A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma condição endócrina muito associada à resistência insulínica e sobrepeso/obesidade. Dada a tal associação relevante, recentemente foi lançando um artigo que visou abordar os efeitos da semaglutida no IMC e no perfil lipídico dessas pacientes. Vamos ver o que o artigo nos trouxe de informações.
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Introdução
A SOP é a desordem endócrina-metabólica mais comum entre mulheres na idade reprodutiva com uma prevalência global variando de 6% a 20% ao redor do mundo.
As suas principais características incluem disfunção ovariana, hiperandrogenemia e mudanças no formato dos ovários. Frequentemente, as complicações metabólicas acompanham a síndrome, dentre elas o sobrepeso/obesidade, a resistência insulínica (RI) e a dislipidemia (DLP).
A fisiopatologia da SOP é multifatorial, mas a RI continua sendo a raiz da síndrome com a hiperinsulinemia gerando hiperandrogenemia e acúmulo de tecido adiposo.
A mudança do estilo de vida com dieta e atividade física é a primeira linha de tratamento e muito se estuda sobre os efeitos dos análogos de GLP-1 nessa subpopulação. A semaglutida reduz a síntese de andrógenos por aumentar a sensibilidade à insulina, inibir a secreção de glucagon e reduzir os níveis circulantes de insulina. A nível hipotalâmico, inibe a grelina e aumenta a saciedade, reduzindo ingesta energética. A nível lipídico, reduz a síntese de triglicerídeos, a geração de LDL, diminuindo os níveis de ácidos graxos livres circulantes.
Por fim, por meio da perda de peso, a semaglutida reduz os níveis de hormônio luteinizante (LH) e andrógenos, restaurando a função ovulatória.
A presente metanálise visou verificar os efeitos da semaglutida no IMC e no perfil lipídico das pacientes com SOP.
Metodologia
Em base de dados eletrônicas, foram procurados artigos sobre esse tema no período entre 01/10/2010 e 30/06/2025. Foram incluídos estudos com pacientes diagnosticadas com SOP pelos critérios de Rotterdam, com IMC ≥ 25 kg/m², independentemente se elas também apresentavam DM2. Foram excluídos: experimentos animais, relatos de caso e estudos que não foram ensaios clínicos randomizados.
O grupo controle eram grupos placebo ou com tratamento convencional (mudança de estilo de vida ou metformina), enquanto o grupo intervenção recebia semaglutida nas doses > 0,5 mg/semana (oral ou injetável) por, pelo menos, 12 semanas.
Os principais marcadores avaliados foram IMC, colesterol total (CT), triglicerídeos (TG), colesterol lipoproteína de baixa densidade (LDL) e colesterol lipoproteína de alta densidade (HDL).
Resultados
Ao final dos critérios de seleção, foram incluídos 8 ECR com 526 participantes. O grupo semaglutida reduziu significativamente o IMC quando comparado ao grupo controle. Além disso, reduziu níveis de CT, TG, LDL, porém com pouco impacto no HDL em ambos os grupos.
Quanto à segurança, os efeitos colaterais foram maiores no grupo da Semaglutida, porém sem efeitos adversos graves em ambos os grupos.
Discussão
Pacientes com SOP frequentemente apresentam elevada incidência de obesidade e os resultados da metanálise mostraram que a semaglutida foi capaz de reduzir o IMC nesse perfil de pacientes.
A melhora no perfil lipídico foi decorrente da redução da lipólise, redução da síntese de VLDL e aumento da atividade da lipoproteína lipase, acelerando o clearance de TG.
Tal metanálise também contou com algumas limitações, como a falta de dados iniciais em relação ao índice HOMA-IR para avaliar se houve melhora dele após o tratamento com Semaglutida, falta de dados sobre desfechos reprodutivos como por exemplo melhora da ovulação e regularidade menstrual e pequena amostra populacional.
Conclusão e mensagem prática
O presente estudo revelou que a semaglutida foi capaz de reduzir IMC e melhorar o perfil lipídico em pacientes com SOP, porém com níveis de evidência moderados. Os benefícios demonstraram ser maiores em pacientes em uso de doses maiores (≥ 1,0mg/semana) e com IMC maior (> 28 kg/m²).
No entanto, ainda são necessários mais estudos com maior amostragem população e maior nível de evidência que possam confirmar tais achados.
Autoria

Juliane Braziliano
Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Residência de Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência de Clínica Médica pelo Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Editora-médica de Endocrinologia do Portal Afya.
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