Como realizar a terapia de reposição hormonal na mulher pós-menopausa?
Desde a descoberta dos benefícios da Terapia de Reposição Hormonal, muito tem-se discutido sobre dosagens, riscos e benefícios possíveis, reais e utópicos.
Com o aumento da expectativa de vida, as mulheres passam até mais de um terço de suas vidas na menopausa.
Esse período de vida, antes bastante desconfortável, passou a ser melhor suportado pelas mudanças constantes nos hábitos mais saudáveis preconizados pelo “mundo saudável” e pelo advento da terapia de reposição hormonal.
Entretanto, desde a descoberta dos benefícios da Terapia de Reposição Hormonal (TRH), muito tem-se discutido sobre dosagens, riscos e benefícios possíveis, reais e utópicos.
Terapia de reposição hormonal
Em um trabalho publicado recentemente no New England Journal of Medicine (NEJM), revisitam-se indicações, dosagens, alternativas não hormonais para tratamento dos sintomas relacionados à menopausa. De um modo geral o “estrogênio, com ou sem progesterona, deve ser prescrito com a menor dose efetiva possível pelo menor tempo para alívio dos sintomas da paciente”.
Sintomas vasomotores
Associados à piora da qualidade de vida, a irritabilidade, dificuldade de concentração e osteoporose podem permanecer mais do que se acreditava – permanecem em média de 7,4 anos – relacionados à etnia da paciente (asiáticas por cinco anos, mulheres brancas por sete, hispânicas por nove e até dez anos em mulheres negras).
Na ausência de contraindicações, terapia sistêmica é a mais efetiva para alívio dos sintomas vasomotores. Em revisão, Cochrane observou redução em 75% dos sintomas e em 87% alívio da intensidade em uso de estrogênio isolado e também com progesterona.
Risco cardiovascular
No ano de 2002, a Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou um estudo com hormonioterapia para menopausa. Houveram desfechos ruins, uma vez que vieses foram encontrados com mulheres desenvolvendo neoplasia de mama e endométrio, obrigando interrupção do estudo multicêntrico. Observou-se que uma mesma mulher com 70 anos, muito mais de 10 deles na menopausa, estava recebendo a mesma dose e tempo de tratamento que uma de 48 anos, por exemplo.
Atualmente sabemos que o grande grupo de risco (mulheres de 50 a 59 anos de idade) beneficiam-se da reposição por intervalos menores (doses pequenas que aliviam os sintomas por no máximo cinco anos), com poucos riscos.
Diabetes e hipertensão arterial
A terapia combinada com estrogênio transdérmico oferece segurança, enquanto que a terapia oral na verdade duplica os riscos em estudo observacional citado.
Leia também: Saiba como iniciar e quando parar a terapia hormonal no climatério
Doenças degenerativas cerebrais
Em estudo observacional demonstrou retardo na evolução da doença para mulheres que fizeram reposição hormonal. Entretanto o risco na verdade aumenta se persistir o tratamento além dos 65 anos.
Quando parar?
Ainda permanece a dúvida. Sabemos que os sintomas vasomotores (fogachos) retornam algo em torno de 3 a 6 meses em até 50% das mulheres quando interrompem a terapia. Nesses casos seria interessante retornar a medicação por mais um período de seis a 12 meses. A proteção contra osteoporose, entretanto, se perde rapidamente com a descontinuidade do tratamento.
Guidelines:
- Mulheres antes dos 60 anos idade (ou até 10 anos de menopausa) como fogachos se beneficiam de tratamento hormonal;
- Mulheres com menopausa precoce, sem contra indicações, devem ser tratadas até pelo menos a idade média da menopausa natural esperada;
- Estudos observacionais demonstram que terapia transdérmica tem menos risco que a oral em pacientes com risco tromboembólico e de AVC;
- Compostos hormonais bioidênticos não foram aprovados pela Food and Drug Administration (FDA);
- Não há indicação tratamento para prevenção primária ou secundária de doença cardiovascular ou demência;
- Terapias não hormonais parecem reduzir os fogachos. Incluem: inibidores recaptação de serotonina e norepinefrina, gabapentinoides, perda de peso, hipnose e terapia cognitiva comportamental;
- Para mulheres com queixas somente no trato geniturinário, hormonioterapia vaginal local é a melhor opção.
Mais do autor: Sildenafil pode ser eficaz na pré-eclâmpsia?
Dúvidas e incertezas
- Estudos prospectivos precisam determinar risco e benefício de tratamento ao longo do tempo nas pacientes que iniciaram mais perto da menopausa e daquelas que começaram anos depois.
- Qual o tempo de interromper a terapia? Sem prejuízo do retorno dos sintomas nem aumento dos riscos.
- Determinar se realmente a terapia transdérmica tem menos risco que a oral nas pacientes de alto risco de T.E.P e A.V.C.
- A persistência de fogachos não tratados aumentaria o risco de eventos cardiovasculares ou demência?
Terapias potenciais em estudo:
- Oxibutinina;
- Bloqueadores do gânglio estrelado (C6-T2);
- Antagonistas receptores neurocininas;
- Estetrol (ou E4 – estrogênio natural);
- Terapias com alta energia intravaginais (laser e radiofrequência).
O futuro permanece uma incógnita… a mulher vive mais, mas precisa de qualidade de vida para que viver mais seja viver melhor.
Quer receber as principais novidades em Medicina? Inscreva-se aqui!
Referência bibliográfica:
- Pinkerton JV. Hormone Therapy for Postmenopausal Women. N Engl J Med 2020; 382:446-455. (January 30, 2020) DOI: 10.1056/NEJMcp1714787.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.