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Ginecologia e Obstetrícia8 agosto 2024

Amamentação prolongada pode reduzir chances de câncer hematológico em crianças 

Estudo avaliou se amamentação exclusiva prolongada está associada à diminuição do risco de LLA infantil e outros tipos de câncer

Sabemos o quão relevante é a promoção do aleitamento materno exclusivo (AME) até os seis meses de idade para a prevenção de inúmeras doenças na infância. No entanto, será que a amamentação prolongada está também associada à diminuição do risco de câncer infantil, incluindo a leucemia linfoblástica aguda (LLA)? Estudos de caso-controle sugerem que sim, que a amamentação protege contra o câncer infantil, particularmente LLA (o câncer mais comum em crianças). Dessa forma, investigar se a maior duração do AME está associada à diminuição do risco de LLA infantil e outros tipos de câncer infantil foi o objetivo de um recente artigo publicado no JAMA Network Open.  

Amamentação prolongada

Metodologia 

Realizada na Dinamarca, a pesquisa consistiu em um estudo de coorte populacional, que usou dados administrativos do Danish National Child Health Register para analisar a duração do AME. Foram incluídas todas as crianças nascidas na Dinamarca entre janeiro de 2005 e dezembro de 2018, com informações disponíveis sobre o período de AME (para avaliar sua duração na infância).  

O desfecho primário consistiu nas associações entre a duração do AME e o risco de câncer infantil em geral e por subtipos. As crianças foram acompanhadas desde o primeiro ano de vida até o diagnóstico de câncer, perda de seguimento, emigração, óbito, 15 anos de idade ou 31 de dezembro de 2020. A análise dos dados foi realizada entre março e outubro de 2023. 

Resultados 

Durante o período de acompanhamento, totalizando 1.679.635 pessoas-anos, 0,1% das crianças receberam o diagnóstico de câncer, com uma idade média ao diagnóstico de 4,24 anos. Houve a participação de 194 meninos (58,4%) e 138 meninas (41,6%). Dos casos de câncer infantil, 37,3% foram de natureza hematológica, 13,3% foram tumores do sistema nervoso central (SNC), 24,1% foram tumores sólidos e 25,3% foram outras neoplasias malignas não especificadas. Entre os casos de câncer hematológico, a LLA foi o tipo mais comum, representando 65,3% dos casos, sendo que 91,4% destes correspondiam à LLA precursora de células B.  

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No geral, 38,3% das crianças diagnosticadas com câncer foram amamentadas exclusivamente por menos de três meses. A prática de AME por três meses ou mais foi associada a uma redução no risco de cânceres hematológicos em crianças, em comparação com períodos mais curtos de AME (hazard ratio [HR] ajustado [aHR] = 0,66; intervalo de confiança de 95% [IC 95%] 0,46-0,95). Especificamente, essa associação foi principalmente atribuída a uma diminuição no risco de LLA precursora de células B (aHR = 0,62; IC 95%, 0,39-0,99). Não foram observadas variações significativas nos riscos de tumor do SNC (aHR = 0,96; IC 95%, 0,51-1,88), tumores sólidos (aHR = 0,87; IC 95%, 0,55-1,41) ou neuroblastoma (aHR = 0,98; 95% CI, 0,32-3,06) com base na duração do AME. 

Conclusão 

Os pesquisadores observaram que amamentar exclusivamente por mais tempo (por exemplo, por pelo menos três meses) estava relacionado a um menor risco de LLA precursora de células B na infância. Essa descoberta está alinhada com pesquisas recentes que sugerem um papel importante da maturação precoce do microbioma intestinal no desenvolvimento desse diagnóstico na infância. Portanto, para orientar futuras estratégias preventivas, é necessário investigar mais a fundo os mecanismos biológicos subjacentes a essa associação. 

Comentário sobre amamentação prolongada

O estudo nos mostra que um maior tempo de AME pode ser um fator potencial na prevenção da LLA precursora de células B na infância. Esses resultados são consistentes com a crescente compreensão dos efeitos benéficos da amamentação na saúde infantil, incluindo o desenvolvimento do microbioma intestinal. A implicação de uma maturação precoce do microbioma intestinal na patogênese da LLA precursora de células B destaca a importância dos primeiros meses de vida na programação do sistema imunológico e na saúde em longo prazo da criança.  

No entanto, é importante notar que o estudo tem suas limitações, como a dependência de registros de saúde para dados e a possibilidade de outros fatores não medidos influenciarem os resultados. Portanto, são necessárias mais pesquisas para confirmar essa associação e entender melhor os mecanismos biológicos subjacentes, mas esses achados já fornecem uma base importante para futuras investigações e podem ajudar a informar políticas de saúde pública relacionadas à promoção do AME.

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