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Endocrinologia23 setembro 2024

Papel da microbiota intestinal em tumores e seu tratamento

O equilíbrio da microbiota é fundamental para uma boa saúde, visto que ela apresenta ações tanto tumorigênicas quanto antitumorigênicas.

É de grande importância o papel da microbiota intestinal (MI) e sua relação com os demais sistemas do corpo humano. Recentemente, foi lançada uma revisão sistemática que abordou o papel da MI no tratamento de neoplasias. Segue abaixo um breve resumo dela. 

Os tumores apresentam grande risco à saúde sendo caracterizados por um acúmulo de mutações e alterações genômicas. Atualmente, dispomos de diversos tratamentos tais como cirurgia, quimioterapia e radioterapia que, porém, ainda são limitados em sua eficácia o que tornam os tumores uma patologia desafiadora a ser tratada. 

O trato gastrointestinal apresenta papel vital na regulação das nossas funções fisiológicas tais como síntese de vitaminas, aminoácidos e carboidratos além da prevenção da entrada de patógenos. 

A composição da Ml apresenta forte associação com diversos tipos de tumores nas mais variadas localizações, sendo alvo de interesse da área oncológica na perspectiva de novas abordagens terapêuticas. O equilíbrio da microbiota é fundamental para uma boa saúde, visto que ela apresenta ações tanto tumorigênicas quanto antitumorigênicas. 

microbiota intestinal

Os efeitos tumorigênicos da microbiota intestinal 

O efeito tumorigênico dos metabólitos derivados da microbiota do trato digestivo 

Alguns metabólitos originários da MI exibem impactos diversos nas células tumorais, com alguns estimulando a proliferação e progressão de células neoplásicas. 

Bactérias anaeróbicas no ambiente intestinal têm o potencial de converter enzimaticamente ácidos biliares livres em ácidos biliares secundários, induzindo assim danos ao DNA, aumentando a probabilidade de mutações celulares, inibição da apoptose e promoção da transformação de células saudáveis ​​em células cancerígenas. 

O efeito tumorigênico da microbiota intestinal por meio da indução de inflamação 

A inflamação crônica do trato gastrointestinal também libera citocinas e fatores pró-inflamatórios (Ex: IL-1) que têm a capacidade de ativar a proliferação celular, inibir a apoptose e promover a angiogênese, proporcionando assim condições favoráveis ​​para o crescimento e disseminação tumoral. 

O efeito tumorigênico da microbiota digestiva através da modulação da resposta imune 

A MI tem o potencial de promover a geração e proliferação de células tumorais por meio da modulação da resposta imunológica humana, gerando, portanto, efeito tumorigênico. 

O efeito tumorigênico gerado através da mudança da quantidade de microbiota 

A variação da quantidade de microbioma do trato digestivo pode produzir efeito tumorigênico. Há diferenças significativas na quantidade e composição da flora do trato digestivo entre pacientes com câncer e populações saudáveis, sendo a microbiota gastrointestinal saudável rica em diversidade de organismos. 

Os efeitos antioncogênicos da microbiota intestinal 

 Os efeitos antioncogênicos dos metabólitos derivados da MI 

A MI gera uma variedade de metabólitos que exibem atividade antitumoral por meio da inibição da proliferação de células tumorais, da regulação da apoptose de células tumorais e da supressão de respostas inflamatórias, sendo o mais estudado o butirato. 

O efeito antioncogênico da MI através da modulação da resposta imune 

As bactérias exibem respostas imunes antitumorais por meio de sua capacidade de colonização direcionada e específica de tumores e suas propriedades imunogênicas. Tal reconhecimento é capaz de desencadear resposta imunes adequadas, gerando assim um efeito antitumoral. 

O efeito antioncogênico das vesículas da membrana externa bacteriana 

As vesículas da membrana externa bacteriana são geradas por bactérias gram-negativas, compostas por componentes da membrana externa bacteriana que carregam os componentes antigênicos essenciais necessários para induzir respostas imunes protetoras. Sendo assim, elas facilitam a apresentação de antígenos, ativam o sistema imunológico e geram efeitos antitumorais. 

O efeito antioncogênico das toxinas bacterianas 

As toxinas bacterianas podem formar canais na membrana celular de células eucarióticas, interrompendo sua função de barramento e resultando no efeito antitumoral. 

O efeito antioncogênico da MI através da inibição da metástase tumoral 

Muitas bactérias do MI são capazes de induzir apoptose e inibir a angiogênese regredindo assim a ocorrência de metástases. 

Veja também: Construindo uma flora intestinal saudável: impacto da microbiota infantil

Conclusão e mensagem prática 

Em suma, o grande alvo das pesquisas oncológicas é voltado para o aumento dos níveis de bactérias com propriedades antitumorais e decréscimo das bactérias com ações tumorais. 

Além disso, já é comprovado que uma alimentação balanceada é capaz de promover diversidade na microbiota intestinal o que favorece a proliferação de bactérias antitumorigênicas. 

Novas tecnologias terapêuticas incluem engenharia genética e síntese biológica que são empregadas para modificar bactérias, visando atingir o alvo tumoral e reduzir a sua toxicidade. 

Conclui-se então que o tratamento conjunto das modalidades atuais (cirurgia, QT e RT) com as tecnologias da MI representam uma perspectiva promissora no tratamento tumoral. 

Autoria

Foto de Juliane Braziliano

Juliane Braziliano

Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Residência de Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência de Clínica Médica pelo Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Editora-médica de Endocrinologia do Portal Afya.

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