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Endocrinologia10 setembro 2025

Monitoramento contínuo de glicose no manejo da hipoglicemia pós-bariátrica

Estudo de Stanford mostra que uso de CGM em tempo real reduz crises de hipoglicemia pós-bariátrica e melhora a confiança do paciente.
Por Ícaro Sampaio

A hipoglicemia pós-bariátrica (HPB) é uma complicação reconhecida da cirurgia bariátrica, especialmente do bypass gástrico em Y de Roux e da gastrectomia vertical. Ocorre em uma proporção significativa de pacientes e caracteriza-se por episódios de hipoglicemia hiperinsulinêmica, que ocorrem geralmente uma a três horas após as refeições. Tais episódios podem ser graves, recorrentes e de início abrupto. As repercussões clínicas incluem convulsões, perda de consciência, acidentes e até risco de morte.  

Além dos aspectos físicos, a HPB causa importante impacto psicossocial, pois limita a autonomia do paciente e gera ansiedade persistente. Apesar de sua relevância clínica, não há terapias aprovadas especificamente para essa condição. Nesse cenário, o monitoramento contínuo de glicose (CGM), já bem consolidado no manejo do diabetes, surge como potencial ferramenta. 

Veja também: Monitoramento contínuo de glicose no diabetes gestacional

glicose

Métodos 

Um estudo recentemente publicado, conduzido pela Universidade de Stanford avaliou o efeito do uso de CGM em pacientes com HPB. O trabalho incluiu 14 pacientes com diagnóstico confirmado, a maioria submetida previamente a bypass gástrico. Cada participante utilizou tanto CGM em modo cegado quanto CGM em tempo real, em períodos alternados de 10 dias. O Dexcom G6 foi o dispositivo empregado. Durante a fase não cegada, os pacientes tiveram acesso aos dados em tempo real e receberam alarmes para valores de glicose <65 mg/dL. Todos os participantes estavam em terapia nutricional padronizada, sem uso de medicamentos que pudessem interferir no metabolismo glicêmico. 

Resultados 

Os resultados mostraram que o uso do CGM não cegado reduziu significativamente a frequência de hipoglicemas sintomáticas confirmadas por glicemia capilar. Houve uma redução de seis vezes nesses episódios em comparação ao período com CGM cegado. Também foi registrada redução no tempo em hiperglicemia >180 mg/dL, possivelmente refletindo melhores escolhas alimentares guiadas pelo feedback em tempo real. 

Outro achado relevante foi a melhora na qualidade de vida. Por meio do questionário Hypoglycemia Fear Survey-II, verificou-se queda significativa nos escores de preocupação relacionados à hipoglicemia durante o uso do CGM. Os pacientes relataram menos medo de episódios graves em público ou quando estavam sozinhos, além de maior confiança no manejo da HPB.  

Conclusão e mensagem prática 

Os achados do estudo apoiam o uso do CGM como ferramenta terapêutica em pacientes com hipoglicemia pós-bariátrica. O acesso em tempo real aos valores de glicose reduz a frequência e a gravidade das hipoglicemias sintomáticas, aumenta o nível de confiança dos pacientes e melhora sua qualidade de vida. Embora a amostra seja pequena, característica comum entre os estudos sobre HPB, diante da ausência de opções farmacológicas aprovadas, o CGM representa atualmente uma estratégia promissora no manejo da HPB. 

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