Diagnóstico de DMG com glicemia de jejum versus teste de tolerância oral à glicose
No último sábado, dia 06 de julho de 2024, o Rio de Janeiro contou com o evento regional Diabetes Rio, que apresentou diversas palestras sobre esse grande tema que envolve o diabetes mellitus.
Uma das aulas foi ministrada pela Dra. Lenita Zajdenverg e trouxe um assunto bem relevante para a prática clínica do endocrinologista: diagnóstico de diabetes mellitus gestacional (DMG) no primeiro trimestre com glicemia de jejum (GJ) versus teste de tolerância oral à glicose (TOTG) no segundo trimestre: diferenças em relação a complicações obstétricas e neonatais.
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Introdução
O diabetes mellitus gestacional é definido como qualquer grau de redução da tolerância à glicose cujo início ou detecção ocorre durante a gravidez. O diagnóstico é realizado por busca ativa de maneira precoce com glicemia de jejum ao acaso ou com o teste específico entre 24-28 semanas de gestação com o TOTG.
Evidências mostradas na palestra
De modo inicial, a Dra. Lenita abordou um estudo francês de 2018 que mencionava que bebês grandes para idade gestacional (GIG), com paralisia e Erb ou fratura de clavícula foram mais frequentes quando o DMG foi diagnosticado antes da 22 semana de gestação. Já outro estudo conduzido na Maternidade Escola da UFRJ concluiu que gestantes com GJ entre 92-99 mg/dl sem fatores de risco e sem intervenção precoce evoluíram de maneira similar àquelas que apresentavam GJ normal.
Sendo assim, foi interrogado ao público se a intervenção precoce seria capaz de mudar os desfechos materno-fetais.
Baseado em análises de mais estudos, foi observado que das gestantes diagnosticadas precocemente com DMG, mais de 50% precisaram de insulinoterapia em média 10 semanas após o diagnóstico, ou seja, antes do período de realização do TOTG.
Em relação à abordagem terapêutica, um grande estudo da The New England Journal of Medicine, citado pela Dra. Lenita, mostrou que 1/3 de mulheres com diagnóstico de DMG precoce, e que não sofreram intervenção, também não confirmaram DMG com o TOTG entre 24-28 semanas, principalmente aquelas que foram diagnosticadas com glicemias de jejum levemente alteradas.
Sendo assim, a análise de subgrupos sugeriu que o maior benefício de tratamento precoce se dava para pacientes com faixa glicêmica mais alta ou quando hiperglicemia havia sido identificada antes de 14 semanas de gestação, diminuindo desfechos materno-fetais.
A interrogação da palestrante foi: Seria necessário um novo consenso para diagnóstico e abordagem terapêutica do DMG?
Em encontro do International Association od Diabetes antes Pregnancy Study Groups (IADPSG), a proposta final foi a seguinte: indicar TOTG antes de 20 semanas para gestantes com fatores de risco, utilizar valores de corte mais altos que os do TOTG de 24-28 semanas e considerar aspectos regionais como recursos, custos e perspectivas assistenciais.
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Considerações finais e mensagem prática
A avaliação da glicemia de jejum é de extrema importância para diagnosticar e tratar precocemente o DM diagnosticado na gestação, porém o DMG preoce com GJ entre 92-125 mg/dl abrange uma heterogeneidade de fenótipos.
Então será que um novo consenso deve aumentar os valores de corte? E, no caso do Brasil, teríamos como avaliar os fatores de risco e realizar o TOTG ainda no primeiro trimestre?
A palestra se encerra ainda com lacunas a preencher, porém com reflexões importantes acerca de um tema tão prevalente na Endocrinologia.
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