Um estudo recente foi publicado na revista BJOG, com objetivo de avaliar os custos e consequências de sete estratégias diagnósticas para câncer de ovário em mulheres na pré e pós-menopausa com sintomas na atenção secundária.
O câncer de ovário é um importante causa de morbimortalidade, com mais de 300 mil novos casos anuais no mundo, dos quais 70% são diagnosticados em estágios avançados, exigindo cirurgia extensa e quimioterapia. o diagnóstico precoce é essencial, mas a adesão às diretrizes de triagem, que utilizam o marcador CA125 e o ultrassom, ainda é variável. No Reino Unido, onde foi desenvolvido o estudo, o índice de risco de malignidade (RMI) é o padrão, embora apresente sensibilidade limitada (70%) e leve a muitas cirurgias desnecessárias. Estudos como o ROCkeTS avaliaram modelos alternativos, como ADNEX, ORADS e ROMA, buscando maior precisão no diagnóstico e redução de custos e complicações cirúrgicas. Este estudo analisou economicamente sete estratégias diagnósticas, considerando mulheres pré e pós-menopausa, com o objetivo de otimizar a detecção de câncer e evitar intervenções desnecessárias.
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Métodos
O estudo ROCkeTS foi um estudo prospectivo realizado com mulheres entre 16 e 90 anos encaminhadas para atenção secundária devido a sintomas e exames alterados (CA125 ou imagem). As participantes realizaram exames de sangue e ultrassonografia transvaginal e transabdominal, com operadores treinados em modelos IOTA. Foram incluídas mulheres com baixo ou desconhecido risco genético para câncer de ovário, conforme critérios da OMS que englobam tumores primários do ovário, tubas e peritônio. A menopausa foi definida pela ausência de menstruação por mais de 12 meses, com classificação adaptada para casos de uso de contraceptivos ou histerectomia.
O presente trabalho constitui uma análise secundária dos dados obtidos no estudo ROCkeTS original, com foco em uma avaliação econômica de custo-consequência (Cost-Consequence Analysis) de sete estratégias diagnósticas para câncer de ovário. O modelo comparou testes como RMI, ROMA, ADNEX, ORADS e CA125, considerando custos e desfechos clínicos em um horizonte de 12 meses sob a perspectiva do NHS britânico. Foram analisados desfechos como morte por câncer, acurácia e rendimento diagnóstico. O estudo conclui que diferentes estratégias apresentam variação relevante em sensibilidade e custo, destacando a importância de modelos diagnósticos mais precisos e custo-efetivos, sobretudo para melhorar o manejo de mulheres pré e pós-menopáusicas e evitar cirurgias desnecessárias.
Principais achados
O estudo avaliou 2.099 mulheres, sendo 857 no grupo pré-menopausa e 1.242 no grupo pós-menopausa, com prevalência de câncer de ovário de 5,7% e 17,3%, respectivamente. Foram comparadas sete estratégias diagnósticas no rastreamento de câncer de ovário, considerando custos e desfechos clínicos em um horizonte de 12 meses. O modelo RMI 200 apresentou o menor custo médio (cerca de £5.283 nas pré-menopáusicas e £13.471 nas pós-menopáusicas) e a maior proporção de diagnósticos corretos (92,5% e 84,5%, respectivamente), mas com baixo rendimento diagnóstico, detectando apenas 3% dos casos no grupo pré-menopausa e 16,9% no pós-menopausa.
A estratégia ADNEX 3% apresentou o melhor desempenho em detecção de câncer, com rendimento diagnóstico de 5,7% nas mulheres pré-menopáusicas e 19,9% nas pós-menopáusicas, além do menor número estimado de mortes por câncer (1,05% e 3,7%, respectivamente). Entretanto, foi também a de maior custo (até £15.119). A análise de sensibilidade confirmou que a prevalência de câncer foi o principal fator de impacto nos custos. A versão de dois estágios do ADNEX 10%, ao combinar descritores ultrassonográficos benignos com o modelo ADNEX, apresentou sensibilidade de 91% e especificidade de 85%, reduzindo em 17% as cirurgias desnecessárias e mantendo bom equilíbrio entre custo e precisão, configurando-se como a estratégia mais custo-efetiva para implementação clínica.
Conclusão
O estudo comparou sete estratégias diagnósticas para câncer de ovário e identificou um equilíbrio entre custo e desempenho. O RMI 200 foi o método menos custoso, porém com menor sensibilidade e maior número de diagnósticos perdidos, enquanto o modelo IOTA ADNEX 3% apresentou melhor detecção e menor mortalidade, mas com custo mais elevado. A estratégia IOTA ADNEX 10% em dois estágios mostrou o melhor equilíbrio entre precisão e custo, com maior rendimento diagnóstico e menor mortalidade, sendo a mais indicada para aplicação clínica. Os achados ressaltam que aprimorar os fluxos diagnósticos pode reduzir custos e melhorar o prognóstico, especialmente com diagnóstico precoce e decisões cirúrgicas adequadas.
Autoria

Ênio Luis Damaso
Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).
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