A osteoporose é uma condição caracterizada pela redução da massa óssea e deterioração de sua microarquitetura, levando a um aumento significativo no risco de fraturas.1,2 Em mulheres acima dos 45 anos, a osteoporose é responsável por mais dias de internação do que muitas outras doenças, incluindo diabetes, infarto do miocárdio e câncer de mama.8 As fraturas de quadril são as mais graves e aumentam a taxa de mortalidade em 12% a 20% nos dois anos subsequentes à fratura decorrente de complicações associadas. E mais de 50% daqueles que sobrevivem às fraturas de quadril vão apresentar alguma limitação funcional, com maior risco de institucionalização.1
Historicamente, o tratamento antirreabsortivo foi oferecido como primeira linha, enquanto agentes anabólicos eram reservados para casos de falha terapêutica. Entretanto, os guidelines atuais indicam a utilização de agentes anabólicos para os casos mais graves ou em risco iminente de fraturas, considerando a maior redução do risco de fraturas 3 Assim, as sociedades têm recomendado uma estratificação de risco mais refinada, identificando fatores que classificam pacientes em muito alto risco, em que a terapia anabólica seria priorizada.3,4
A importância da busca ativa de fraturas
A presença de fraturas prévias é um dos principais indicadores de risco elevado para novas fraturas.4,5 Quanto menor o tempo decorrido desde a fratura, maior o risco.3 Estudos demonstram que pacientes com fraturas nos últimos dois anos enfrentam um “risco iminente” de novos eventos, sendo as fraturas vertebrais e de quadril particularmente associadas a maior vulnerabilidade. Além disso, múltiplas fraturas, mesmo que clinicamente assintomáticas, quando não se pode determinar o tempo decorrido, também elevam o risco no curto prazo.3 Cabe ainda ressaltar que a maioria das fraturas ocorre em pacientes com osteopenia.6 Por isso, a busca ativa de fraturas por exames de imagem, como radiografias ou densitometria óssea (DXA) com avaliação de fratura vertebral (vertebral fracture assessment – VFA), são ferramentas indicadas na estratificação pormenorizada do risco.6
Estratificação de risco e critérios de muito alto risco
Diretrizes recentes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO) propuseram uma estratificação de risco refinada incluindo a categoria de “muito alto risco”, reservada para pacientes com maior probabilidade de fraturas iminentes.3,5
Para mulheres na pós-menopausa com diagnóstico de osteoporose e virgens de tratamento, foram estabelecidos os seguintes critérios para classificá-las como de muito alto risco:3
– Escore T na DXA ≤-2.5 (em coluna lombar, colo do fêmur ou quadril total) associado a pelo menos uma fratura vertebral ou a uma fratura de quadril, especialmente quando a fratura tiver ocorrido dentro dos últimos 2 anos.
– Múltiplas fraturas vertebrais de fragilidade ou 2 ou mais fraturas osteoporóticas não vertebrais (independentemente do sítio esquelético e do escore T na DXA), mesmo que as fraturas sejam mais antigas.
– Fratura de fragilidade em vigência de uso crônico de glicocorticoide (≥ 5mg de prednisolona ou equivalente por 3 meses ou mais).
– Escore T ≤ -3.0 na DXA associado a qualquer um dos fatores de risco adicionais abaixo:
- Idade ≥ 65 anos;
- Uma fratura de fragilidade prévia;
- Alto risco de queda (≥ 2 quedas no último ano);
- Uso prolongado de glicocorticoide.
– Risco de fratura 1,2 vezes acima do limiar de intervenção específico para a idade conforme avaliado pelo FRAX® Brasil (calculado com ou sem dados da densitometria).
A ferramenta FRAX® foi recentemente atualizada. Cinco condições foram consideradas para ajuste do risco: número de fraturas prévias; presença de diabetes mellitus tipo 2 (DM2); exposição a altas doses de glicocorticoide; número de quedas no último ano; e discrepância entre os Escores T da coluna lombar e do colo de fêmur. A própria ferramenta realiza o cálculo conforme o fator de risco escolhido, devendo ser escolhido o ajuste que gerar o maior risco.5
Já a diretriz do AACE direciona a estratificação de muito alto risco quando um ou mais critérios é verdadeiro: presença de 2 ou mais fraturas, fratura em vigência de uma droga antiosteoporose; fratura no último ano; fratura em vigência de uma droga deletéria para o osso (glicocorticoide, inibidor da aromatase); escore T abaixo de -3,0 ; alto risco de queda; e risco de fratura muito alto segundo o FRAX® > 4,5% para quadril e > 30% para fraturas maiores.4 É importante ressaltar, no entanto, que a metodologia do FRAX® americano difere da utilizada no Brasil. Portanto, esse último critério, baseado em limiares de risco fixos, não se aplica diretamente ao nosso território.3,4
O papel dos agentes anabólicos: romosozumabe
Para pacientes em muito alto risco, os agentes anabólicos são recomendados como primeira linha, considerando a necessidade de reduzir rapidamente o risco de fratura iminente.3,4 Dentre eles, o romosozumabe, um anticorpo monoclonal antiesclerostina, destaca-se por sua ação dupla, aumentando a formação óssea e reduzindo a reabsorção.7 Administrado em doses subcutâneas mensais, o romosozumabe demonstrou, no estudo ARCH, reduções significativas no risco de fraturas vertebrais (38%) e não vertebrais (26%), após apenas 12 meses, em comparação com o alendronato, um antirreabsortivo tradicional.7
Essa eficácia é especialmente valiosa em pacientes com risco iminente, como aqueles com fraturas recentes, pois o tempo para prevenir novos eventos é crítico.3,4 Após o ciclo de 12 meses de romosozumabe, a transição para um agente antirreabsortivo é essencial para consolidar os ganhos em densidade óssea e manter a proteção antifratura.7
Considerações finais
A maioria das fraturas vertebrais é assintomática,6 o que dificulta seu reconhecimento clínico. A busca ativa, por meio de uma simples avaliação de raio-x, tem impacto direto na estratificação de risco da osteoporose, em especial na classificação de pacientes de muito alto risco, que podem se beneficiar de terapias anabólicas mais eficazes, como o romosozumabe.3,4 Quando associado à utilização da ferramenta FRAX 2.0, o processo diagnóstico torna-se mais preciso, com consequente prevenção de fraturas, redução de morbimortalidade e melhora na qualidade de vida dos pacientes.3,4,6
Material exclusivo para profissionais habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. Proibida a distribuição ao público em geral.
BRA-785-0725-80007 – julho/2025
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