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Gastroenterologia12 agosto 2025

Taxa de recorrência de peritonite bacteriana espontânea em pacientes cirróticos

Estudo comparou a mortalidade e a taxa de recorrência de peritonite bacteriana espontânea entre dois grupos de pacientes
Por Redação Afya

O artigo em questão é um estudo observacional, publicado em 2024 no American Journal of Gastroenterology, que avaliou pacientes cirróticos com pelo menos um episódio prévio de peritonite bacteriana espontânea (PBE), comparando os pacientes que receberam e os que não receberam profilaxia secundária com antibiótico para PBE, visando comparar a mortalidade e a taxa de recorrência de PBE entre os dois grupos.

A PBE é uma complicação frequente nos pacientes portadores de cirrose avançada que desenvolvem ascite. É uma condição potencialmente grave, visto que o atraso ou a ausência de tratamento, podem causar injúria renal aguda, insuficiência hepática aguda e óbito. Devido a esse potencial de gravidade e a possibilidade de recorrência após um primeiro episódio, as diretrizes atuais preconizam profilaxia secundária com antibioticoterapia diária (fluoroquinolonas ou sulfametaxazol+trimetoprim). Recentemente, com o aumento da resistência antimicrobiana, faz se necessário reavaliar a necessidade e os benefícios dessa profilaxia.

Leia mais: Manejo das complicações relacionadas à cirrose hepática

Métodos

– População estudada: Pacientes dos sistemas VA (Veterans Affairs) e TriNetX (população geral dos EUA), totalizando mais de 11.000 indivíduos com cirrose e sobreviventes de episódio prévio de PBE.

– Foram avaliados dados retrospectivos de 2009 a 2019.

– Os pacientes foram separados em 2 grupos: pacientes sem profilaxia antibiótica x pacientes que receberam profilaxia secundária (fluoroquinolonas ou sulfametaxazol+trimetoprim).

– Desfechos avaliados: recorrência de PBE, taxa de mortalidade e taxa de transplante hepático em até 2 anos de seguimento.

Resultados principais

1. VA (n=4673) – 54,3% receberam profilaxia secundária.

– A taxa de recorrência de PBE foi 63% maior nos pacientes que receberam profilaxia (HR: 1,63 / IC95%: 1,40-1,91 / p<0,001).

– As taxas de mortalidade e transplantes não foram menores no grupo com profilaxia.

– A resistência às fluoroquinolonas foi significativamente maior nos pacientes que realizaram a profilaxia (OR:4,32/ IC95%: 1,36-15,83).

2. TriNetX (n= 6708) – 48,6% receberam a profilaxia.

– Houve aumento de 68% na recorrência de PBE no grupo que recebeu profilaxia (HR:1,68 / IC95%: 1,33-1,80 / p<0,001).

– A taxa de mortalidade não apresentou diferença entre os dois grupos (OR:1,02 / p=0,80).

A discussão do artigo baseia-se em mostrar que a profilaxia secundária recomendada nas principais diretrizes de hepatologia não reduziu a mortalidade e aumentou significativamente a recorrência de PBE no estudo em questão, possivelmente por seleção de patógenos resistentes. Sendo assim, infere que a profilaxia universal poderia ser mais prejudicial que benéfica aos pacientes cirróticos, sugerindo o uso criterioso da profilaxia secundária.

Conclusões e mensagens práticas

O estudo tem relevância no cenário da hepatologia, apresenta um N significativo, em duas cortes independentes e com follow up de até dois anos. Mas, como limitações, apresenta natureza observacional e poucos pacientes tinham culturas disponíveis para análise detalhada da resistência bacteriana.

A profilaxia secundária para PBE é amplamente utilizada na prática clínica, mas esse estudo em dois grandes bancos de dados norte-americanos sugere que ela pode estar associada a maior risco de recorrência, sem benefícios na taxa de mortalidade. Mais estudos precisam ser realizados (preferencialmente ensaios clínicos randomizados) para que ocorra uma mudança em guidelines já bem estabelecidos e validados, mas ainda assim, esse resultado serve de alerta sobre a necessidade de considerar estratégias individualizadas e baseadas no risco microbiológico local, identificando os subgrupos de pacientes que realmente se beneficiariam da profilaxia secundária.

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Referências bibliográficas

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