Injúria hepática associada à Covid-19 é definida por qualquer lesão hepática ocorrida durante a progressão e tratamento da doença em pacientes com ou sem doença hepática preexistente.
A incidência de elevação de enzimas hepáticas em pacientes hospitalizados com Covid-19 varia de 14% a 53%, principalmente as custas de AST e ALT elevadas 1-2 vezes o limite superior da normalidade. A lesão hepática ocorre, mais comumente, em casos graves da doença, é geralmente transitória e não requer tratamento.
Acredita-se que a elevação das enzimas hepáticas possa refletir um efeito citopático induzido pelo vírus e/ou dano secundário a resposta imune inflamatória, incluindo elevação de IL-1β, IL-6 e TNF-α.
Injúria hepática na Covid-19
Recentemente, Parohan e colaboradores realizaram estudo de revisão sistemática seguida de metanálises, incluindo 20 estudos retrospectivos, todos realizados na China, com 3.428 pacientes infectados com Covid-19 (1455 casos graves e 1.973 casos leves).
Observou-se que níveis elevados de AST (diferença ponderada das médias = 8,84 U/L, IC 95% = 5,97-11,71, P <0,001), ALT (diferença ponderada das médias = 7,35 U/L, IC 95% = 4,77-9,93, P <0,001) e bilirrubinas (diferença ponderada das médias = 2,30 mmol/L, IC 95% = 1,24-3.36, P <0,001) se associaram com maior gravidade da Covid-19, assim como redução nos níveis de albumina (diferença ponderada das médias = -4,24 g/L, IC 95% = -6,20 a -2,28, P <0,001).
Cai e colaboradores também demonstraram que a presença de hepatite de padrão hepatocelular ou misto na admissão aumenta o risco de progressão para doença grave em 2,73 vezes (IC 95% 1,19-6,3) e 4,44 vezes (IC 95% 1,93-10,23), respectivamente.
Nesse mesmo sentido, Fan et al., em estudo retrospectivo unicêntrico, observaram associação da alteração da função hepática com maior tempo de internação (15,09 ± 4,79 dias x 12,76 ± 4,14 dias; P = 0.021), corroborando os achados de maior gravidade da doença nesse subgrupo de pacientes.
De maneira semelhante, estudos prévios demonstraram associação da injúria hepática com gravidade de doença e mortalidade na SARS e MERS. A incidência de lesão hepática na Covid-19 grave variou de 58-78%, sendo, portanto, um achado muito frequente em pacientes críticos.
Mais do autor: Covid-19: como é a relação do novo coronavírus com o fígado?
Conclusão
Portanto, conclui-se que a avaliação da função hepática pode ser útil como fator prognóstico e deve ser incluída na rotina laboratorial de pacientes com Covid-19.
Referências bibliográficas:
- Parohan M, et al. Liver injury is associated with severe Coronavirus disease 2019 (Covid‐19) infection: a systematic review and meta‐analysis of retrospective studies. Hepatol Res. 2020 May 9. doi: 10.1111/hepr.13510.
- Cai O, et al. Covid-19: Abnormal Liver Function Tests. J Hepatol. 2020 Apr 13; S0168-8278(20)30218-X. doi: 10.1016/j.jhep.2020.04.006.
- Fan Z, et al. Clinical Features of Covid-19-Related Liver Damage. Clin Gastroenterol Hepatol. 2020 Apr 10;S1542-3565(20)30482-1. doi: 10.1016/j.cgh.2020.04.002.
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