O estudo “Carbetocin for Postpartum Haemorrhage Prophylaxis in All Births: A Retrospective Cohort Study Following Policy Change in Routine Uterotonic Use” foi publicado recentemente no periódico BJOG: An International Journal of Obstetrics & Gynaecology. Assinado por Megan McKimmie-Doherty et. al, o trabalho foi conduzido em hospitais australianos.
A pesquisa teve como objetivo avaliar o impacto da substituição da oxitocina pela carbetocina como uterotônico profilático de rotina para prevenir hemorragia pós-parto (HPP) em todos os tipos de parto, analisando perda sanguínea, incidência de HPP, uso de uterotônicos adicionais, transfusões, admissões em unidade de terapia intensiva e tempo de internação. A HPP permanece uma das principais causas de morbimortalidade materna no mundo, com incidência crescente em países desenvolvidos. A oxitocina é a droga mais usada, porém a carbetocina tem maior estabilidade, meia-vida prolongada e potencial custo-benefício, mas ainda não é recomendada de forma uniforme em diretrizes internacionais para todos os tipos de parto.
Veja também: Hemorragia pós-parto: como manejar?
Métodos
Trata-se de um estudo retrospectivo de coorte com desenho antes-depois, realizado em um hospital terciário de Melbourne, Austrália. Foram analisados partos ocorridos em dois períodos: janeiro a junho de 2020, quando a oxitocina era o uterotônico padrão, e janeiro a junho de 2021, após a adoção da carbetocina. No total, foram incluídas 6.235 pacientes, sendo 3.001 expostas à oxitocina e 3.234 à carbetocina. Foram excluídos casos sem registro de uterotônico ou uso de outros agentes. Os dados foram coletados dos prontuários eletrônicos, revisados manualmente e analisados com testes univariados e regressão logística ajustada para fatores de risco de HPP.
Resultados
A carbetocina foi associada a uma redução significativa da perda sanguínea média (mediana 370 mL contra 400 mL com oxitocina, p<0,001) e de HPP moderada (26,7% versus 30,4%, p=0,001) e grave (9,9% versus 12,5%, p=0,001). O tempo de internação pós-parto foi menor (mediana 37,8h versus 41,2h, p<0,001) e as admissões em unidades intensivas reduziram de 6,9% para 4,6% (p<0,001). Não houve diferenças significativas no uso de uterotônicos adicionais (28,5% versus 30,6%) nem em transfusões sanguíneas (2,4% versus 2,7%).
A análise por tipo de parto mostrou benefício expressivo em partos vaginais, com menor perda sanguínea, menores taxas de HPP moderada e grave, menor uso de uterotônicos adicionais e menor tempo de internação. Nas cesarianas eletivas, a carbetocina reduziu HPP grave (7,9% versus 14,2%) e admissões em unidades intensivas. Em partos instrumentais, houve redução na perda sanguínea, mas maior uso de uterotônicos adicionais, sem diferença significativa em HPP grave. Em cesarianas de emergência não houve diferença relevante nas taxas de HPP, embora o tempo de internação tenha sido menor. A regressão logística confirmou que a carbetocina reduziu significativamente os riscos de HPP ≥500 mL em partos vaginais (OR 0,68) e cesarianas (OR 0,75).
Conclusões
A substituição da oxitocina pela carbetocina como uterotônico profilático de rotina esteve associada a redução consistente da perda sanguínea e das taxas de HPP em todos os tipos de parto, além de menor tempo de internação e menos admissões em unidades intensivas, sem aumento na necessidade de transfusões. Apesar de limitações inerentes ao desenho retrospectivo e à implementação concomitante de medidas de melhoria da assistência, os resultados reforçam o potencial da carbetocina para melhorar desfechos maternos e otimizar recursos hospitalares.
Mensagem prática
A carbetocina mostra-se uma alternativa eficaz à oxitocina como profilaxia da HPP, com benefícios consistentes em partos vaginais e cesarianas eletivas. A adoção rotineira desse fármaco pode contribuir para a segurança materna, redução de complicações graves e menor tempo de hospitalização, mas a decisão deve considerar o custo mais elevado da medicação e a necessidade de estudos prospectivos adicionais para confirmar sua custo-efetividade em diferentes contextos de saúde.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.