Antieméticos no manejo perioperatório de náuseas e vômitos em cirurgia bariátrica
Ensaio clínico comparou a incidência de náuseas e vômitos no pós-operatório em grupos sob diferentes regimes antieméticos.
A realização de cirurgias bariátricas, como sleeve gástrico, para tratamento da obesidade tem aumentado significativamente nas últimas décadas. Embora sejam procedimentos bem estabelecidos e realizados, em sua maioria, de forma minimamente invasiva, podem incorrer em complicações. Náuseas e vômitos no pós-operatório (NVPO) estão entre as intercorrências mais comuns, afetando significativamente a morbidade perioperatória, já que podem prolongar tempo de permanência hospitalar, início de ingesta oral de alimentos, além de causar desconforto ao paciente.
Visando reduzir a incidência de NVPO, medidas como as instituídas no projeto ERAS (Enhanced Recovery After Surgery), têm sido implementadas. embora úteis, tais ferramentas apenas minimizam a problemática, visto que a ocorrência de NVPO, mesmo com tais ferramentas, ainda pode chegar à 30 a 65% nos pacientes pós-bariátricos.
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Por isso, o uso de antieméticos em monoterapia ou em associação tem sido implementado nesse contexto. Antagonistas dos receptores de dopamina, antagonistas dos receptores de 5-HT3, corticoides e anticolinérgicos estão entre as principais classes farmacológicas utilizadas, não havendo consenso em relação ao fármaco mais eficaz no contexto preventivo, o que torna seu uso questionável.
Métodos
Visando elucidar qual antiemético é mais eficaz no manejo de NVPO do paciente pós-bariátrico, um recente ensaio clínico comparou a incidência desse evento em até 48 horas após realização de sleeve gástrico laparoscópico em grupos submetidos a diferentes regimes antieméticos. Cento e trinta pacientes foram subdivididos nos seguintes grupos: tratados com metoclopramida os quais receberam 0,2 mg/kg/dia até 10 mg EV 3x/dia (AM, N=26); tratados com ondansetrona os quais receberam 0,1 mg/kg/dia até 8 mg EV (AO, N=26); tratados com metoclopramida e ondansetrona os quais receberam uma combinação das medicações (MO, N=26); tratados com granisetrona os quais receberam 2 mg EV BID (AG, N=26) e controle (GC, N=26). Todos foram manejados conforme princípios do protocolo ERAS. A ocorrência de NVPO foi avaliada por meio de escala formulada através de questionário simplificado aplicado diariamente após a cirurgia.
Resultados
A menor incidência de náuseas e vômitos durante toda a estadia hospitalar foi no grupo MO (46%) comparativamente ao grupo controle (53,8%), enquanto a maior incidência foi nos grupos AO e AG (61,5% em ambos). Adicionalmente, pacientes do grupo MO não necessitaram de antieméticos de resgate, já ⅓ dos pacientes controle demandaram resgate (0 versus 34%).
Conclusão
Em resumo, a combinação dos antieméticos metoclopramida e ondansetrona se mostrou efetiva na redução de NVPO intra-hospitalar após sleeve gástrico. Mecanismos de ação diferentes desses fármacos possivelmente potencializam o efeito antiemético, além de reduzir risco de efeitos adversos decorrentes da administração de altas doses em monoterapia.
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Mensagem prática
A adoção de medidas que aceleram a recuperação do paciente pós cirúrgico deve ser uma das diretrizes práticas do cirurgião, devendo este também adotar medidas preventivas que possam potencialmente reduzir complicações ou até mesmo possibilitar maior conforto ao paciente operado. Nesse contexto, a associação de antieméticos com diferentes mecanismos de ação pode ser uma ferramenta útil na profilaxia de NVPO do paciente bariátrico.
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