A obesidade é uma condição com sua incidência em ascensão a nível global. Trata-se de um problema de saúde que atinge a população mundial e vem trazendo grande preocupação por sua posição de destaque entre crianças e adolescentes.
Baseado na relevância do tema, recentemente foi publicado um artigo sobre intervenções farmacológicas para obesidade na infância e adolescência. Vamos ver o que ele nos traz de informações relevantes.
Com a crescente leva de pacientes adultos com obesidade, infelizmente, já era de se esperar que o público infantil fosse atingido. Reflexo de componentes genéticos, familiares, sociais e de estilo de vida, a obesidade em crianças e adolescentes, vem atingindo taxas preocupantes, sendo um fator de risco para desenvolvimento de doenças crônicas tais como hipertensão, dislipidemia, diabetes, esteatose hepática, apneia obstrutiva do sono, dentre outras.
Associadas à mudança de estilo de vida como prática regular de atividade física e alimentação equilibrada, algumas medicações foram estudadas no presente artigo com intuito de auxiliarem no tratamento da obesidade. O início da terapia medicamentosa pode ser desafiador por inúmeras razões: idade do paciente, seu índice de massa corporal (IMC) , presença de comorbidades associadas, adesão a mudanças de estilo de vida e preferências do paciente e da família.
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Metodologia
Em base de dados eletrônicas, foram pesquisados estudos até 03 de janeiro de 2024. Os estudos selecionados visaram comparar várias medicações para obesidade em crianças e adolescentes tais como: combinação de fentermina com topiramato, semaglutida, exenatida, liraglutida, topiramato, metformina, fluoxetina, combinação de metformina com fluoxetina, sibutramina e orlistate.
Os estudos deveriam ter análise de IMC, percentual de mudança do IMC, pontuação de desvio padrão do IMC (BMI-SDS), circunferência abdominal e desfechos metabólicos, antropométricos e de segurança. Como desfechos primários, temos o IMC e a mudança no percentual do IMC. Demais desfechos foram os antropométricos como: mudanças no BMI-SDS, no peso e na circunferência abdominal. E como desfechos metabólicos temos: níveis de colesterol, triglicerídeos, glicemia de jejum, insulina e índice HOMA-IR. Os pacientes também foram avaliados quanto à pressão arterial e frequência cardíaca.
Os critérios de inclusão foram: avaliação de crianças e adolescentes com idade média inferior a 18 anos diagnosticados com obesidade, comparação entre as medicações citadas acima ou entre elas e placebo; um tempo de seguimento de pelo menos 12 meses; estudos com dados sobre os desfechos desejados citados acima; inclusão de ensaios clínicos randomizados e publicados na língua inglês.
Já os critérios de exclusão foram: estudos com indivíduos que foram submetidos à bariátrica, com desordens tireoidianas descompensadas; com causas secundárias para obesidade; com diabetes mellitus e com doença depressiva grave.
Resultados
O presente estudo reuniu 2733 estudos, incluindo 30 artigos com o total de 3822 participantes. Ao total foram analisados 11 tratamentos com as drogas citadas no início do presente texto, com períodos de publicação entre 2003 e 2023.
A média de duração foi entre 12-68 semanas, os participantes tinham idade média de 13,68 anos; a circunferência abdominal média foi de 102,27 cm; o peso médio inicial foi de 95,05 kg; a altura média foi de 162,23 cm e o IMC médio foi de 34,08 kg/m².
A maioria dos estudos contou com pilar principal do tratamento a mudança do estilo de vida.
Os resultados mostraram que a combinação de fentermina com topiramato foi melhor em redução do IMC quando comparado com as demais medicações, exceto semaglutida. Esta última demonstrou eficácia superior em relação às demais drogas e foi capaz de promover maior redução de peso e da circunferência abdominal.
A liraglutida demonstrou ser a mais eficaz em redução do BMI-SDS e a metformina em reduzir a frequência cardíaca. Topiramato foi o mais eficaz em reduzir glicemia de jejum e triglicerídeos e a sibutramina em redução do índice HOMA-IR e HDL. Por fim, orlistate foi mais eficaz em redução do colesterol total e LDL e a semaglutida teve maior incidência de efeitos colaterais do trato gastrointestinal. ]
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Discussão
O presente estudo visou mostrar a eficácia das medicações disponíveis para o tratamento de obesidade em crianças e adolescentes, sendo a primeira revisão sistemática a abordar o tema com análise de diversos desfechos. De um modo geral, as melhores opções terapêuticas foram a semaglutida e a combinação de fentermina com topiramato.
Como qualquer estudo, contou como limitações tais como: não houve comparação direta entre as medicações, com uso de evidência indireta. Além disso, a baixa eficiência dos estudos analisados foi devido a ensaios clínicos não identificados e, por fim, o estudo se restringiu ao idioma inglês, o que pode ter levado a viés de idioma.
Conclusão e mensagem prática
A presente análise viu eficácia similar entre semaglutida e combinação de fentermina com topiramato na redução do IMC e outros parâmetros associados ao peso no tratamento de obesidade em crianças e adolescentes.
Ainda assim, são necessários mais estudos em grande escala, a longo termo, multicêntricos, duplo-cegos e placebo-controlado, inclusive com monitorização pós-intervenção, para validar com mais clareza o tratamento da obesidade em crianças e adolescentes.
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