Perfil de lesões e intoxicação em usuários de esteroides anabólicos

O uso de esteroides anabólicos androgênicos é um importante desafio para a saúde pública, dado o seu uso difundido mundialmente. Compreender o espectro de seus potenciais efeitos adversos é importante para estabelecer medidas preventivas. 

Múltiplos efeitos adversos associados ao uso de esteroides anabólicos foram descritos, incluindo infertilidade, doença cardiovascular, acne e aumento de mortalidade. Usuários de esteroides anabólicos apresentam mortalidade por causas não naturais três vezes maior do que a população geral. Entretanto, o perfil de lesões e intoxicação destes indivíduos não está bem estabelecido. Estes indivíduos apresentam maior frequência de exposição ao risco, visto que oscilações de humor, agressividades e tendências violentas são comuns neste grupo. Isso podem levar a acidentes, intoxicações e lesões. 

Deste modo, um grupo de pesquisadores dinamarqueses realizou um estudo de coorte com o objetivo de avaliar a prevalência e os padrões de lesões e intoxicação em usuários de esteroides anabólicos androgênicos, utilizando dados de um registro nacional dinamarquês. O estudo foi publicado no periódico Annals of Emergency Medicine, em junho de 2025. 

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Métodos 

A exposição dos usuários aos esteroides anabólicos androgênicos foi identificada através de um registro nacional de exames antidoping. Um interessante programa dinamarquês de triagem em academias monitorou 80% de todos os estabelecimentos do país, de 2006 a 2018, triando usuários de rotina (sem abordar atletas profissionais), com o objetivo de promover práticas mais saudáveis. Os indivíduos eram submetidos a exames periódicos e aqueles em cujos exames fossem detectadas substâncias proibidas eram banidos de todas as academias participantes do programa durante 2 anos. 

Os desfechos avaliados consistiram em uma ampla gama de lesões e intoxicações. Uma vez que o sistema nacional de saúde da Dinamarca é universal e unificado, todos os indivíduos monitorados pelo programa que passaram por qualquer atendimento médico subsequente foram classificados através de códigos do CID-10. 

Resultados 

A amostra abrangeu 1.189 usuários do sexo masculino identificados e sancionados pelo programa antidoping nacional, comparados com 59.450 indivíduos da população geral pareados por idade e estilo de vida. Dada a disparidade na prevalência do uso de anabolizantes entre os gêneros, os autores optaram por analisar apenas homens. A idade média dos indivíduos sancionados foi de cerca de 27 anos. Os usuários de anabolizantes tinham menor nível educacional e eram mais frequentemente desempregados do que os controles. 

Usuários de esteroides apresentaram uma taxa significativamente maior de lesões, com um aumento absoluto de risco de 7,8% (21,7% nos usuários e 13,9% dos controles). O hazard ratio (HR) ajustado foi de 1,46. As fraturas foram particularmente frequentes, com risco cerca de 2 vezes maior. Dentre elas, destacaram-se os traumas cranianos, que incluíram fraturas e outros tipos de ferimentos na região da cabeça. Esse padrão sugere que os usuários de anabolizantes não apenas sofrem mais lesões, mas também lesões mais graves. 

Quanto às intoxicações, os achados foram semelhantes: houve aumento de 1,2% na incidência absoluta (1,6% nos usuários e 0,4% nos controles), com a probabilidade praticamente triplicada. A maioria das intoxicações foi medicamentosa, sendo que os usuários de esteroides apresentaram risco quase quatro vezes maior deste desfecho. 

Conclusões 

Os autores concluiram que o uso de anabolizantes configura um risco externo substancial à saúde, especialmente no que se refere a lesões físicas e intoxicações. A robustez dos resultados reside na combinação de dados populacionais amplos e na comparação com controles adequados, apoiados por registros nacionais de alta qualidade. 

Algumas limitações do estudo devem ser mencionadas: dados sobre dosagem e duração do uso não estavam disponíveis. O critério de inclusão (indivíduos com exame anti-doping aleateorio positivo) pode ser uma fonte de viés, já que muitos usuários podem não ser detectados. Por fim, visto que fraturas foram um importante achado deste estudo, a metodologia não permite especular se houve qualquer efeito do uso de anabolizantes na saúde óssea. 

Diversos estudos na literatura associam o uso de anabolizantes a comportamentos violentos e de risco. Embora o estudo seja de natureza observacional e, portanto, não prove causalidade, ele sugere uma relação plausível entre uso de esteroides e aumento de risco externo decorrente de fatores como impulsividade, agressividade ou negligência, aspectos já associados ao uso crônico ou em altas doses de esteroides. 

Portanto, a contribuição principal deste estudo é quantificar riscos específicos e pouco discutidos em usuários de anabolizantes. Este conhecimento pode ser importante no desenho de estudos futuros com objetivo de conhecer mais profundamente esta questão.