O diabetes mellitus gestacional (DMG) é uma doença que pode acometer a mulher na gestação com diversos impactos a curto e longo prazo para a mãe e o bebê. Desse modo, é necessário o diagnóstico preciso para proporcionar o melhor tratamento. Inicialmente, as orientações incluem mudanças de estilo de vida com prática regular de atividade física e acompanhamento nutricional com alimentação balanceada.
O diabetes mellitus gestacional (DMG) é definido como uma intolerância à glicose que é primeiramente reconhecida durante a gravidez, tipicamente no segundo ou terceiro trimestres, em mulheres sem história de alteração glicêmica antes da gestação.
Trata-se de uma condição de saúde pública devido aos seus impactos na saúde materno-fetal. A curto prazo, pode cursar com crescimento fetal excessivo com consequente macrossomia, aumento do risco de parto prematuro e de hipoglicemia neonatal. A longo prazo, mulheres com DMG estão mais susceptíveis a desenvolver Diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e outras desordens metabólicas, a exemplo de obesidade.
Com o aumento do sedentarismo e da obesidade a nível mundial, a prevalência de DMG também vem aumentando. O tratamento inicial inclui mudança de hábitos, sendo um dos mais importantes o acompanhamento nutricional com dieta adequada, que é capaz de além de controlar a glicemia, reduzir os desfechos materno-fetais.
Recentemente, foi lançado um estudo que visou comparar a eficácia de diversas intervenções dietéticas no controle glicêmico e desfechos materno-fetais. Vamos ver o que o estudo nos trouxe informações relevantes.
O presente estudo visou avaliar o impacto de diversas dietas no controle glicêmico e nos desfechos gestacionais.
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Metodologia
Foi feita uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos randomizados (ECR) com busca em base de dados eletrônicas no período de 2007 até 03 de setembro de 2024. Os desfechos primários analisados foram glicose sérica de jejum (GJ), glicose pós prandial de 2h (GPP – 2h), resistência insulínica pelo índice HOMA-IR e desfechos gestacionais tais como: cesárea, macrossomia, parto prematuro, hipertensão gestacional e hipoglicemia neonatal.
Os critérios de inclusão foram: pacientes com diagnóstico de DMG confirmado em teste de tolerância oral à glicose (TTGO) com uma ou mais medidas alteradas: Jejum de 92,1h após de 180 ou 2h após de 153 mg/dl.
A dietas avaliadas nos estudos poderiam ser isoladas ou combinadas e foram as seguintes: dieta de baixo índice glicêmico (Low-GI), dieta de baixa carga glicêmica (Low-GL), dieta com baixa ingesta de carboidratos (low-Carb), dieta para redução da hipertensão (DASH-diet) e dieta padrão.
Os critérios de exclusão foram estudos com participantes com outras desordens endócrinas, estudos que avaliaram dietas associadas a outras intervenções tais como atividade física ou tratamento farmacológico, estudos que não avaliaram os desfechos propostos ou estudos com erros/dados ausentes.
Resultados:
Foram selecionados 28 ECRs com 2666 participantes, com análise dos 7 tipos diferentes de dieta. 19 estudos avaliaram dieta de baixo índice glicêmico (Low-GI), 4 estudos avaliaram dietas para reduzir Hipertensão (DASH diet), 4 estudos analisaram dieta low-carb (low-carb), 1 examinou a dieta de baixa carga glicêmica (Low GL) e 1 examinou a combinação entre dieta DASH e low-carb.
Além disso, 26 estudos avaliaram a GJ, 21 estudos avaliaram a GPP-2h e 10 estudos avaliaram a resistência insulínica, todos antes e após a intervenção. Adicionalmente, 10 avaliaram a chance de cesárea, 12 avaliaram a ocorrência de macrossomia, 8 examinaram hipertensão gestacional e 6 analisaram partos prematuros.
A idade das pacientes variou de 26 a 35 anos, com média de 30,26 anos. O IMC foi reportado em 16 estudos variando de 21,2 a 33,4 kg/m2, com média de 25,9 kg/m2 e idade gestacional do diagnóstico de DMG variando entre 24 e 32 semanas.
Na glicemia de jejum, as dietas DASH e low-GI foram as mais eficazes. Na GPP-2h e na resistência insulínica, a dieta DASH foi a mais eficaz na redução de ambos os parâmetros.
Em relação aos desfechos materno-fetais: a dieta DASH foi a mais eficaz na redução de cesáreas. Já para redução de macrossomia, as dietas DASH e low-GI foram as mais eficazes.
A dieta low-GI também foi a mais eficaz na redução de hipertensão gestacional e na chance de parto prematuro.
De um modo geral, A dieta DASH se mostrou a mais eficaz no controle glicêmico ao reduzir glicemia de jejum (GJ) e resistência insulínica (HOMA-IR). Tanto a dieta DASH quando a low-GI reduziram desfechos gestacionais, sendo que a DASH foi mais eficaz na redução de cesáreas enquanto a low-GI foi mais eficaz na redução do risco de macrossomia.
Veja também: Diabetes mellitus gestacional (DMG) [vídeo]
Discussão:
A presente revisão e meta-análise mostrou que a dieta DASH foi a mais eficaz no controle glicêmico em relação as demais dietas quando foram avaliados os seguintes parâmetros: GJ, GPP-2h e resistência insulínica pelo HOMA-IR. As dietas DASH e low-GI também foram eficazes na redução dos desfechos materno-fetais como cesárea, macrossomia e hipertensão gestacional que estão fortemente associados a um pior controle glicêmico.
Os mecanismos que explicam a superioridade da dieta DASH em relação às demais, podem ser atribuídos a uma dieta com vasta gama de micro e macronutrientes, além de modulação da microbiota intestinal com regulação importante na homeostase glicêmica. Além disso, também é uma dieta que contribui para o metabolismo lipídico, saúde vascular e redução da inflamação crônica que estão fortemente associados a resistência insulínica.
O presente estudo apesar de ter pontos de força a exemplo da eficaz comparação entre diversos tipos de dieta, também contou com algumas limitações tais como heterogeneidade dos grupos estudados, pequenas amostras populacionais com baixo poder estatístico de análise e grau de evidência de baixo a moderado para alguns desfechos, o que não permite confirmar com precisão os achados avaliados.
Conclusão e mensagem prática:
A presente meta-análise sugere que as dietas DASH e low-GI podem ser benéficas no manejo do diabetes mellitus gestacional. A DASH foi a mais eficaz no controle glicêmico enquanto também assumiu liderança junto com a low-GI na redução dos desfechos gestacionais como cesárea e risco de macrossomia, respectivamente.
Entretanto, mais estudos de grande escala são necessários para confirmar tais achados de forma a otimizar as recomendações dietéticas no tratamento do DMG.
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