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Endocrinologia5 novembro 2024

Vitamina K2 reduz frequência e intensidade de câimbras noturnas em idosos

Estudo analisou os efeitos da vitamina K2 na população idosa geral para entender se há benefícios na melhora das cãibras noturnas

Praticamente todos os médicos que atuam no atendimento de pacientes idosos já se depararam com uma queixa frequente: cãibras noturnas. E pior, também se depararam com a dificuldade em controlar tais sintomas, visto que não temos opções seguras ou com perfil risco x benefício adequado (a cloroquina já foi utilizada no passado com esse intuito e, apesar de alguma eficácia, os riscos claramente superam os benefícios). 

Antes de se estabelecer o diagnóstico de cãibras benignas, é fundamental descartar diferenciais como sintomas de neuropatias e suas respectivas causas, além de distúrbios hidroeletrolíticos que possam eventualmente estar associados à causa do problema. Contudo, é comum que os sintomas persistam mesmo após a exclusão de tais diagnósticos. 

Um grupo de pesquisa na China havia avaliado previamente o impacto do uso da vitamina K2 nas cãibras em indivíduos com doença renal crônica (DRC) dialítica, com um impacto positivo em número de eventos e intensidade. O mesmo grupo resolveu, portanto, estudar os efeitos da vitamina na população idosa geral para entender se os benefícios se estenderiam também a eles. O estudo foi publicado no JAMA, recentemente. 

Leia também: Uso de antagonistas de vitamina K e progressão de osteoartrite: existe relação?

vitamina k2 e cãibras em idosos

O estudo  

O estudo foi um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, placebo controlado, multicêntrico (mas apenas em centros chineses) realizado entre setembro de 2022 e dezembro de 2023. 

Foram incluídos pacientes idosos (> 65 anos) com 2 ou mais episódios de cãibras noturnas (CNs) durante 2 semanas de screening. Os pacientes foram randomizados 1:1 entre placebo ou vitamina K2 (melaquinona 7) 180 mcg/dia, por 8 semanas. Foram excluídos participantes que tivessem causas metabólicas específicas para as cãibras e neuropatias específicas, como por exemplo, por hipotireoidismo, hemodiálise, etilismo, esclerose lateral amiotrófica (ELA), poliomielite, estenose espinal, parkinson e doenças do neurônio motor, além de uso de diuréticos; também foram excluídos participantes que tivessem feito uso de vitamina K ou antagonistas de vitamina K nos últimos 2 meses. 

O desfecho primário analisado foi o número médio de episódios de CNs apresentados por semana. Dentre os desfechos secundários, foram incluídos a duração das cãibras (em minutos) e gravidade, analisada por escala analógica entre 1 e 10 (10 sendo mais intensa). 

Ao final, foram randomizados 199 participantes. A população analisada apresentou uma média de idade de 72 anos, sendo 54% mulheres. Cerca de 50% dos indivíduos tinham diabetes e 68% eram hipertensos. A frequência basal de cãibras por semana, analisada nas duas primeiras semanas de screening, era semelhante entre os grupos (média de 2,6 episódios/semana no grupo vitamina K e 2,71 no grupo placebo).  

A vitamina K2 parece reduzir a frequência e intensidade das cãibras noturnas

Após as 8 semanas de intervenção, o grupo vitamina K2 teve uma redução na frequência de cãibras noturnas por semana (desfecho primário): 

  • Grupo vitamina K: 0,96 (-1,64 eventos/semana) 
  • Grupo placebo: 3,63 (+0,92 eventos/semana); diferença média -2,67; IC 95%; -2,86 a -2,49; p < 0,001. 

Além disso, houve também uma redução na duração e na intensidade das cãibras: 

Duração 

  • Grupo vitamina K: – 0,9 minutos 
  • Grupo placebo: -0,32 minutos (diferença entre grupos: -0,73 min) 

Intensidade: 

  • Grupo vitamina K: -2,55 
  • Grupo placebo: -1,24 (diferença entre grupos: -0,97) 

Os desfechos secundários foram analisados apenas de forma exploratória. 

Não houve efeitos adversos significativos no uso da vitamina K2

Um dado positivo, além da eficácia, é de que não foram observados eventos adversos significativos. No entanto, os autores destacaram a importância de se lembrar de não utilizar a vitamina K em pacientes que estejam em uso de warfarina.  

Perspectivas 

O estudo é interessante por trazer dados sobre um tema pouco tratado na literatura mas que é razoavelmente frequente na população idosa, sobretudo ao avaliar uma substância segura, barata e de fácil acesso. É preciso considerar que apesar de multicêntrico, é um estudo realizado apenas com a população chinesa e, com um N pequeno e, portanto, deve-se ter cuidado ao se generalizar as informações. Além disso, o efeito foi pequeno em um sintoma que já era leve/moderado em intensidade desde o início e não foram avaliadas variáveis como qualidade do sono ou qualidade de vida, colocando-se em dúvida também o valor clínico dessa redução. Contudo, definitivamente há motivos para se replicar o estudo para tentar avaliar os achados em populações diferentes, pois pode ser que finalmente tenhamos algo a oferecer aos nossos pacientes além da boa e velha hidratação, alongamento e “atentar ao potássio”.

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Referências bibliográficas

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