ESPGHAN 2024: Eosinofilia assintomática do trato gastrointestinal
As doenças eosinofílicas gastrointestinais correspondem a um espectro condições caracterizadas por apresentarem infiltrados intensos de eosinófilos nos seguimentos do trato gastrointestinal (TGI), representadas pela esofagite eosinofílica (EoE), gastrite eosinofílica (GE) e a colite eosinofílica (CE) na grande maioria das vezes. Clinicamente os sintomas são diversos, de acordo com a idade do paciente e do seguimento acometido do TGI, com destaque para vômitos, impactação alimentar, estenoses, perda ponderal, dor abdominal e diarreia.
Durante o 56ª Encontro Anual da Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN 2024), foram abordados aspectos relacionados a pacientes com achados histológicos importantes de eosinofilia no TGI, sem evidência de sintomas clínicos.
Para ilustrar esse aspecto, o Dr. Noam Zevt, apresentou um caso clínico de um paciente que, em 2016, apresentou um achado histológico de cerca de 90 eosinófilos por campo e estava completamente assintomático. Realizado seguimento desse paciente, porém a eosinofilia intensa permanecia. Durante todas as visitas ao gastroenterologista, foi aplicado o Pediatric Eosinophilic Esophagitis Symptom Score (PEESS v2.0), sendo o valor máximo desse escore 100 (muito sintomático) e o corte para presença de sintomas acima 20, o paciente sempre se manteve abaixo de 20 em todas as consultas até então.
Após quatro anos de seguimento, paciente foi novamente submetido a avaliação o padrão da eosinofilia, agora mais de 100 eosinófilos por campo e intensa hiperplasia basal, se mantendo assintomático e com bom ganho pondero-estatura. Até que em 2022, paciente apresentou PEESS v2.0 de 30, realizada então dieta de exclusão dos principais alimentos (leite, ovo, trigo), sem resposta satisfatória, avançando então para o uso da budesonida deglutido.
O caso clínico apresentado por Dr. Noam, fomentou algumas questões:
- Será que não estávamos diante do um caso de EoE desde 2016?
- Será que não poderíamos chamar esse paciente de EoE pré-sintomática ou estágio zero?
- Uma intervenção precoce preveniria essa progressão?
- Será que poderíamos mudar os algoritmos em casos como esse?
- Podemos personalizar o diagnóstico nesses casos assintomáticos.
São muitas questões e poucas respostas, pela ausência de dados que suportem. A história natural dos pacientes com eosinofilia esofágica e sem sintomas, em geral é resultado de uma endoscopia direcionada para condições como doença celíaca (DC), que durante o “caminho” há achados compatíveis com EoE macroscopicamente. Ele corrobora esses dados com um estudo que evidencia a sobreposição de DC e EoE, variando entre cerca de 6 e 11%, não podendo ser considerado como uma manifestação atípica da DC.
De forma comparativa, os dados de adultos, são fortes no Japão e são oriundos do grande screening realizado na população para carcinoma gástrico. Os estudos japoneses trazem dados de que 50% dos adultos apresentam história de atopia e que durante um seguimento de cerca de três anos, nenhum dos 54 pacientes se tornaram assintomáticos, mas os resultados são heterogêneos.
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Mensagens práticas
Em pacientes com eosinofilia esofágica e assintomáticos, a possibilidade de progressão para uma EoE “clássica” precisa ser considerada. Não existem diferenças histológicas ou endoscópicas entre esses pacientes. Alergias alimentares podem ser potencializadoras dessa eosinofilia do TGI e deve ser considerada nesses pacientes. Seria esse um novo fenótipo? Apesar de todas as explanações realizadas por Dr. Noam, ela acredita que esses pacientes não devam ser tratados. Mas ele questiona: Será que os gastroenterologistas estão preparados para realizar um diagnóstico precoce? Ela conclui dizendo que todas as condições possuem um começo e que elucidar esse estágio é um passo inicial para compreensão da eosinofilia assintomática de esôfago.
Confira todos os destaques do ESPGHAN 2024 aqui!
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