Semaglutida e eventos cardiovasculares em pacientes obesos sem DM2
Recentemente, muito se tem ouvido falar no novo medicamento que está chegando nas farmácias brasileiras: o Wegovy, “a semaglutida mais potente”. Dada a importância de uma medicação tão potente chegando ao mercado brasileiro, segue abaixo um breve resumo de um estudo da The New England Journal of Medicine que abordou os efeitos cardiovasculares da semaglutida (dose de 2,4 mg semanal) em pacientes com obesidade e sem DM.
Introdução
Sobrepeso e obesidade são importantes fatores de risco relacionados ao aumento do risco cardiovascular. Os agonistas do peptídeo-1-glucagon-like (GLP-1) já demonstraram redução de eventos cardiovasculares em pacientes com DM2 com risco cardiovascular elevado.
No entanto, o presente estudo “Semaglutide Effects on Cardiovascular Outcomes in People with Overweight or Obesity” (SELECT) visou testar a hipótese de benefício da semaglutida em pacientes com sobrepreso/obesidade, porém sem DM.
Metodologia
O estudo foi multicêntrico, duplo-cego, randomizado, placebo-controlado, feito em 804 clínicas de 41 países. Foi realizado no período de outubro de 2018 a março de 2021 com 17.604 participantes. Envolveu pacientes com idade superior a 45 anos, doença cardiovascular pré-existente, um índice de massa corporal (IMC) superior a 27 kg/m² e sem DM.
Doenças cardiovasculares foram definidas como: infarto do miocárdio prévio, acidente vascular cerebral prévio ou doença arterial periférica sintomática.
Os critérios de exclusão foram: diagnóstico prévio de DM, Hba1c > 6,5% no momento do rastreio, tratamento prévio com agonistas do GLP-1 nos últimos 90 dias, insuficência cardíaca classe IV (NYHA) ou doença renal em estágio terminal/diálise.
Os pacientes foram alocados em grupo placebo X grupo que recebeu Semaglutida 2,4 mg/semana (dose progredida a cada quatro semanas começando em 0,5 mg; seguida de 1,0 mg; seguida de 1,7 mg até 2,4 mg) em uma proporção de 1:1. O evento primário analisado foi uma mistura de mortes por doenças cardiovasculares, infarto agudo do miocárdio não fatal e acidente vascular cerebral não fatal.
Resultados
17.604 pacientes foram analisados sendo 8.803 do grupo semaglutida e 8.801 do grupo placebo. O seguimento teve duração média de 39,8 meses.
A média de idade dos pacientes foi de 61,6 anos, sendo a maioria do sexo masculino (72%). O IMC médio foi de 33,5 kg/m² e 71% estava com IMC ≥ 30 kg/m². A média de Hba1c foi de 5,8% e 66,4% preencheram critérios para pré-diabetes. Mais de ¾ dos pacientes tinha infarto do miocárdio prévio e aproximadamente ¼ insuficiência cardíaca crônica.
Eventos cardiovasculares ocorreram em 569 de 8.803 (6,5%) do grupo semaglutida e em 701 de 8.801 (8,0%) do grupo placebo. Eventos adversos que culminaram com desistência do estudo pelo participante ocorreram em 1461 (16%) pacientes do grupo semaglutida e em 718 (8,2%) pacientes do grupo placebo.
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Conclusão: semaglutida e eventos cardiovasculares
Em pacientes com doença cardiovascular preexistente associada a sobrepeso/obesidade, porém sem DM, a dose de 2,4 mg semanal de semaglutida foi superior ao placebo na redução de mortes por causas cardiovasculares, infarto do miocárdio não fatal e acidente vascular cerebral não fatal.
No estudo, a semaglutida também mostrou outros benefícios tais como: melhora da pressão arterial, redução da circunferência abdominal, melhora do controle glicêmico e na nefropatia, além de redução dos níveis de lipídios de proteína-C reativa, revelando ser uma medicação promissora para controle glicêmico, de eventos cardiovasculares e sobrepeso/obesidade.
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