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Endocrinologia6 setembro 2025

Tirzepatida no tratamento do diabetes e da obesidade

Metanálise teve por objetivo avaliar de forma abrangente a eficácia e a segurança da tirzepatida em indivíduos com DM2 ou obesidade.
Por Paulo Melo

Nos dias de hoje, o diabetes tipo 2 (DM2) e a obesidade estão entre os maiores desafios de saúde global, atuando em conjunto como fatores de risco mútuos que aumentam a morbimortalidade dos pacientes e os custos diretos e indiretos em saúde. O excesso de peso agrava a resistência insulínica e acelera a falência das células beta, favorecendo o surgimento e a progressão do diabetes. Apesar dos medicamentos disponível, os resultados a longo prazo no controle glicêmico e na redução de peso eram bastante limitados até algum tempo.

Nas últimas décadas, a indústria farmacêutica avançou significativamente na busca por soluções mais eficazes. Nesse cenário, a tirzepatida, um agonista duplo dos receptores de GLP-1 e GIP, é hoje uma das principais alternativas para um bom controle glicêmico e com benefícios na regulação do peso corporal. Sua ação melhora a secreção de insulina, reduz a produção de glucagon e promove maior saciedade, constituindo uma mudança de paradigma no tratamento das doenças metabólicas.

A metanálise recentemente publicada teve como objetivo avaliar de forma abrangente a eficácia e a segurança da tirzepatida em indivíduos com DM2 ou obesidade. Foram analisados desfechos como perda de peso, redução de hemoglobina glicada (HbA1c) e incidência de efeitos adversos, sendo o desfecho primário a magnitude da perda ponderal em comparação ao placebo.

Leia também: Tirzepatida na redução de gordura intramuscular

Metodologia:

A revisão seguiu as recomendações PRISMA e incluiu apenas ensaios clínicos randomizados que compararam tirzepatida versus placebo, publicados até março de 2025 em periódicos de alto impacto. O desfecho principal foi a alteração de peso corporal, e os secundários incluíram controle glicêmico e segurança.

Foram inicialmente identificados 578 artigos, dos quais 11 preencheram os critérios de inclusão. Estudos não randomizados, pediátricos, com dados incompletos ou desenho inadequado foram excluídos. A amostra contemplou estudos de fase 1 a 3, conduzidos em diferentes países (China, Japão, EUA, Alemanha e multicêntricos), com seguimento entre 8 e 176 semanas. O risco de viés foi globalmente baixo, embora alguns trabalhos não tenham detalhado adequadamente a randomização. Os autores utilizaram modelo de efeitos aleatórios para lidar com heterogeneidade e realizaram análises de subgrupos segundo dose e presença de diabetes.

Resultados encontrados e discussão:

A população estudada apresentou idade média entre 34 e 62 anos, com IMC variando de 22 a 39 kg/m². Nos pacientes com diabetes tipo 2, a perda de peso foi dose-dependente: cerca de –6,1 kg (5 mg), –8,5 kg (10 mg) e –9,6 kg (15 mg). Já nos indivíduos sem diabetes, as reduções foram ainda maiores: –12,1 kg, –15,9 kg e –17,8 kg, respectivamente, mostrando efeito mais pronunciado neste último grupo. Além disso, houve queda significativa da HbA1c entre os diabéticos, proporcional à redução de peso.

Os efeitos adversos mais comuns foram gastrointestinais (náuseas, vômitos, constipação), geralmente leves a moderados, mas responsáveis por maiores taxas de

descontinuação em doses elevadas. Importante ressaltar que não houve aumento de eventos adversos graves, reforçando o perfil de segurança da tirzepatida.

Os autores do estudo destacam que a eficácia superior da tirzepatida em relação a outras terapias se deve ao mecanismo duplo de ação, medicamento análogo de GLP-1 e GIP, que potencializa os efeitos metabólicos além do observado com agonistas de GLP-1 isolados, como por exemplo a semaglutida e a liraglutida. Os resultados reforçam a tirzepatida como uma ferramenta poderosa na prática clínica, especialmente em pacientes com sobrepeso/obesidade e necessidade de controle glicêmico intensivo.

Veja mais: Tratamento de 12 semanas com tirzepatida mais dieta cetogênica na obesidade

Conclusão:

A metanálise confirma que a tirzepatida promove perda de peso clinicamente relevante, com benefício adicional na redução da hemoglobina glicada, sem aumento significativo de eventos adversos graves, assim, consolidando seu papel no manejo da obesidade e do DM2.

No contexto brasileiro, onde mais de 10% da população adulta vive com diabetes e mais de 50% com sobrepeso, os achados ganham relevância ainda maior. A publicação da nova diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes, em agosto de 2025, já reforça o que vemos na prática clínica: em pacientes com diabetes tipo 2 e sobrepeso/obesidade, independentemente da HbA1c ou risco cardiovascular, os análogos de GLP-1 e a tirzepatida devem ser considerados como primeira linha de tratamento.

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Referências bibliográficas

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