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Endocrinologia22 junho 2024

ADA 2024: Uso de novas tecnologias no controle da hiperglicemia hospitalar

Um dos estudos apresentados avaliou o uso de monitores contínuos de glicemia e seu impacto na mortalidade a curto prazo em pacientes internados por covid-19.

À exemplo das últimas edições, vários estudos de impacto estão sendo apresentados no congresso da American Diabetes Association (ADA 2024), bem como excelentes atualizações e revisões. 

Um dos principais destaques desse primeiro dia de congresso foi a sessão de novos estudos abordando o uso de novas tecnologias em diabetes no contexto da hiperglicemia hospitalar. Nessa sessão, alguns estudos menores foram apresentados devido ao limite de tempo, porém foram interessantes dados preliminares que podem indicar novos caminhos e futuro para novas pesquisas. Aqui, trazemos os destaques desta sessão. 

Monitores contínuos de glicemia (CGMs) e seu impacto na internação em pacientes críticos com covid-19 

Um dos estudos apresentados foi um ensaio clínico randomizado unicêntrico chinês que avaliou, de forma prospectiva e open label, o uso de monitores contínuos de glicemia (CGM) e seu impacto na mortalidade a curto prazo em pacientes internados por covid-19. O estudo ainda não foi publicado. 127 pacientes críticos, internados em UTI por covid-19 e com DM2 foram incluídos, randomizados 1:1 para o grupo CGM vs. monitorização glicêmica através da glicemia capilar. (os que perderam os sensores foram excluídos). O objetivo primário foi avaliação da mortalidade em 28 dias na UTI, enquanto os desfechos secundários principais foram tempo de internação na UTI e ocorrência de hipoglicemias (graves ou não). O tipo de CGM utilizado foi o Libre, um modelo intermitente (flash), enquanto o grupo monitorização fez uso de um glicosímetro AccuChek, tendo suas glicemias capilares monitoradas 5x ao dia. 

Quanto aos participantes, vale ressaltar que apenas cerca de 25% em ambos os grupos tinham diagnóstico prévio de DM. 

Ao final, os dados relativos ao valores glicêmicos nos grupos foram os seguintes, no grupo CGM e no grupo glicemia capilar, respectivamente: 

a) Glicemia de jejum média: 108 mg/dL vs 139 mg/dL (RR -1,69; IC 95%; -1,65 a -1,73) 

b) Média diária: 124 mg/dL vs 151 mg/dL (RR -1,50; IC 95%; -1,47 a -1,53) 

c) Variabilidade glicêmica: 25,2% vs 33,7% (RR 0,75; IC 95%; 0,71-0,79) 

Houve redução no tempo de internação em UTI no grupo CGM (10 vs 14 dias, sem significância estatística devido a amostragem pequena) e também no número de episódios de hipoglicemia (43 vs 164) ou hipoglicemias graves (16 vs. 65). 

Quanto ao desfecho primário, o autor não abordou exatamente os números, mas informou que houve redução na mortalidade naqueles que necessitaram de oxigênio. Os mecanismos que levaram ao resultado não foram discutidos, tampouco a diferença entre pacientes com ou sem diabetes. 

O estudo é interessante para levantar hipóteses, mas é necessário com certeza uma amostragem maior e exposição mais clara dos dados principais do estudo. 

Protocolo hospitalar de insulinoterapia integrado ao uso de CGM em Stanford 

O segundo estudo da sessão foi apresentado pela Dra. Susan M. Seav, abordando a implementação de um protocolo institucional (Universidade de Stanford) para uso de insulina intrahospitalar, com base no uso de CGM. Foi preciso criar um protocolo para explicar o que é um CGM, estabelecer quando é seguro manter e retirar, para posteriormente analisar o impacto da ferramenta. 

Em primeiro lugar, a equipe de enfermagem deveria checar glicemia capilar. Validações de acurácia deveriam ser realizados 1 ou 2x ao dia (seguindo a regra de 20%/20, definida nos guidelines da ADA e pelo FDA – se glicemia acima de 70%, o CGM deve estar numa margem de erro de 20% e se menor que 70 mg/dl, até 20 mg/dl de diferença), com necessidade de checagem da glicemia capilar se glicemia < 70 mg/dl ou maior que 350 mg/dl. Ainda, o CGM deveria ser retirado caso necessidade de realização de TC, presença de situações como anemia grave ou outras situações de impacto na acurácia. 

O protocolo incluía abas no prontuário que permitiam selecionar qual CGM estava sendo utilizado e, a partir daí, instruía quantas aferições diárias seriam necessárias. Além disso, havia uma tabela automatizada para a validação, onde bastava adicionar o valor da glicemia capilar e o valor encontrado na aferição do CGM para comparação automática e conclusão sobre a validação ou não. Caso o sensor não tivesse uma validação adequada, as informações do mesmo não deveriam ser utilizadas. 

No estudo, 135 pacientes que utilizaram o protocolo foram incluídos. A média de idade foi de 58 anos. 52% tinha DM2, 27% com DM1. Os três diagnósticos mais comuns de admissão foram infecções, causas cardiovasculares ou oncológicas. 

A experiência dos pacientes foi positiva. Além disso, 27 enfermeiras também responderam sobre sua satisfação com o protocolo, sendo que 80% destas acharam melhor o novo sistema do que a monitorização baseada unicamente em glicemia capilar.  

A acurácia dos sensores (MARD) foi, em média, 9,64%, com 88% de validações adequadas.   

A conclusão foi de que a criação de protocolos institucionais que integrem o uso de CGMs e aplicação de insulina é possível, factível e pode trazer benefícios para os pacientes e até mesmo para a própria equipe de cuidado. 

Confira os destaques do ADA 2024!

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