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Endocrinologia28 janeiro 2025

Terapia de reposição hormonal nas mulheres pós-menopausa no EUA

Artigo avaliou a prevalência do uso da TRH em mulheres norte-americanas na menopausa em um período de quase 20 anos

A terapia de reposição hormonal (TRH) na mulher é tratamento de escolha para atenuação dos sintomas da menopausa. Apesar de tantos avanços na Medicina, ainda há certo receio em relação ao seu uso. 

Recentemente, a JAMA lançou um artigo que avaliou a prevalência do uso da TRH em mulheres norte-americanas na menopausa em um período de quase 20 anos. 

A menopausa é uma fase de transição natural na vida da mulher com a queda dos níveis hormonais de estrogênio e progesterona. Em até 80% dos casos, ela pode ser sintomática e se apresentar com sintomas genitourinários, vasomotores, alterações de humor, dificuldades no sono e déficit cognitivo.  

A TRH é o tratamento de escolha para os sintomas vasomotores e genitourinários. Em 1990, ocorreu um pico em sua prescrição, porém a partir de 2002, houve um rápido declínio depois que alguns estudos mostraram que alguns riscos poderiam superar os benefícios. 

O objetivo do presente estudo foi de entender as principais tendências na prescrição da TRH em mulheres norte-americanas na menopausa no período de 1999 a 2020 de forma a auxiliar na correta prescrição da mesma. 

Leia mais: Terapia de reposição hormonal na menopausa após os 65 anos: há benefícios?

reposição hormonal

Metodologia

Foram utilizados dados da Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição (NHANES), incluindo participantes não hospitalizadas de 10 NHANES no período de 1999 a 2020. 

Foram coletados dados relacionados às prescrições, status da menopausa, características sócio-demográficas, cobertura ou não de seguro de saúde, peso e altura das pacientes e status de tabagismo. 

Em relação às medicações, elas foram categorizadas em contraceptivos, TRH, contraceptivo ou TRH e outras ( ex: anabolizantes esteroides, doses elevadas de progesterona para prevenção de perda gestacional, entre outras). 

As idades foram categorizadas em intervalos: < 52 anos, entre 52-65 anos e ≥ 65 anos. Em relação à raça e etnia: hispânicas, negras não hispânicas, brancas não hispânicas e outras. O nível educacional foi classificado em não conclusão de ensino médio, com ensino médio concluído e nível superior. 

A renda foi definida como baixa renda quando inferior a 1,3 pelos cálculos utilizados. Quanto à cobertura de seguro de saúde: sem seguro, com seguro público ou com seguro privado.  O status conjugal foi definido como: morando sozinha (viúva, divorciada, separada ou solteira) ou morando com alguém ( casada ou com parceiro/parceira). Foram avaliados peso, altura e feito o cálculo do índice de massa corporal (IMC) e classificadas em peso normal (IMC <25 kg/m2), sobrepeso (IMC entre 25 e 30 kg/m2) e obesidade (IMC > 30 kg/m2). Por fim, quanto ao status de tabagismo, foram classificadas em nunca fumantes, ex-fumantes e fumantes. 

Resultados

Foram analisados os dados de 13048 mulheres na menopausa no período de 1999 a 2020 nos Estados Unidos. Ao longo desse período, a prevalência do uso de TRH caiu em todas faixas etárias analisadas caiu de 26,5% em 1999 para 4,7% em 2020. 

Até o período de 2002, o uso era maior nas mulheres entre 52 e 65 anos, porém desde 2005 o uso passou a ser maior naquelas com idade < 52 anos.  O seu declínio foi de 23,5% naquelas com idade <52 anos, de 31,4% naquelas com idade entre 52 e 65 anos e de 10,6% naquelas com idade > 65 anos. 

Em relação à etnia, decaiu de 13,8% para 2,6% para hispânicas, de 11,9% para 0,5% para negras não hispânicas e de 31,4% para 5,8% para brancas não hispânicas. Essas últimas apresentaram a maior prevalência no uso de TRH. 

O uso de apenas estrogênio contou com a maior parte das prescrições (52,8%) e as mulheres com nível social mais elevado e cobertura de seguro de saúde apresentaram uma maior prevalência de uso de TRH. 

Veja também: Terapia de reposição hormonal em mulheres com histórico de trombose ou trombofilia

Discussão

Foi observado durante o período analisado um declínio geral da TRH nas pacientes em menopausa. A redução foi mais acentuada em mulheres negras não-hispânicas, com menor nível de escolaridade e com idade > 57 anos. 

O estudo contou com algumas limitações como não documentação das vias de administração da TRH e também as razões pelas quais elas foram prescritas para as pacientes. 

Ainda assim, a TRH continua sendo tratamento de primeira linha para os sintomas vasomotores e genitourinários da menopausa, além de claros benefícios em outros setores da saúde da mulher como saúde óssea, cognitiva e cardiovascular. No entanto, a TRH não deve ser utilizada como prevenção de doenças cardiovasculares. 

A recomendação é de que ela seja iniciada tão logo a menopausa seja diagnosticada  ou com idade inferior a 60 anos, sempre na menor dose possível que traga benefícios à paciente. 

Conclusão e mensagem prática

O estudo mostrou um declínio importante no uso de TRH nas mulheres norte-americanas em menopausa analisadas no período de 1999 a 2020. 

Cabe a reflexão da razão desse declínio ocorrer, visto que a TRH é a primeira linha de tratamento para os sintomas da menopausa quando não há contra-indicações. 

Importante que o estudo sirva de alerta para auxiliar profissionais de saúde na prescrição adequada da TRH, sempre pesando risco x benefício, sem deixar as mulheres desassistidas nessa fase tão desafiadora da vida. 

Autoria

Foto de Juliane Braziliano

Juliane Braziliano

Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Residência de Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência de Clínica Médica pelo Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Editora-médica de Endocrinologia do Portal Afya.

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Referências bibliográficas

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