensão arterial, tireoidopatias, neuropatias, dor pélvica crônica, depressão, ansiedade, hipoestrogenismo, hiperprolactinemia, hipoandrogenismo |
Medicamentos | Benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos, inibidores da recaptação da serotonina (ISRSs), antipsicóticos antidopaminérgicos, antiandrogênicos (ciproterona, espironolactona), betabloqueadores adrenérgicos (propanolol), anti-hipertensivos de ação central (metildopa, reserpina), bloqueadores H2 histamina (cimetidina, ranitidina), anticoncepcionais hormonais |
Didáticas e relacionais | Relação conflituosa, de longa duração, rotina relacional, ausência do ritual de sedução, preliminares insuficientes, disfunção sexual da parceria |
Aspectos socioculturais | Costumes, valores, tabu e mitos, autoestima rebaixada, valores negativos em relação à sexualidade |
Violência Sexual | Abuso sexual, estupro |
Quebra de contrato | Traições cursam com desejo sexual hipoativo (DSH) e dificuldade de entrega |
Repressão sexual | Familiar, religiosa e social no processo de formação da sexualidade induz ao sentimento negativo em relação a sua sexualidade e inibe a expressão sexual |
Hormonais | Hiperprolactinemia, hipotireoidismo, hipoestrogenismo e hipoandrogenismo, anticoncepcionais hormonais |
Desconhecimento da anatomiagenital e da resposta sexual | Repertório sexual limitado, inibição, dificuldade de entrega |
Disfunção sexual prévia | Alteração em uma fase da resposta sexual pode desencadear disfunção de outra fase. Ex.: anorgasmia primária pode levar ao DSH, disfunção de excitação ou dor durante a relação sexual |
*Adaptado de: Lara LA, Lopes GP, Scalco SC, Vale FB, Rufino AC, Troncon JK, et al. Tratamento das disfunções sexuais no consultório do ginecologista. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); 2018. (Protocolo Febrasgo – Ginecologia, nº 11/Comissão Nacional Especializada em Sexologia).
O tratamento em si
O tratamento das DS consiste principalmente na educação e na terapia sexual, podendo ser individual e de casal, associando ou não medicações. A educação sexual se inicia com a explicação ao paciente sobre a anatomia e o funcionamento normativo da resposta sexual, resumido no modelo EOP :
E: ensinar sobre resposta sexual que inclui as três fases: desejo, excitação e orgasmo
O: Orientar sobre saúde sexual, oferecendo informações sobre a importância da sexualidade durante toda a vida, sobre ISTs e os métodos anticoncepcionais.
P: Permitir e estimular o prazer sexual, explicar que o sexo é uma função biológica importante para o bem-estar físico e emocional da pessoa, que todos têm a capacidade e o direito de sentir prazer sexual.
A terapia sexual (TS) se mostra altamente eficaz
A TS foca no componente sensorial e visa diminuir a aversão aos toques sensuais ou a atividade sexual devido à ansiedade; melhorar a comunicação sexual e a intimidade do casal, reintroduzindo a atividade sexual de forma gradual.
Tratamento Hormonal
Nos casos em que a queixa de diminuição do desejo vem associada a manifestações clínicas da menopausa, como sintomas vasomotores e síndrome urogenital, a terapia hormonal está indicada, Pode ser administrado estrogênio, tibolona, ou testosterona.
Quando a disfunção de excitação está associada ao ressecamento vaginal na peri e pós-menopausa, a terapia hormonal tópica pode resolver a queixa. Está indicada a prescrição de creme de estrogênio conjugado 0,625 mg/g; creme de estradiol 100 mcg/g, creme de estriol 1 mg e promestrieno creme vaginal 1% (10 mg/g) ou promestrieno cápsula vaginal 10 mg. Uso local, intravaginal, contínuo, à noite, durante duas a três semanas e, em seguida, duas a três vezes por semana para manutenção.
Leia mais: Disfunção sexual feminina: descubra como trazer o prazer de volta à sua paciente
A testosterona de uso cada vez mais corriqueiro na população feminina, de fato, melhora todas as fases da resposta sexual. A aplicação de testosterona transdérmica é efetiva no tratamento do DS em mulheres na pós-menopausa (Grau de evidência A), bem como em mulheres nos últimos anos da menacme (Grau de evidência B). E seu uso por período curto, até 3 anos, é seguro. Porém, caso não haja resposta terapêutica em até seis meses, o uso da testosterona deve ser descontinuado (Grau de evidência A).
No momento, nenhuma preparação para a terapia com testosterona foi deliberado pela FDA e Anvisa, mas pode ser manipulada nas doses de 300 μg/dia em adesivos colados na pele do abdome, ou em 1 grama de gel alcoólico ou Pentravan® aplicado na pele, duas vezes por semana.
As contraindicações de testosterona em mulheres são as mesmas para o uso de estrogênio e incluem alopecia androgênica, acne, hirsutismo, hipertrigliceridemia e transtorno hepático. Para o caso mulheres em uso de anticoncepcional hormonal com queixa de DS, pode-se trocar o método por outro não hormonal, como o DIU de cobre, progestagênio oral ou DIU com levonorgestrel.
Terapia Não Hormonal
O uso de medicamentos do sistema nervoso central como flibanserina , bupropiona , trazadona, e buspirona podem ser efetivos na resposta sexual, e são uma opção em casos de contra indicação à terapia hormonal. Tem como desvantagens seus múltiplos efeitos adversos. É preciso levar em conta que, se o relacionamento conjugal não for satisfatório, as medidas para melhorar a DS são quase sempre ineficazes.
Por ultimo, deve-se atentar aos casos de vulvodínea e vaginismo. O tratamento deve ser multidisciplinar, envolvendo medicamentos sintomáticos, fisioterapia, psicologia e, até mesmo, em alguns casos, intervenção cirúrgica.
É médico e quer ser colunista do Portal da PEBMED? Inscreva-se aqui!
Referências:
- Bachmann G. Female sexuality and sexual dysfunction: are we stuck on the learning curve? J Sex Med. 2006;3(4):639-45
- Lara LA, Scalco SC, Troncon JK, Lopes GP. A model for the management of female sexual dysfunctions. Rev Bras Ginecol Obstet. 2017;39(4):184-94.
- Lara LA, Lopes GP, Scalco SC, Vale FB, Rufino AC, Troncon JK, et al. Tratamento das disfunções sexuais no consultório do ginecologista. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); 2018.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.