Acupuntura pode prevenir náuseas e vômitos pós-operatórios em videolaparoscopias?
Náuseas e vômitos pós-operatórios são uma complicação bastante comum. Por isso, este estudo avaliou o uso da acupuntura na prevenção.
Náuseas e vômitos pós-operatórios (NVPO) são uma complicação bastante comum, chegando a uma estatística de até 70% dos pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos. Está relacionada a efeitos negativos, como maior tempo de internação e insatisfação do paciente, além de complicações clínicas, como desidratação, perda de eletrólitos, sangramento, deiscência de sutura e aspiração do conteúdo gástrico.
O arsenal farmacológico terapêutico é bastante vasto, porém as medicações utilizadas não estão isentas de efeitos colaterais, além de aumentar o custo da internação. Devido a isso, surge a necessidade de terapias alternativas, sem efeitos colaterais, como a acupuntura, para melhor tratamento desses pacientes. Alguns fatores contribuem para uma maior incidência de NVPO, como fatores relacionados ao paciente e fatores relacionados ao tipo de cirurgia.
A cirurgia de colecistectomia videolaparoscópica é uma das cirurgias com maiores índices de NVPO. Esse estudo visou entender se o uso da auriculoacupuntura em pacientes submetidos à colecistectomia por videolaparoscopia é benéfico para a profilaxia de NVPO.
Acupuntura para náuseas e vômitos pós-operatórios
O estudo prospectivo, duplo-cego, randomizado e controlado por placebo foi realizado após todo o protocolo de regulamentação e consentimento das sociedades envolvidas. Foram avaliados o total de 68 pacientes no período de dezembro de 2016 a setembro de 2017, submetidos a colecistectomia por videolaparoscopia e divididos em dois grupos: grupo controle com 33 pacientes e grupo AA com 35 pacientes.
Os critérios de inclusão foram pacientes do sexo feminino entre 18-70 anos com IMC < 35 e ASA 1 e 2. Pacientes com complicações cirúrgicas ou anestésicas e que apresentaram náuseas e vômitos no período pré-operatório ou que fizeram uso de anti-heméticos 12 horas antes da cirurgia ou eram dependentes de drogas foram excluídos do estudo, assim como cirurgias com tempo superior a 90 minutos.
Nos pacientes do grupo AA foi realizada auriculoacupuntura com agulhas de aço 316 L, inseridas perpendicularmente a pele em uma profundidade de 3 mm no ponto de gatilho durante 20 minutos em uma única sessão. No grupo controle foi colocado esparadrapos sem semente em todos os pontos auriculares responsáveis pelo estímulo hemético. Toda a técnica foi orientada por um acupunturista sênior. Foi utilizado a escala visual analógica para medir a intensidade da náusea e vômitos.
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A anestesia foi realizada com uma sedação prévia com 5 mg de midazolan e a indução com 2 mg/kg de propofol, 5 mcg/kg de fentanil e 0,6 mg/kg de rocurônio em todos os pacientes. Também foi administrado 2 g de cefazolina sódica profilática e 2 g de dipirona, 40 mg de paracetamol e 10 mg de metoclopramida (motivos éticos) no início da cirurgia. Para analgesia pós-operatória foi realizado infiltração de todos os sítios de incisão dos trocateres com ropivacaína 0,75% na dose máxima de 150 mg além de 100 mg de cetoprofeno EV de 12/12 horas e 2 g de dipirona EV de 8/8 horas. Nos casos de náuseas e vômitos de grande intensidade foi realizado 4 mg de ondansetrona EV.
Os dados coletados foram realizados no período de seis horas após o fim do procedimento. Os pacientes foram acompanhados por um examinador cego à randomização nos períodos: imediatamente após a extubação, periodicamente de forma contínua até a segunda hora após a extubação e na quarta e sexta horas seguintes.
Náuseas e vômitos foram avaliados segundo a escala visual. Náuseas foram definidas como percepção iminente e desagradável de necessidade de vomitar e vômitos como contrações abdominais involuntárias resultando em eliminação do conteúdo gástrico.
Resultados
Todas as pacientes obtiveram alta 24 horas após a realização do procedimento e não houve complicações nem lesões relacionadas ao agulhamento.
O grupo AA apresentou menos episódios de NVPO do que o grupo controle (16/35 vs 27/33). Diferença bastante significativa.
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Em relação a intensidade dos sintomas o grupo AA também apresentou menores dados. No tempo zero (imediatamente após a extubação), quatro pacientes do grupo controle contra 1 paciente do grupo AA apresentaram náusea de intensidade grave. Na segunda hora, sete pacientes do grupo controle contra zero pacientes do grupo AA (o que fez necessidade de uso de ondansetrona nos pacientes do grupo controle) e na sexta hora sete pacientes do grupo controle contra um paciente do grupo AA apresentaram náuseas e vômitos de grande intensidade.
No total, a diferença de incidência de náuseas e vômitos entre os grupos foi bem significante, sendo 2% no grupo AA contra 21% no grupo controle.
Discussão
A cirurgia de colecistectomia por videolaparoscopia ocorre com uma incidência grande na população em geral por conta dos casos de colelitíase e sabe-se que a incidência de NVPO nesse procedimento pode atingir 30% dos casos, tornando o pós operatório mais demorado, desconfortável e dispendioso. Sabe-se também que a terapia farmacológica para prevenção de NVPO além de gerar efeitos colaterais nem sempre é efetiva, devendo-se lançar mão de estratégias alternativas.
A acupuntura é mundialmente conhecida e bem conceituada na Medicina Tradicional Chinesa e vem sendo utilizada por séculos no diagnóstico e tratamento de diversas patologias, além disso é uma terapia alternativa de baixo custo, fácil realização e de pouquíssimas complicações e efeitos colaterais. A base do tratamento consiste na promoção do equilíbrio de substâncias neuroquímicas no sistema nervoso central e na recuperação e manutenção da hemostasia via estímulo elétrico de baixa frequência pela pele.
Alguns trabalhos foram realizados utilizando a acupuntura como forma alternativa de tratamento anti-hemético e analgésico pós-cirúrgico principalmente em cirurgias de histerectomia, com resultados satisfatórios. Apenas esse estudo foi encontrado para a análise desses fatores em cirurgias de colecistectomia videolaparoscópica.
Apesar do estudo apresentar algumas limitações, como número baixo de pacientes escolhidos e tipo de amostragem, uma vez que fatores de risco para NVPO foram excluídos do mesmo, além de não ter havido controle após a sexta hora de pós-operatório, evidenciou-se que o grupo que recebeu a terapia alternativa apresentou menor incidência de NVPO, significativamente falando, do que os que não receberam.
Concluindo, dentro dessas variáveis pode-se afirmar que o emprego da auriculoacupuntura pode ajudar a prevenir a incidência de NVPO em pacientes submetidos a colecistectomia por videolaparoscopia sem complicações, porém maiores estudos com maior número de pacientes, devem ser realizados para concretização dessa técnica.
Referências bibliográficas:
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- Chengwey F et all. Acupuncture therapy on postoperative nausea and vomiting in abdominal operation.Medicine: June 05, 2020 – Volume 99 – Issue 23 – p e20301.
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