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Gastroenterologia23 maio 2023

Transtorno alimentar restritivo/evitativo (TARE)

O TARE é um transtorno alimentar que foi recentemente descrito e que implica em grande impacto do ponto de vista nutricional e social.

A alimentação é, culturalmente, uma das formas de socialização. Queixas relacionadas à alimentação, como seletividade ou restrição alimentar, são muito comuns na prática médica e foram agrupadas em um diagnóstico relativamente novo, conhecido como Avoidant Restrictive Food Intake Disorder (ARFID) ou Transtorno Alimentar Restritivo/Evitativo (TARE).

Leia também: Câncer esofágico pós-bariátrica: a prevalência de refluxo pode favorecer o quadro?

O TARE inclui indivíduos de qualquer idade que apresentem comportamento alimentar anormal, que pode ou não levar à perda de peso, mas que sempre leva ao comprometimento da qualidade de vida. É mais frequente em crianças, e, em adultos, pode haver história pregressa de condições médicas relacionadas ao trato gastrointestinal (dor, náuseas ou vômitos que podem desencadear a aversão alimentar).

Entre as possíveis causas para esse comportamento, incluem-se pacientes que não comem por medo, por questões neurossensoriais e/ou por falta de apetite. Os indivíduos podem, ainda, relatar sensação de empachamento, epigastralgia ou falta de interesse em alimentar-se. Também está frequentemente relacionado a transtornos de ansiedade.  

É importante diferenciar o TARE da anorexia nervosa. Ambos têm em comum a restrição alimentar. Entretanto, no TARE essa restrição é decorrente de fatores como características sensoriais dos alimentos, medo das consequências de ingerir o alimento e/ou falta de interesse na ingestão, enquanto na anorexia nervosa a restrição alimentar se dá pelo medo de ganhar peso.  

TARE caracteriza-se pela falha persistente em satisfazer as necessidades nutricionais e/ou energéticas associadas a um ou mais dos quatro itens:  

  • Perda de peso significativa 
  • Deficiência nutricional significativa 
  • Dependência de alimentação enteral ou suplementos nutricionais e 
  • Interferência marcante no funcionamento psicossocial. 

Vale lembra que o TARE não é explicado por indisponibilidade de alimento ou por uma prática culturalmente aceita, e não há alterações na imagem corporal, assim como não é explicado por doença psiquiátrica ou patologia orgânica de base. Entre os aspectos mais marcantes da doença, destaca-se a interferência no funcionamento psicossocial. Os pacientes têm consciência do baixo peso e, em muitos casos, há, ainda, o desejo de ganho de peso corporal.  

Pacientes com TARE têm maior tempo de hospitalização e, quando desnutridos, necessitam mais frequentemente de alimentação por sonda nasoenteral em comparação com outros tipos de transtorno alimentar. 

Associação com o TEA e o TDAH 

Este transtorno alimentar é muito frequentemente associado ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) e ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Existem três subgrupos com características distintas:  

  1. Recusa alimentar por pouco apetite ou desinteresse por alimento, com limitada variedade alimentar (menos que 12 alimentos).
  2. Recusa alimentar devido às propriedades sensoriais do alimento (cor, textura, sabor e cheiro do alimento), com associação frequente a TEA e TDAH.
  3. Recusa alimentar por medo das consequências negativas, assemelha-se a uma fobia alimentar – vomitar, engasgar, sufocar ou contaminar-se com o alimento. 

Sabe-se que indivíduos com TEA apresentam cinco vezes mais chance de desenvolver TARE e que alguns indivíduos com autismo podem ser seletivos e apresentar obesidade devido à preferência por alimentos de alta densidade calórica. Isso não exclui o diagnóstico de TARE, desde que existam deficiências de micronutrientes e vitaminas – ferro, vitaminas A, C, D, E, entre outros. 

Tratamento

Ainda não existe um protocolo para o tratamento, mas sugere-se alguns aspectos gerais na abordagem: 

  • Dar ênfase a questão do sofrimento emocional
  • Realizar as refeições em um lugar seguro 
  • Consumir alimentos sadios ao invés de lanches 
  • Lidar com o estresse do paciente e da família 
  • Solicitar avaliação multiprofissional (fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo) quando necessário 
  • Terapia cognitiva comportamental (TCC)  

Complicações

As complicações médicas do TARE são decorrentes da desnutrição quando presente. Há evidências de que os indivíduos acometidos são mais suscetíveis a desenvolver bradicardia, prolongamento do intervalo QT e anormalidades eletrolíticas, além de impacto no desenvolvimento físico e sexual nos mais jovens. 

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Considerações finais

O TARE é um transtorno que foi recentemente descrito e, por se tratar de um transtorno alimentar, implica em grande impacto do ponto de vista nutricional e social. A recuperação é possível, com acompanhamento especializado e multidisciplinar.  Ainda há muito a se conhecer no universo do TARE. A variedade de manifestações clínicas aponta para a necessidade de uma abordagem terapêutica individualizada com envolvimento multidisciplinar.  

Este artigo foi escrito em parceria com: Danielle Martins Fernandes e Souza – Especialização em Gastrenterologia pelo Hospital Lifecenter. Especialização em Clínica Médica pelo Hospital Mater Dei, BH. Título de Especialista em Clínica Médica pela AMB. Gastrenterologista da Clínica NU.VE.M, BH. 

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Referências bibliográficas

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