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Psiquiatria21 fevereiro 2023

Nenhum nível de consumo de álcool é seguro

O Centro Canadense de Uso e Dependência de Substâncias atualizou as Diretrizes de Consumo de Álcool de Baixo Risco do Canadá.

Por Tayne Miranda

A ideia do projeto é fornecer informações para que a população do Canadá faça decisões bem-informadas e responsáveis sobre seu consumo de álcool, promovendo a autonomia da população na redução dos riscos associados ao uso. O documento chamou a atenção ao apontar que não haveria quantidade segura de ingestão alcóolica e que beber no máximo duas cervejas de 341 ml com 5% de álcool seria a quantidade considerada de baixo risco.

Leia também: Não existe dose segura para ingestão de álcool em pacientes cirróticos compensados

A informação chocou o grande público, já que tradicionalmente se falava sobre uma quantidade segura de uso de álcool entre sete e 14 doses padrão [Dose padrão: quantidades equivalentes a 13,45 g de álcool puro. 341 ml de cerveja (uma lata), 142 ml de vinho (uma taça), 43 ml de destilados (uma dose).]. Não obstante, nos últimos anos, diversas associações e organismos internacionais vêm declarando a inexistência de dose segura de uso.

O documento aponta ainda o risco associado a cada quantidade de álcool ingerida semanalmente, em um continuum, como segue:

0 doses por semana: não beber tem benefícios como uma saúde e sono melhores.

2 doses por semana: neste nível é provável que você evite consequências negativas a sua saúde.

3-6 doses por semana: o risco de desenvolver vários tipos de câncer, como de cólon e mama, aumentam nesse nível.

7 doses ou mais por semana: o risco de doenças cardíacas e acidente vascular cerebral aumentam significativamente neste nível.

Ainda assim, não importa em que ponto da intensidade de uso você esteja, quanto menor o consumo de álcool melhor para sua saúde.

A diretriz ainda ressalta os riscos para si e para os outros associados a lesões e violência que estariam associados a um consumo de álcool maior do que dois drinks, principalmente para o público masculino, a implicação do álcool em doenças hepáticas, para além da sua já sabida associação com sete tipos de câncer (principalmente de cólon e mama). Outras informações já bem consolidadas, como a ausência de dose segura na gestação ou amamentação também são ressaltadas.

O álcool é uma substância tóxica, psicoativa, produtora de dependência, classificada pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer como carcinógeno do Grupo 1 – o grupo de mais alto risco, o qual também inclui asbesto, radiação e tabaco. É importante salientar que o risco está associado a presença do etanol em si, independente do preço e qualidade da bebida.

O risco de desenvolvimento de câncer aumenta substancialmente quanto mais álcool é consumido. Contudo, mais da metade dos cânceres atribuídos ao uso de álcool na Europa são causados por padrões de consumo leves a moderados — menos de 1,5 litros de vinho, menos de 3,5 litros de cerveja por semana. Esse padrão de consumo é responsável pela maior parte dos cânceres de mama atribuídos ao uso de álcool.

Saiba mais: O que todo médico precisa saber sobre hepatite alcoólica

A despeito de ser bem estabelecido o papel carcinogênico do álcool, essa informação não é conhecida do grande público. Especialistas sugerem que, bem como nas embalagens dos produtos derivados do tabaco, as bebidas alcóolicas deveriam ter mensagens e alertas em suas embalagens.

As evidências disponíveis não podem indicar a existência de um limiar a partir do qual os efeitos cancerígenos do álcool começam a se manifestar. Assim, não poderíamos falar em um nível seguro do uso de álcool.

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Referências bibliográficas

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