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Gastroenterologia18 maio 2023

Câncer esofágico pós-bariátrica: a prevalência de refluxo pode favorecer o quadro?

Estudo compara a incidência de câncer gastroesofágico de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica com pacientes não submetidos ao tratamento.

Por Felipe Victer

Recentemente há se apresentado a diminuição da incidência de câncer como um benefício direto da perda de peso, por fatores ainda não muito determinados. No entanto, a cirurgia bariátrica altera drasticamente a fisiologia da região gastroesofágica, podendo aumentar a prevalência de refluxo, este diretamente relacionado ao adenocarcinoma de esôfago. Além disso, a maioria dos casos de câncer de estômago em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica ocorre no estômago exclusivo do bypass, o que pode sugerir que a manutenção de um refluxo biliar teria alguma influência.

Leia também: Uma vez com refluxo, qual a melhor opção cirúrgica?

pós-bariátrica a prevalência de refluxo pode favorecer o quadro

Novo estudo

Publicado no JAMA Surgery no último mês, estudo retrospectivo francês, utilizou uma base de dados de pacientes internados em um dos hospitais do país. O anonimato dos pacientes foi preservado através de uma identificação numérica, e também dos acompanhantes e dos diferentes hospitais nos quais o paciente possa ter se internado.

Foram, inicialmente, identificados todos os pacientes internados que possuíam obesidade. Posteriormente foram identificados pacientes submetidos a qualquer procedimento bariátrico. Todos os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica obrigatoriamente foram erradicados para Helicobacter pylori, fato que não ocorreu necessariamente com os pacientes não operados.

O desfecho primário determinado foi a presença de câncer de esôfago ou de estômago, classificados CID 10: C15 e C16.

Para fins de estatística foi estabelecida uma correlação de proporção de 1:2. Isto é, para cada pacientes que foi submetido a cirurgia bariátrica, foram incluídos dois pacientes com características clínicas semelhantes, não operados, para compor o grupo controle.

Resultados

Entre 2010 e 2019, 3.633.019 pacientes com obesidade foram admitidos nos hospitais da França, sendo que 303.709, maiores de 18 anos foram submetidos a cirurgia bariátrica. Foram excluídos quaisquer pacientes que desenvolveram câncer até dois anos após a realização da cirurgia, a fim de excluir qualquer possibilidade de câncer prévio.

Saiba mais: Ganho de peso após cirurgia bariátrica: preditores, causas e tratamento

No grupo cirúrgico 80,9% eram do sexo feminino, idade média de 40,2 anos. Foram equiparados a 605.140 pacientes não operados para o grupo controle. Neste grupo, a proporção de mulheres era 82,8% e a idade média de 40,4 anos.

Ao todo, 337 pacientes desenvolveram câncer, 83 no grupo cirúrgico e 254 no grupo controle. O câncer gástrico (n=225) foi duas vezes mais comum que o câncer esofágico (n=112). A incidência foi de 6,9 por 100.000 no grupo controle e 4,9 por 100 mil no grupo cirúrgico, que representa uma redução da taxa de incidência de 1,42 (95% IC, 1,11-18,2; p=0,005).

A mortalidade hospitalar foi maior no grupo controle com uma sobrevida de 98,5% aos nove anos de observação, enquanto a sobrevida do grupo cirúrgico foi de 99,1% (p=0,001).

Considerações

Este estudo compara e demonstra uma diminuição da incidência de câncer gastroesofágico em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica. Não houve diferença entre os diferentes tipos de cirurgia bariátrica.

O maior estudo até a presente data observou 21 casos de câncer de esôfago em 49 mil pacientes por 5,3 anos, o que representa uma incidência na população de 8,1 casos por 100 mil pessoas por ano.

Os dados encontrados neste estudo sugerem uma diminuição na frequência de câncer gastroesofágico, mesmo que teoricamente as alterações fisiológicas desencadeadas pela cirurgia bariátrica possam ter um papel no aumento do câncer gastroesofágico.

Alguns trabalhos demonstraram o surgimento de Barrett em até 18,8% dos pacientes submetidos a gastrectomia vertical, no entanto estes dados devem ser analisados com calma, visto que nestes relatos o Barrett era não displásico e menor que três centímetros.

Um ponto importante que deve ser levado em consideração é o de que, como o programa de bariátrica exige, todos os pacientes tiveram seu H. pylori erradicado, e, portanto, isto exclusivamente poderia ser um mecanismo de proteção contra o câncer, que no grupo controle não foi avaliado.

Conclusão

A cirurgia bariátrica reduz a incidência de câncer na população obesa, submetida a cirurgia.

Mensagem prática

Além dos benefícios sociais e fisiológicos com diminuição direta da diabetes e hipertensão, a cirurgia bariátrica está cada vez mais associada à diminuição de câncer. Assim, cada vez mais esse tratamento da obesidade tem demonstrado seus inúmeros benefícios.

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Referências bibliográficas

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