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Gastroenterologia24 julho 2023

Recompensação hepática após abstinência de álcool e sobrevida de cirróticos 

O consumo excessivo de álcool e a doença hepática relacionada ao álcool estão entre as principais causas de morbimortalidade relacionadas ao fígado em todo o mundo.

Pacientes que evoluem para cirrose hepática etanoica frequentemente apresentam descompensação hepática, a qual está associada a um aumento significativo da mortalidade. A remoção ou tratamento do fator causal da doença hepática crônica avançada permite a restauração da função hepática, muitas vezes com recompensação do quadro. Hofer e colaboradores avaliaram os benefícios clínicos associados à obtenção da recompensação hepática pelos critérios de Baveno VII em pacientes com cirrose descompensada relacionada ao álcool. 

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Recompensação hepática após abstinência de álcool e sobrevida de cirróticos 

Metodologia  

Trata-se de estudo observacional unicêntrico, que incluiu pacientes com doença hepática crônica avançada descompensada de etiologia etanólica submetidos a medida basal do gradiente de pressão venosa hepática na Universidade de Viena entre janeiro de 2004 e dezembro de 2020. Após a avaliação inicial do gradiente pressórico, pacientes em abstinência alcoólica foram acompanhados a cada 3 meses no ambulatório de hepatologia da Universidade de Viena. Posteriormente, todos os pacientes foram avaliados retrospectivamente quanto a recompensação hepática definida pelos critérios de Baveno VII: (i) a remoção da etiologia subjacente (ou seja, abstinência persistente de álcool), (ii) resolução de ascite e encefalopatia hepática, definida por descontinuação de diuréticos e de tratamento específico para encefalopatia, (iii) nenhum sangramento varicoso nos últimos 12 meses e (iv) melhora sustentada na função bioquímica do fígado (albumina, bilirrubina e INR). 

A aderência à abstinência alcoólica ao longo do estudo foi avaliada em todas as consultas ambulatoriais por médicos hepatologistas com base em dados clínicos e laboratoriais, bem como informações fornecidas pelos próprios pacientes e seus familiares. Análises laboratoriais incluíram a dinâmica da gama-glutamiltransferase (GGT) e do volume corpuscular médio das hemácias. 

Resultados 

Foram incluídos 204 pacientes, sendo 75% homens, com mediana de idade de 57 anos. O gradiente de pressão venosa hepática mediano foi de 20 mmHg, sendo que 56,9% dos pacientes apresentavam valores basais superiores a 20 mmHg. Ao longo do estudo, 37 pacientes (18,1%) evoluíram com recompensação hepática de acordo com os critérios de Baveno VII. A incidência cumulativa de recompensação hepática foi de 9,0% em um ano, 16,3% em dois anos e 17,7% em três anos. Ao início do estudo, os pacientes que recompensaram durante o acompanhamento apresentavam escore de CHILD-PUGH (7 [6–9] vs. 8 [7-10]) e gradiente de pressão venosa hepática (19 [17–21] versus 21 [18–24] mmHg) significativamente menores, além de uma pressão arterial média mais alta (101 [94-108] versus 94 [86–104] mmHg). 

Os pacientes foram acompanhados por uma média de 24,4 (10,9–50,4) meses. No geral, 62 pacientes (30,4%) morreram durante o acompanhamento. Dessas mortes, 52 (83,9%) e 10 (16,1%) foram classificadas como relacionadas ao fígado e não relacionadas ao fígado, respectivamente. Transplante hepático foi realizado em 29 pacientes (14,2%). A recompensação hepática foi associada a uma redução de 91% no risco de morte relacionada ao fígado (aHR: 0,091 [IC 95%: 0,012–0,677]; p= 0,019), bem como a uma redução de 78% no risco de morte por todas as causas (aHR: 0,220 [IC 95%: 0,066–0,735]; p= 0,014). Um novo episódio de descompensação hepática ocorreu em 3 pacientes (8,1%) que já haviam alcançado a recompensação hepática e permaneceram abstinentes.  

Treze pacientes (6,4%) foram diagnosticados com carcinoma hepatocelular (CHC) durante o período de acompanhamento. O CHC ocorreu em dois pacientes recompensados (5,4%) em comparação com 11 pacientes descompensados (6,6%). Apesar da tendência de redução do risco de desenvolvimento de CHC em pacientes recompensados, esse achado não alcançou significância estatística (HR: 0,398 [IC 95%: 0,084– 1,878]; p= 0,245).  

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Mensagens práticas sobre recompensação hepática

A abstinência de álcool levou à recompensação hepática em aproximadamente um quinto dos pacientes com cirrose alcoólica descompensada. Alcançar a recompensação hepática resultou em uma redução acima de 90% na mortalidade relacionada ao fígado, sendo um importante fator prognóstico. Pacientes recompensados permaneceram em risco de desenvolvimento de CHC, o que destaca a importância dos programas de rastreamento em pacientes com cirrose, mesmo após a recompensação. A cirrose hepática etanólica descompensada é associada a alta mortalidade. 

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Referências bibliográficas

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