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Ginecologia e Obstetrícia19 outubro 2021

Adaptação cardiovascular na gestação: por que devemos conhecer?

A gestação envolve muitas adaptações. Dentre elas, a adaptação cardiovascular. Por isso, é importante se preparar para os eventos adversos.

Por Juliana Esteves

Já é do conhecimento de todos que a gestação envolve muitas adaptações nos órgãos e sistemas da mulher. Com o sistema cardiovascular não é diferente, e saber a adaptação cardiovascular que pode ocorrer nesse período permite ao médico se preparar para os acontecimentos e eventos adversos esperados sobre o binômio materno-fetal. 

Adaptação cardiovascular na gestação

Adaptação cardiovascular na gestação

A primeira alteração percebida no sistema materno é a vasodilatação periférica consequente à redução da resistência vascular periférica cujo principal objetivo é permitir o aumento do débito cardíaco (DC). O aumento do volume plasmático, já evidente nas primeiras semanas de gestação, também exerce importante papel na manutenção do DC, tendo atingindo o seu pico após 28 semanas. A massa ventricular também se modifica durante esse período, sem sofrer modificação no remodelamento ventricular, esta alteração é característica do primeiro e segundo trimestre. Dessa forma, a elevação do DC, que pode chegar a um aumento de 40% do seu valor basal, é mantida pela queda da resistência vascular periférica, aumento do volume plasmático e aumento da massa ventricular. A complacência aumentada da aorta também auxilia no processo. 

De uma forma simplificada, podemos dizer que a pressão arterial durante a gestação sofre uma pequena queda no primeiro trimestre, fica mais acentuada na segunda e retorna aos níveis pré-gestacionais no terceiro. Se pudéssemos representar o comportamento da pressão arterial na gestação usaríamos a letra “V” que representa muito bem esse comportamento. A frequência cardíaca tende a subir seus valores basais (10-20 bpm), o volume sistólico reduz e a pressão venosa pulmonar se mantém. 

Mas e no trabalho de parto? Tudo permanece mantido? 

Não, esse é um ponto importante quando falamos de gestante cardiopata. No parto, como consequência do lançamento do sangue dos sinusoides uterinos na circulação materna, ocorre o aumento da pré-carga, da pressão arterial e do DC, este último pode chegar a 50% do valor pré-parto. 

No período expulsivo, onde encontramos o pico de contração isométrica e de maior duração e frequência, o DC pode chegar a um aumento de 80% e a RVP que até então era reduzida, aumenta. 

As oscilações de PA não acompanham essas modificações no período expulsivo.  Deve-se acrescentar ainda a contribuição que a perda sanguínea exerce sobre essas modificações, lembrando que a perda estimada numa cesariana é o dobro da perda estimada em um parto vaginal. 

No pós parto, como consequência da autotransfusão uterina e da descompressão do fluxo da veia cava ocorre o aumento súbito do retorno venoso. Esse súbito aumento associado ao aumento da resistência vascular periférica são os responsáveis pelo aumento do risco de congestão pulmonar e edema agudo de pulmão no pós parto nas gestantes cardiopatas. O que nos permite tomar a conduta adequada frente a cada patologia de base apresentada. 

Quer saber mais sobre gestação de alto risco? Conheça a GARexp, equipe formada por quatro obstetras que, através de um olhar diferenciado com vida acadêmica dedicada ao ensino e pesquisa, tem o desejo de aprofundar o conhecimento sobre a verdadeira “gestação de risco”.

Referências Bibliográficas: 

  • Arq Bras Cardiol. 2020; 114(5):849-942
  • Posicionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia para Gravidez e Planejamento Familiar na Mulher Portadora de Cardiopatia – 2020
  • Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia
  • Physiological changes in pregnancy Cardiovasc J Afr.  Mar-Apr 2016;27(2):89-94.
  • Maternal cardiovascular hemodynamic adaptation in pregnancy. Duvekot JJ, et al. Obstet Gynecol Surv. 1994. 
  • Cardiovascular System in Preeclampsia and Beyond. Thilaganathan B, Kalafat E. Hypertension. 2019 Mar;73(3):522-531. 
  • Cardiovascular origins of preeclampsia. Kalafat E, Thilaganathan B. Curr Opin Obstet Gynecol. 2017 Dec;29(6):383-389
  • Maternal Cardiovascular Function in Normal Pregnancy Evidence of Maladaptation to Chronic Volume Overload. Melchiorre K, Sharma R, Khalil A, Thilaganathan B.  
  • Hypertension, 2016 Apr;67(4):754-62.
  • Physiologic and Hemodynamic. Changes During Pregnancy. Troiano NH. AACN Adv Crit Care. 2018.

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